Filosofia Circular

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O existencialismo de Sartre


 

“Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”, ou ainda;
"O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós." JEAN PAUL SARTRE (1905-1980).
Antes de chegar nesta tão celebre frase, Sartre passou por toda uma construção anterior desse pensamento desembocando posteriormente no pensamento conhecido como existencialista. Em L´Imaginaire desenvolve um pensamento separativista da percepção e da imaginação, em L´Être et le néant contesta o subconsciente freudiano desvinculando-se do determinismo religioso,e  no qual no decorrer da leitura vê-se o cerne da idéia posterior de responsabilizar o homem pelos seus próprios atos expondo a idéia de liberdade como um aprisionamento do ser (“Não somos livres de ser livres”) já que o homem é o único ser capaz de criar o nada:
 “Ao tomar uma decisão, percebo com angústia que nada me impede de voltar atrás. Minha liberdade é o único fundamento dos valores.”
Desta forma gera no homem a angustia de saber que nada o impede de voltar atrás, o medo de arcar com sua própria liberdade. Assim, condenados a uma liberdade insatisfatória, jamais alcançando o que realmente desejamos sendo, portanto, uma liberdade irrealizável.
A Existência precede a essência?
Para o pensamento de Sartre Deus não existe, portanto o homem nasce despido de tudo, qual seja um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem, o que significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la, a única natureza pré-existente é a biológica, ou seja; a sobrevivência, o resto se adquire de tal forma que não vem do sujeito é ensinado a ele pelo mundo exterior.
Se Deus não existe não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim não teremos justificativa para nosso comportamento. Estamos sós, sem desculpas.
É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre (pensamento desenvolvido em o ser e o nada). Condenado, porque não se criou a si mesmo, mas por estar livre no mundo  estamos condenados a ser livres, mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é, ou seja;
“Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.
O homem é aquilo que ele mesmo faz de si, é a isto que chamamos de subjetividade. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo é de por todo o homem na posse do que ele é e de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Para o existencialista não ter a quem culpar já que Deus não existe, e o subconsciente não existe é o que leva ao pensamento da liberdade não livre, pois, junto com eles, desaparecem toda e qualquer possibilidade de encontrar valores inteligíveis, nem um modelinho pré-definido a ser cumprido.
          


  A fórmula "ser livre" não significa "obter o que se quer", e sim "determinar-se a escolher". Segundo Sartre o êxito não importa em absoluto à liberdade. Um prisioneiro não é livre para sair da prisão, nem sempre livre para desejar sua libertação, mas é sempre livre para tentar escapar.
            Sendo livres somos responsáveis por nossas ações consequentemente somos livres para pensar e conceber nossos próprios paradigmas, não sendo então aquilo que fizeram de nós e sim nos criando a partir do que fizeram de nós. Somos o que escolhemos ser.
Referência:
http://orbita.starmedia.com/~jeanpaulsartre/ acesso em 23/03/06.
Jean Paul Sartre, O ser e o nada.

Leila Caroline Jaronski, graduanda em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba.
Fonte: www.meuartigo.brasilescola.com

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A essência do conservadorismo

 
 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFPoQaz-0WCURDB95D9gKFiQXYTMzV0jEj8p_sq5SLD23nXlvGHkQCd4rQprmTvpuQiR9tuKSCZM1rAIcqNaSGfi1Ep7ctQsNLBIeGed8xC88SkEcC-wnZPgBRzBPryvd6w1cMbx5vQgAX/s1600/conservadorismo+(1).jpg
 O conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito.

Uma amiga minha, a quem chamaremos senhorita Worth, teve uma conversa com uma vizinha – senhora Williams, digamos – que, no dia anterior, havia vendido um belo prédio antigo, há muito tempo pertencente à sua família, o qual seria demolido para que muitos automóveis usados fossem postos a venda no lugar. A senhora Williams tinha certos arrependimentos; mas, disse ela em caráter definitivo, “você não pode parar o progresso”. Ela ficou surpresa com a resposta da senhorita Worth, que foi esta: “Não, muitas vezes não; mas você pode tentar”.
A Senhorita Worth não acreditava que o Progresso, com P maiúsculo, é uma coisa boa em si mesma. O Progresso pode ser bom ou mau, dependendo da direção a qual se está progredindo. É perfeitamente possível, e não raramente ocorre, de se progredir em direção à beira de um precipício. O pensamento conservador, jovem ou antigo, acredita que todos nós devemos obedecer à lei universal da mudança; mas muitas vezes está em nosso poder escolher quais mudanças aceitaremos e quais mudanças rejeitaremos. O conservador é uma pessoa que se esforça para conservar o que há de melhor em nossas tradições e em nossas instituições, conciliando o que é melhor com a reforma necessária de tempos em tempos.
“Conservar” significa “salvar”... (Considere) a maldição do cupido:
Aqueles que mudam o amor antigo pelo novo, oram aos deuses para mudá-lo para pior.”
Um conservador não é, por definição, um egoísta ou uma pessoa estúpida; em vez disso, ele é uma pessoa que acredita que há alguma coisa em nossa vida que vale a pena salvar.
Conservadorismo, na verdade, é uma palavra com um significado antigo e honrado – mas, um significado quase esquecido pelos americanos até anos recentes. Abraham Lincoln queria ser conhecido como um conservador. “O que é o conservadorismo?”, disse ele. “Não é a preferência pelo antigo e experimentado, acima do novo e do não testado?” É isso; e é também um corpo de convicções éticas e sociais. Porém, a palavra “liberalismo” tem sido preferida entre nós por duas ou três décadas. Mesmo hoje em dia, embora haja um bom número de conservadores nas políticas nacional e estadual, em nenhum grande partido muitos líderes políticos descrevem a si mesmos como “conservadores”. Paradoxalmente, o povo dos Estados Unidos se tornou a principal nação conservadora do mundo exatamente quando deixou de chamar a si mesmo de conservador em seu próprio país.
No entanto, com a nossa severa oposição ao radicalismo dos soviéticos e nosso repúdio nacional do coletivismo em todas as suas variedades, um bom número de americanos agora têm muitas dúvidas quanto ao desejo de serem chamados liberais ou radicais. Os liberais, por um bom tempo, foram derivando para a esquerda em direção a seus primos radicais; e o liberalismo, nos últimos anos, passou a significar um anexo para o Estado centralizado e para a impessoalidade sombria do Brave New World, de Huxley, ou de 1984, de Orwell. Homens e mulheres que não se consideram liberais ou radicais estão começando a perguntar a si mesmos no que acreditam e do que deveriam se chamar. O sistema de ideias opostas ao liberalismo e ao radicalismo é a filosofia política conservadora.
O que é o Conservadorismo?
O conservadorismo moderno tomou forma por volta do início da Revolução Francesa, quando homens de grande visão na Inglaterra e na América perceberam que, se a humanidade existe para conservação dos elementos da civilização que tornam a vida digna de ser vivida, algum corpo coerente de ideias deve resistir ao nivelamento e ao impulso destrutivo de revolucionários fanáticos. Na Inglaterra, o fundador do verdadeiro conservadorismo foi Edmund Burke, cujas Reflections on the Revolution in France mudaram o rumo da opinião pública britânica e influenciaram incalculáveis líderes da sociedade no Continente e na América. Nos recém-criados Estados Unidos, os fundadores da República, conservadores por formação e por experiência prática, estavam determinados a moldar a Constituição que deveria guiar a sua posteridade em caminhos duradouros de justiça e liberdade. Nossa Guerra de Independência Americana não foi uma revolução real, mas antes uma separação da Inglaterra; estadistas de Massachusetts e da Virgínia não desejavam virar a sociedade de cabeça para baixo. Em seus escritos, sobretudo nos trabalhos de John Adams, Alexander Hamilton e James Madison, nós encontramos um conservadorismo sóbrio e provado, fundado sobre uma compreensão da história e da natureza humana. A Constituição que os líderes daquela geração elaboraram tem provado ser o dispositivo conservador mais bem sucedido em toda a história.
Os líderes conservadores, desde Burke e Adams, subscreveram certas ideias que podemos demonstrar, resumidamente, mediante definição. Os conservadores desconfiam do que Burke chamou “abstrações” - isto é, absolutos dogmas políticos divorciados da experiência prática e das circunstâncias particulares. Eles acreditam, todavia, na existência de certas verdades permanentes que regem a conduta da sociedade humana. Talvez, os princípios mais importantes que têm caracterizado o pensamento conservador americano são estes:
1. Homens e nações são governados por leis morais; e essas leis têm a sua origem em uma sabedoria superior à humana – a justiça divina. No fundo, problemas políticos são problemas morais e religiosos. O estadista sábio procura apreender a lei moral e reger sua conduta adequadamente. Nós temos uma dívida moral para com nossos antepassados, que nos concederam nossa civilização, e um dever moral para as gerações que virão depois de nós. Esta dívida foi ordenada por Deus. Portanto, não temos o direito de, impudentemente, mexer com a natureza humana ou com tecido delicado de nossa ordem social civil.
2. Variedade e diversidade são as características de uma grande civilização. Uniformidade e igualdade absoluta são a morte de todo verdadeiro vigor e liberdade na existência. Conservadores resistem, com imparcial virilidade, à uniformidade de um tirano ou de uma oligarquia e à uniformidade a qual Tocqueville chamou “despotismo democrático”.
3. Justiça significa que todo homem e toda mulher têm direito ao que lhes é próprio – às coisas que melhor se adaptam à sua própria natureza, às recompensas de sua capacidade e integridade, à sua propriedade e à sua personalidade. A sociedade civilizada requer que todos os homens e mulheres tenham direitos iguais diante da lei, mas essa igualdade não deve se estender à igualdade de condição: isto é, a sociedade é uma grande associação, na qual todos têm direitos iguais – mas não para igualar coisas. A sociedade justa requer liderança sólida, recompensas diferentes para habilidades diferentes e um senso de respeito e dever.
4. Propriedade e liberdade são inseparavelmente conectadas; nivelamento econômico não é progresso econômico. Os conservadores valorizam a propriedade para seu próprio interesse, é claro; mas a valorizam muito mais porque, sem ela, todos os homens e mulheres estão a mercê de um governo onipotente.
5. O poder é repleto de perigos; portanto, o bom estado é aquele no qual o poder é controlado e equilibrado, restringido por constituições e costumes sólidos. Na medida do possível, o poder político deve ser mantido nas mãos de instituições privadas e locais. A centralização é normalmente um sinal de decadência social.
6. O passado é um grande depósito de sabedoria; como Burke disse, “o indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia.” Os conservadores acreditam que precisamos nos guiar pelas tradições morais, pela experiência social e por todo o complexo corpo de conhecimentos legados a nós por nossos antepassados. Os apelos conservadores estão para além da opinião precipitada do momento, pela qual Chesterton os denominava de “a democracia dos mortos” - isto é, as opiniões consideradas dos homens e mulheres sábios que morreram antes de nosso tempo, a experiência da espécie humana. O conservador, em suma, sabe que não nasceu ontem.
7. A sociedade moderna necessita urgentemente de uma verdadeira comunidade: e verdadeira comunidade é um mundo distante do coletivismo. A comunidade autêntica é regida por amor e caridade, não por força. Através de igrejas, associações voluntárias, governos locais e uma variedade de instituições, os conservadores se esforçam para manter a comunidade saudável. Os conservadores não são egoístas, mas zelosos do bem-estar público. Eles sabem que o coletivismo significa o fim da comunidade genuína, e substituem uniformidade por variedade e força por cooperação voluntária.
8. Nos assuntos das nações, o conservador americano acredita que seu país deve ser um exemplo para o mundo, mas que não deve tentar reconstruir o mundo à sua imagem. É uma lei da política, bem como da biologia, que todo ser vivente ama, acima de tudo – até mesmo acima de sua própria vida –, sua identidade distintiva, que o diferencia de todos os outros seres. O conservador não aspira à dominação do mundo, nem aprecia a perspectiva de um mundo reduzido a um padrão único de governo e de civilização.
9. Os conservadores sabem que homens e mulheres não são perfectíveis; e nem o são as instituições políticas. Nós não podemos criar um paraíso na Terra, embora possamos fazer um inferno. Somos todos criaturas nas quais bem e mal estão misturados; e, quando as boas instituições negligenciam e ignoram os antigos princípios morais, o mal tende a predominar em nós. Por isso, o conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito. Quando o progresso é alcançado, o é através do reconhecimento prudente das limitações da natureza humana.
10. Os conservadores estão convencidos de que mudança e reforma não são idênticas: inovação política e moral pode ser tanto destrutiva como benéfica; e se a inovação é empreendida com espírito de presunção e entusiasmo, provavelmente será desastrosa. Todas as instituições humanas, em certa medida, se alteram de época para época, pois o lento processo de mudança é o meio de conservar a sociedade, exatamente como é, para o corpo humano, o meio de sua renovação. Mas, os conservadores americanos se esforçam para conciliar o crescimento e as modificações essenciais para nossa vida com a força de nossas tradições sociais e morais. Com Lord Falkland, eles dizem: “quando não é necessário mudar, é necessário não mudar.” Eles entendem que homens e mulheres são mais satisfeitos quando podem sentir que vivem em um mundo estável de valores duradouros.
O conservadorismo, então, não é simplesmente o interesse das pessoas que têm muitas propriedades e influência; não é simplesmente a defesa de privilégios e de status. A maioria dos conservadores não são nem ricos nem poderosos. Porém, eles fazem até mesmo o mais simples deles obter grandes benefícios de nossa República estabelecida. Eles têm liberdade, segurança pessoal e de sua casa, igual proteção das leis, o direito aos frutos de sua indústria e oportunidade para fazer o melhor que neles há. Eles têm um direito de personalidade em vida e um direito de consolo na morte. Os princípios conservadores são o abrigo das esperanças de todos na sociedade. E o conservadorismo é um importante conceito social para todo aquele que deseja justiça igualitária e liberdade pessoal e todos os amáveis caminhos antigos da humanidade. O conservadorismo não é simplesmente uma defesa do “capitalismo”.
(“Capitalismo”, na verdade, é uma palavra cunhada por Karl Marx, projetada desde o início para significar que a única coisa defendida pelos conservadores é a grande acumulação de capital privado.) Mas, o que o verdadeiro conservador faz corajosamente é defender a propriedade privada e uma liberdade econômica, ambas para seu próprio bem e porque elas são meios para atingir grandes fins.
Esses grandes fins são mais do que econômicos e políticos. Eles envolvem dignidade humana, personalidade humana, felicidade humana. Eles envolvem até mesmo o relacionamento entre Deus e o homem. Pois o coletivismo radical de nossa época é ferozmente hostil a qualquer outra autoridade: o radicalismo moderno detesta a fé religiosa, a virtude privada, a individualidade tradicional e a vida de satisfações simples. Tudo o que vale a pena ser conservado está ameaçado em nossa geração. A mera oposição negativa e irracional à corrente de acontecimentos, agarrando-se com desespero ao que ainda mantemos, não será suficiente nesta época. Um conservadorismo de instinto deve ser reforçado por um conservadorismo de pensamento e imaginação.
Fonte:  www.iserfundamentos.blogspot.com.br



Original adaptado de The Intelligent Woman’s Guide to Conservatism (New York: The Devin-Adair Company, 1957).

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O mundo automático


 

O melhor dos mundos seria esse que temos hoje, para muitos não, falta ainda degraus de evolução para chegar a este patamar, no entanto podemos visualizar um mundo mais organizado no futuro com uma disciplina de ordem e respeito ao capitalismo, ou seja, a humanidade vai se robotizar em prol de uma unidade social como já havia previsto desenhos animados de heróis e filmes do estilo 1984, Matriz e muitos outros.
Então vem a pergunta essencial para termos o melhor dos mundos temos que perder a humanidade? desde a revolução industrial este caminho está sendo percorrido sendo o piloto de uma série que vem se aproximando, quem dera não fosse verdade mas é inevitável os sinais estão por todos os lados, com a dependência cada vez do homem de maquinas chegara o momento que ela vai pensar pela gente, como podemos ver a partir da invenção de todo tipo de aparelho inteligente, o que poderá mudar isso?.
Autor: Alex Cunha Paiva

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Filosofia da alegria

 
 
 Nosso idioma, o português, é considerado uma língua latina por ser derivado do latim, antiga língua do Império Romano. Também por isso chamamos de América Latina, a parte do continente americano composta por países onde as línguas oficiais são originadas do latim: português, espanhol e francês. O fato de usarmos uma língua latina nos obriga a recorrer ao latim para redescobrirmos o sentindo de algumas palavras, cujo uso cotidiano acaba ocultando ou confundindo.

Assim, a palavra alegria deriva do latim alacer ou alacris, que para além do sentido imediato de alegre, significa também vivo, esperto, ardente, cheio de entusiasmo ou ardor, características próprias da infância ou da juventude e que agora queremos aproximar da Filosofia.

À primeira vista isso parece difícil, pois a imagem que a Filosofia construiu na modernidade parece não rimar com alegria. Hoje no Orkut temos 46 comunidades relacionados com a busca “eu odeio Filosofia”. A maior delas, conta com a participação de mais de 1800 membros.

Já para “eu amo Filosofia”, surgem 46 comunidades, mas com menos participantes, a maior delas com 757. É fácil notar também que entre esses amantes da Filosofia, grande parte a encara de forma muito diversa, a primeira comunidade, por exemplo, está classificada como "religiões e crenças", ou seja, muito distante do que a Filosofia tenta produzir desde sua origem. Também é possível perceber a Filosofia como modo de vida ligado a um ritmo musical como na comunidade “Eu amo Filosofia reggae”.

É fácil concluir que entre os internautas é mais comum encontrar sentimentos de ódio do que de amor a Filosofia. Provavelmente as pessoas que desenvolveram este tipo de sentimento tiveram experiências desmotivantes com a Filosofia em alguma instituição de ensino. Por isso temos as comunidades “eu odeio aula de Filosofia” ou “eu odeio meu prof de Filosofia”.

O fato é que este incômodo com a Filosofia pode indicar duas coisas. Primeiro, houve um contato com a Filosofia, mas se permaneceu no seu “gosto amargo”, como quando ela destrói nossas certezas e não conseguimos colocar nada no lugar. Segundo, e mais provável, não houve contato com a Filosofia, mas com métodos e estratégias que colocaram para os alunos objetivos impenetráveis, distantes, muitas vezes reduzidos a reprodução de sua história.

O mesmo ocorre com uma série de outros conhecimentos muito mais odiados do que a Filosofia. A campeã da cólera estudantil, é claro, é a Matemática, mas os internautas odeiam mais a Educação Física, Português, Física, Química, História e Geografia do que a Filosofia.
Quem faz isso? A própria escola moderna com seus jogos de verdades e poderes.

Mas existe uma certa contradição em se falar de ódio à Filosofia. A etimologia, estudo da origem da palavra grega philosophia mostra isso, pois philo quer dizer amor e sophia, sabedoria. Amor à sabedoria é uma relação de atração pelo saber, uma relação que proporciona prazer e alegria. Portanto se alguém pensa que odeia a Filosofia ainda não foi apresentado a ela, mas a alguma coisa mascarada de Filosofia. Está confundindo a Filosofia com a didática do professor, com a dificuldade de um texto repleto de palavras estranhas, com as exigências das avaliações, com as práticas que se exercem nas escolas.

Há quem pense ser a Filosofia algo impossível para pessoas pouco instruídas, crianças e jovens e por isso mesmo sempre a apresentam estendendo uma mão fria, como quem conta uma história de terror. Quem procede assim é porque criou certa relação com ela e acredita que todos terão essa mesma impressão. No entanto, a experiência com Filosofia sempre produz novidades, singularidades, diferenças, mas principalmente alegria e nada mais atual do que as palavras do filósofo francês Michel de Montaigne que percebia esse nosso problema já no século XVI:
É estranho que em nosso tempo a Filosofia não seja, até para gente inteligente, mais do que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem valor, na teoria como na prática. Creio que isso se deve aos raciocínios capciosos [enganadores] e embrulhados com que lhe atopetaram o caminho. Faz-se muito mal em a pintar como inacessível aos jovens, e em lhe emprestar uma fisionomia severa, carrancuda e temível. Quem lhe pôs tal máscara falsa, lívida [pálida], hedionda [repulsiva, horrível]? Pois não há nada mais alegre, mais vivo e diria quase divertido. Tem ar de festa e folguedo. Não habita onde haja caras tristes e enrugadas(MONTAIGNE, 1972, p. 86).
Fonte:www.viverafilosofia.blogspot.com.br

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Homem, a Angústia e sua Existência

 


Para a abordagem do tema de angústia precisamos antes nos localizarmos no contexto do Existencialismo.
  A proposta é a de entender o Existencialismo como especulação filosófica que visa a análise minuciosa da experiência humana em todos os seus aspectos teóricos e práticos, individuais e sociais, instintivos e intencionais, mas acima de tudo dos aspectos irracionais da vida humana.
Encontramos as origens do Existencialismo em Sören Aabye Kierkegaard (1813 -1855). Embora suas idéias filosóficas só tenham sido reconhecidas após a tradução de suas obras nos anos de 1909/1922 por Christoph Schrempf, o sucesso de suas idéias após a chamada "Renascença Kierkegaardiana" foi tanto que quase todos os autores da época a ele fizeram referência.

Além da tradução, a situação histórica tornou-se uma aliada de Kierkegaard. A primeira Guerra Mundial mostrou a vacuidade de todos os sistemas filosóficos para dar conta de uma compreensão sobre a complexidade da problemática humana.
Favorecem a sua difusão:
· O fracasso dos grandes ideais humanitários, calcados no progresso, derrubando a previsão do positivismo;
· O ambiente de insegurança e pessimismo ideológico gerado pela técnica e pela ciência, que dá origem a uma angústia vital.

Esta filosofia apresentou aos vivos e sobreviventes as interrogações que lhes eram pertinentes e próprias: qual é o sentido da existência? Da morte? Da dor? Da liberdade? Do desespero? Da angústia?
O Existencialismo é uma filosofia que considera a existência como ponto de partida para a sua reflexão.
Mas, o que significa existir? O que significa exatamente a afirmação "eu existo"? Será uma simples experiência de fato da minha existência? Em que, então, o fato da minha existência difere do fato da existência de outros seres animados ou inanimados? Será a existência o fato primordial a partir do qual os outros fatos adquirem sentido - o fato da existência dos outros, da existência do mundo, da existência de Deus?
O fato da existência pode ser indubitável. Já o sentido e a interpretação da existência não são únicos e indubitáveis, ao contrário, são diversos e diferentes.

Emmanuel Mounier em seu livro "Introdução aos Existencialismos" apresenta uma classificação dos filósofos existencialistas, recorrendo à metáfora de uma árvore. Na raiz da árvore estão: Sócrates, filósofo da Antiga Grécia fazendo apelo ao "conhece-te a ti mesmo"; os estóicos gregos e romanos, enaltecendo o domínio humano de si próprio, face às adversidades da vida e do destino; São Bernardo propondo um cristianismo vivido e que leve o homem à sua conversão religiosa, face às sistematizações teóricas da religião vigentes em sua época.
No tronco da árvore estão os filósofos franceses: Pascal, relembrando que o desenvolvimento dado às ciências naturais havia feito esquecer o homem diante da vida e da morte; Maine de Biran, mostrando que á preciso compreender o homem enquanto uma unidade corpo-alma, refutando, assim, as filosofias dualistas ou monistas de tipo sensualista. Está ainda o filósofo dinamarquês Kierkegaard, considerado pelos historiadores como o pai da filosofia existencialista moderna, mostrando como a razão é importante para, sozinha, justificar o sentido da existência humana; ela necessita de Deus que vem em auxílio do homem que se encontra no abandono injustificado. Encontra-se ainda, neste tronco a fenomenologia que, desde o seu fundador, o alemão Edmund Husserl, toma como objeto principal da filosofia o projeto de constituição da ciência do vivido, Erlebniz. Esta ciência difere das ciências positivas no estudo do homem, pois nestas o homem é apenas considerado em seu aspecto factual e objetivo. A ciência do vivido deve abordar o vivido nele mesmo, isto é, enquanto consciência, subjetividade, corporeidade, historiedade e liberdade.
Do tronco da árvore separam-se dois galhos. Um que se desenvolve com os autores de inspiração religiosa, influenciados direta ou indiretamente pela fenomenologia existencial. Dentre esses autores citamos: Max Scheller, Karl Jasper, Paul-Louis Landsberg, Nicolas Berdiaeff, Gabriel Marcel e o próprio Emmanuel Mounier. O outro galho que se desenvolve com os autores que se afastam explicitamente das inspirações religiosas: Jean Paul Sartre, Martin Heidegger, Maurice Merleau-Ponty, Jean Hippolyte, Simone de Beauvoir, Albert Camus.

Existem alguns traços comuns em todos esses autores para que possamos agrupá-los sob a denominação de existencialistas. Todos concordam que a filosofia da existência seja a negação da filosofia concebida como sistemas da existência no que esta possui de mais fundamental e concreto, os momentos vividos.
Todos concordam, também, que a existência não pode ser conhecida nela mesma como um dado objetivo da ciência: o caráter essencial da existência é a subjetividade. Assim, não se pode definir ou conceituar a subjetividade como faz a ciência natural. Só se pode descrevê-la, apreendê-la e compreendê-la sob a forma de uma história pessoal, dirá Kierkegaard, ou sob a forma da Temporalidade, dirá Heidegger.
Seguindo estas indicações podemos dizer que o existencialismo é um humanismo.

Seguindo a indicação de N. Herpin pode-se dizer que o humanismo existencial aparece em duas vertentes. A primeira que se caracteriza pela "filosofia do absurdo" com os temas, dentre outros, da angústia e da contingência. A segunda que se caracteriza pela "filosofia da liberdade" com os temas do projeto humano e da vivência de valores, dentre outros.
Vejamos o que significam estas duas vertentes:
1) A filosofia do absurdo - "se opõe às concepções clássicas que justificavam a existência do mundo e do homem por uma razão imanente ou por uma providência divina = noção de harmonia pré-estabelecida na própria natureza = cosmos". Aqui citamos Kierkegaard.
2) A filosofia da liberdade - põe em realce as noções do projeto existencial e de vivência de valores. Aqui citamos Sartre, homem = nada "a liberdade como condenação. Heidegger, Dasein "facticidade e transcendência.

Kierkegaard
A verdadeira realidade é o existente, singular. E o singular que lhe interessa é o singular homem, porque somente ele é verdadeiramente singular. Somente o homem singular vale mais que a espécie, ao contrário do que acontece entre os animais, onde o indivíduo vale sempre menos que sua espécie (vive por instinto). Somente o singular humano tem consciência de sua singularidade (pensar é doloroso e é uma forma de provocar a angústia), como ser eu em meio a todos? Chegou a desejar que por sobre a sua campa se colocasse a inscrição: "aquele singular". Consequentemente a verdade é subjetividade e bem longe de ser a "adequação da mente com a coisa" é a adequação do objeto com minha subjetividade, com as mais profundas exigências do indivíduo que eu sou e quero ser. Quanto mais passional minha ligação com a coisa, tanto mais verdadeira. E quanto menos ela é evidente à razão, tanto mais certa. A realidade é irracional por ser singular.

É por isso que ele se opunha à mentalidade de seu tempo que via no socialismo e no comunismo a panacéia dos males da sociedade. O princípio associativo pode ter valor em relação aos interesses materiais, mas é espiritualmente nocivo. Não pode haver igualdade neste mundo como sonham os socialistas porque lhe é própria a diferenciação.
E vocês sabem disso porque tentam unir homem e mundo enquanto vivência pessoal, na tentativa de salvaguardar o indivíduo num mundo em que a sociedade não passa de um conjunto de criaturas animais que se parecem com o rebanho - À sociedade importa que cada um de nós seja como os outros" a clonagem é um fato. É considerado normal quem aceita e se adapta aos padrões e valores comumente recebidos; um excêntrico e/ ou rebelde quem os recusa e combate.

Deste modo, o convite Kierkegaardiano é que sejamos verdadeiros eus .
Para Kierkegaard o absurdo implica no distanciamento da subjetividade das concepções que atribuem à razão o papel de realizadora de um sistema racional do mundo. O indivíduo é uma subjetividade que não pode encontrar o seu fundamento em nenhum sistema racional. A ética religiosa, que repousa na fé em Deus é quem pode explicar o fundamento da existência humana. O absurdo é o "lugar do silêncio", ou seja, o lugar de Deus, bem como a distância que há entre a subjetividade finita do homem e a pessoa infinita de Deus.

No pensamento de Kierkegaard, Abraão é o exemplo vivo do herói absurdo. Sem saber porque, Abraão oferece a Deus o sacrifício de seu filho Isaac. Mas, este absurdo é revelador de Deus. Com efeito, no momento exato em que se daria o sacrifício, um anjo aparece a Isaac sustando a sua ação. Deus reconheceu a fidelidade e o amor de Abraão para com Ele, pois, na sua prova, seria capaz de sacrificar o seu filho bem amado Isaac.
É preciso lembrar, portanto, que a revelação de Deus não vem tranqüilizar ou consolar o homem. Ela instaura o sentimento da angústia existencial. O homem existente se prova na inquietação e na angústia existencial. O homem existente se prova na inquietação e na angústia, como no exemplo de Abraão. Por isto é que Kierkegaard define esta angústia como "síncope da liberdade". Assim, liberdade e angústia se unem na existência. O homem é livre, em sua vida, para optar e escolher. No entanto, não há opção sem angústia. Ao escolher deixo de lado outras coisas sem ter certeza de que a escolha foi a melhor ou será bem sucedida. Quando escolho sou eu quem me escolho, pois toda opção é feita em função de uma opção interior, pela qual eu julgo que irei me realizar. No entanto, a escolha é um "salto no escuro". Não posso ter certeza a priori de que a escolha é boa, como já disse acima. Mas esta escolha não é feita arbitrariamente. Ela deve ser motivada pela busca da verdade.

A busca da verdade é a questão filosófica essencial, pensa Kierkegaard. Não se trata de uma verdade abstrata ou formal. É uma verdade vital, verdade para mim, verdade pela qual eu quero viver e morrer.
Neste sentido é que se diz que a verdade é vivida antes de ser objeto do juízo lógico. Esta verdade é expressão do modo de existir autêntico que só a vida cristã, diz Kierkegaard, é capaz de compreender, com tudo o que ela implica de angústia e dilaceração.

O existir autêntico supõe compromisso e risco. Na minha vida concreta eu busco uma verdade vivida, e esta vai expressar-se em meu comportamento cotidiano. Por isto a verdade é fruto da ação e não de um pensamento teórico, segundo Kierkegaard. A angústia existencial não leva o homem à solidão, ao individualismo, à incomunicabilidade ou à doutrina da salvação e da redenção.
Este existir autêntico me faz buscar o singular, mas não acontece sem sofrimento. Ninguém é ele mesmo sem antes querer sê-lo em sua liberdade. Daí a angústia porque ninguém pode fugir a este sentimento que acompanha toda escolha.

A Condição Humana
A porta de acesso à condição humana é a experiência da angústia, nisto concordam todos os existencialistas.
O que é? Sob o ponto de vista subjetivo, a angústia é uma experiência extremamente intensa com uma nota emocional absolutamente peculiar. Nela misturam-se admiração, espanto, terror, exaltação, náusea e sublimidade. O caso de Abraão, por exemplo, demonstra espanto e sublimidade.
O objetivo da experiência da angústia é que diverge.
a) realidade da existência = angústia de ser = angústia do nada
b) particularidade ou individualidade humana = angústia do aqui e agora
c) liberdade humana = angústia da liberdade

Em síntese, angústia é desespero. E o homem só sai do desespero quando orientando-se para si próprio, querendo ser ele próprio, o eu mergulha, através de sua própria transparência, até o poder que o criou", (Desespero Humano). Deus não pode estar numa realidade transcendente, mas em mim. Somos mais íntimos de Deus do que de nós mesmos.

Filósofa Rita Josélia da Capela Pinheiro
Doutora e Mestre em filosofia e Professora
da UERJ e da Universidade Gama Filho
Fonte: www.existencialismo.ong.br

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Filosofia do tédio

O TÉDIO

Cena do filme Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrik, em que o personagem principal é submetido a um programa experimental de controle  da agressividade. A história se passa na cidade de Londres, em um futuro não muito distante, onde gangues de rua atormentam os cidadãos. Após a lavagem cerebral, ele passa a sentir insuportáveis crises de náusea  toda  vez que sente desejo de agir violentamente. A estratégia do governo é combater um afeto ( a ira) com outro afeto        (o nojo). A náusea é um estado de alarme, uma reação do corpo contra algo que se aproxima, mas que não pode ser assimilado. O filme coloca em questão os limites da vontade humana frente às paixões.


  É uma tarefa da filosofia atual traçar uma outra intrepetração dos afetos e do proprio pensar. Para isso está ocorrendo um processo de reavaliação da imagem de homem como " animal racional", cujo sentir e cujo pensar moram em casas separadas. A filosofia contemporânea tende a defender a concepção de que todo ser humano já é marcado de significação e de racionalidade. Inversamente, todo pensar é desde sempre afinado por alguma disposição afetiva. Numa passagem  do curso sobre Nietzsche de 1936-37, Heidegger afirma: "o homem não é uma essência pensante, que também quer algo, e que além do pensar e do querer ainda se acrescenta o sentir, seja para embelezamento ou para enfreiamento, mas sim que o estado do sentimento  é o originário, mas de tal forma que pensar  e querer pertençam a ele" ( Nietzsche, I, p.63).
  A filosofia nos séculos XX e XXI busca reinterpretar os sentimentos, paixões e afetos não mais como estados subjetivos, passivos e  inferiores, como fonte de engano moral ou cognitivo, mas como algo que pertence estruturamente à constituição   do existir.  Estamos sempre em alguma ambiencia afetiva, como, por exemplo, a alegria, a tristeza ou a cólera, mesmo quando essas atmosferas não se deixam reconhecer como tal. Até mesmo a suposta inderteminação  que se instaura no tédio ou na indiferença não deve mais ser descrita como uma mera "ausencia de humor". Ao contrário, trata-se de uma das formas de "afeto" em que encontramos com maior frequencia. Essa nova perspectiva, mais positiva, sobre as paixões parece conduzir a filosofia na atualidade a reassumir o significado originário de seu próprio nome: amor ao saber.
  Segundo Heidegger, no parágrafo 18 do curso Conceitos Fundamentais da Metafísica (1929), o tédio é o afeto mais determinante da nossa época. Tão determinante que passa sempre desapercebido. O que é o tédio? Heidegger distingue dois tipos, um mais superficial, com uma causa determinada, como quando nos entendiamos com um livro, um filme, com a espera interminável de um ônibus ou com  a conversa sem graça de alguém numa festa. Existe, entretanto, em "tédio profundo", que não tem nenhuma causa específica, mas que cobre todas as coisas e a nós mesmos como uma névoa. A band de rock biquíni Cavadão fez sucesso nos anos 1980 com uma música sobre o tema:
"sabe esses dias em que as horas dizem nada
E você nem troca o pijama, preferia estar na cama
O dia, a monotonia tomou conta de mim.
É o tédio, cortando os meus programas, esperando meu fim"
(tédio, 1985)
  O tédio é o sentimento de vazio, é a sensação de que o mundo como um todo perdeu a importância, de que o tempo pesa. O trabalho e a diversão são formas de mantermo-nos ocupados e de fugir ao tédio. Mas o que há de tão assustador no tédio? O refrão da música do Biquíni Cavadão enfatiza a relação entre tédio e  morte:
"Tédio, não tenho um programa
Tédio, esse é o meu drama
O que corrói é o tédio
Um dia, eu fico sério
 Me atiro desse prédio."
  O tédio é apavorante porque nos coloca diante de nós mesmos : seres que existem e que deixam de existir sem que possa dizer porque. Contudo, o tédio profundo pode ser também uma excelente oportunidade de reavaliação de todos os valores, de redescoberta do mundo, de reconquista de si. Entregar-se ao tédio é recusar estratégica e provisoriamente o tempo cotidiano, com seus peuqenos e grandes afazeres. Como nos versos de Fernando Pessoa: 

" Aproveitar o tempo!                                                                                                                                    
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou
de ser!...
Deixem-me ser uma folha  de árvore, titilada pela 
brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha  ,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto
não vêem outras,
O pião do garoto, que vai a parar,   
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino"
(Apostila, 1928)        

  É preciso muita coragem para deixar o tédio profundo se instalar sem recorrer a táticas evasivas, tais como o trabalho, a conversa ou as distrações. Mergulhado no tédio profundo corre-se mais riscos do que praticando qualquer esporte de ação, tal como pular de parapente ou praticar canoagem, mas o resultado pode ser ainda mais radical: alterações surpreendentes da existência.
esses desenhos foram feitos por um aluno profundamente entediado, durante uma aula do curso de direito. As figuras estilizadas transmitem uma atmosfera de aprisionamento e de vazio.
Fonte: www.saberfilosofiasaber-filosofia.blogspot.com.br