Filosofia Circular

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Filosofia da alegria

 
 
 Nosso idioma, o português, é considerado uma língua latina por ser derivado do latim, antiga língua do Império Romano. Também por isso chamamos de América Latina, a parte do continente americano composta por países onde as línguas oficiais são originadas do latim: português, espanhol e francês. O fato de usarmos uma língua latina nos obriga a recorrer ao latim para redescobrirmos o sentindo de algumas palavras, cujo uso cotidiano acaba ocultando ou confundindo.

Assim, a palavra alegria deriva do latim alacer ou alacris, que para além do sentido imediato de alegre, significa também vivo, esperto, ardente, cheio de entusiasmo ou ardor, características próprias da infância ou da juventude e que agora queremos aproximar da Filosofia.

À primeira vista isso parece difícil, pois a imagem que a Filosofia construiu na modernidade parece não rimar com alegria. Hoje no Orkut temos 46 comunidades relacionados com a busca “eu odeio Filosofia”. A maior delas, conta com a participação de mais de 1800 membros.

Já para “eu amo Filosofia”, surgem 46 comunidades, mas com menos participantes, a maior delas com 757. É fácil notar também que entre esses amantes da Filosofia, grande parte a encara de forma muito diversa, a primeira comunidade, por exemplo, está classificada como "religiões e crenças", ou seja, muito distante do que a Filosofia tenta produzir desde sua origem. Também é possível perceber a Filosofia como modo de vida ligado a um ritmo musical como na comunidade “Eu amo Filosofia reggae”.

É fácil concluir que entre os internautas é mais comum encontrar sentimentos de ódio do que de amor a Filosofia. Provavelmente as pessoas que desenvolveram este tipo de sentimento tiveram experiências desmotivantes com a Filosofia em alguma instituição de ensino. Por isso temos as comunidades “eu odeio aula de Filosofia” ou “eu odeio meu prof de Filosofia”.

O fato é que este incômodo com a Filosofia pode indicar duas coisas. Primeiro, houve um contato com a Filosofia, mas se permaneceu no seu “gosto amargo”, como quando ela destrói nossas certezas e não conseguimos colocar nada no lugar. Segundo, e mais provável, não houve contato com a Filosofia, mas com métodos e estratégias que colocaram para os alunos objetivos impenetráveis, distantes, muitas vezes reduzidos a reprodução de sua história.

O mesmo ocorre com uma série de outros conhecimentos muito mais odiados do que a Filosofia. A campeã da cólera estudantil, é claro, é a Matemática, mas os internautas odeiam mais a Educação Física, Português, Física, Química, História e Geografia do que a Filosofia.
Quem faz isso? A própria escola moderna com seus jogos de verdades e poderes.

Mas existe uma certa contradição em se falar de ódio à Filosofia. A etimologia, estudo da origem da palavra grega philosophia mostra isso, pois philo quer dizer amor e sophia, sabedoria. Amor à sabedoria é uma relação de atração pelo saber, uma relação que proporciona prazer e alegria. Portanto se alguém pensa que odeia a Filosofia ainda não foi apresentado a ela, mas a alguma coisa mascarada de Filosofia. Está confundindo a Filosofia com a didática do professor, com a dificuldade de um texto repleto de palavras estranhas, com as exigências das avaliações, com as práticas que se exercem nas escolas.

Há quem pense ser a Filosofia algo impossível para pessoas pouco instruídas, crianças e jovens e por isso mesmo sempre a apresentam estendendo uma mão fria, como quem conta uma história de terror. Quem procede assim é porque criou certa relação com ela e acredita que todos terão essa mesma impressão. No entanto, a experiência com Filosofia sempre produz novidades, singularidades, diferenças, mas principalmente alegria e nada mais atual do que as palavras do filósofo francês Michel de Montaigne que percebia esse nosso problema já no século XVI:
É estranho que em nosso tempo a Filosofia não seja, até para gente inteligente, mais do que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem valor, na teoria como na prática. Creio que isso se deve aos raciocínios capciosos [enganadores] e embrulhados com que lhe atopetaram o caminho. Faz-se muito mal em a pintar como inacessível aos jovens, e em lhe emprestar uma fisionomia severa, carrancuda e temível. Quem lhe pôs tal máscara falsa, lívida [pálida], hedionda [repulsiva, horrível]? Pois não há nada mais alegre, mais vivo e diria quase divertido. Tem ar de festa e folguedo. Não habita onde haja caras tristes e enrugadas(MONTAIGNE, 1972, p. 86).
Fonte:www.viverafilosofia.blogspot.com.br

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