Nosso
idioma, o português, é considerado uma língua latina por ser derivado
do latim, antiga língua do Império Romano. Também por isso chamamos de
América Latina, a parte do continente americano composta por países onde
as línguas oficiais são originadas do latim: português, espanhol e
francês. O fato de usarmos uma língua latina nos obriga a recorrer ao
latim para redescobrirmos o sentindo de algumas palavras, cujo uso
cotidiano acaba ocultando ou confundindo.
Assim, a palavra alegria deriva do latim alacer ou alacris,
que para além do sentido imediato de alegre, significa também vivo,
esperto, ardente, cheio de entusiasmo ou ardor, características próprias
da infância ou da juventude e que agora queremos aproximar da
Filosofia.
À primeira vista isso parece difícil, pois a imagem que a
Filosofia construiu na modernidade parece não rimar com alegria. Hoje no
Orkut temos 46 comunidades relacionados com a busca “eu odeio
Filosofia”. A maior delas, conta com a participação de mais de 1800
membros.
Já
para “eu amo Filosofia”, surgem 46 comunidades, mas com menos
participantes, a maior delas com 757. É fácil notar também que entre
esses amantes da Filosofia, grande parte a encara de forma muito
diversa, a primeira comunidade, por exemplo, está classificada como
"religiões e crenças", ou seja, muito distante do que a Filosofia tenta
produzir desde sua origem. Também é possível perceber a Filosofia como
modo de vida ligado a um ritmo musical como na comunidade “Eu amo
Filosofia reggae”.
É fácil concluir que entre os internautas é mais comum encontrar
sentimentos de ódio do que de amor a Filosofia. Provavelmente as pessoas
que desenvolveram este tipo de sentimento tiveram experiências
desmotivantes com a Filosofia em alguma instituição de ensino. Por isso
temos as comunidades “eu odeio aula de Filosofia” ou “eu odeio meu prof
de Filosofia”.
O
fato é que este incômodo com a Filosofia pode indicar duas coisas.
Primeiro, houve um contato com a Filosofia, mas se permaneceu no seu
“gosto amargo”, como quando ela destrói nossas certezas e não
conseguimos colocar nada no lugar. Segundo, e mais provável, não houve
contato com a Filosofia, mas com métodos e estratégias que colocaram
para os alunos objetivos impenetráveis, distantes, muitas vezes
reduzidos a reprodução de sua história.
O
mesmo ocorre com uma série de outros conhecimentos muito mais odiados
do que a Filosofia. A campeã da cólera estudantil, é claro, é a
Matemática, mas os internautas odeiam mais a Educação Física, Português,
Física, Química, História e Geografia do que a Filosofia.
Quem faz isso? A própria escola moderna com seus jogos de verdades e poderes.
Mas existe uma certa contradição em se falar de ódio à Filosofia. A etimologia, estudo da origem da palavra grega philosophia mostra isso, pois philo quer dizer amor e sophia,
sabedoria. Amor à sabedoria é uma relação de atração pelo saber, uma
relação que proporciona prazer e alegria. Portanto se alguém pensa que
odeia a Filosofia ainda não foi apresentado a ela, mas a alguma coisa
mascarada de Filosofia. Está confundindo a Filosofia com a didática do
professor, com a dificuldade de um texto repleto de palavras estranhas,
com as exigências das avaliações, com as práticas que se exercem nas
escolas.
Há quem pense ser a Filosofia algo impossível para pessoas pouco
instruídas, crianças e jovens e por isso mesmo sempre a apresentam
estendendo uma mão fria, como quem conta uma história de terror. Quem
procede assim é porque criou certa relação com ela e acredita que todos
terão essa mesma impressão. No entanto, a experiência com Filosofia
sempre produz novidades, singularidades, diferenças, mas principalmente
alegria e nada mais atual do que as palavras do filósofo francês Michel
de Montaigne que percebia esse nosso problema já no século XVI:
É estranho que em nosso tempo a Filosofia não seja, até para gente
inteligente, mais do que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem
valor, na teoria como na prática. Creio que isso se deve aos raciocínios
capciosos [enganadores] e embrulhados com que lhe atopetaram o caminho.
Faz-se muito mal em a pintar como inacessível aos jovens, e em lhe
emprestar uma fisionomia severa, carrancuda e temível. Quem lhe pôs tal
máscara falsa, lívida [pálida], hedionda [repulsiva, horrível]? Pois não
há nada mais alegre, mais vivo e diria quase divertido. Tem ar de festa
e folguedo. Não habita onde haja caras tristes e enrugadas(MONTAIGNE,
1972, p. 86).
Fonte:www.viverafilosofia.blogspot.com.br
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