Depois
da guerra de 1914-1918, os países que mais sofreram com aquele conflito
bélico estimularam formas de pensamento que pudessem justificar o
descontentamento geral. A procura do bode expiatório foi uma constante.
Como esses países haviam entrado na guerra com entusiasmo exaltado, a
derrota causou profunda decepção no povo, sobretudo, nos segmentos de
classe média. Acostumada a uma retórica eufórica, ao gosto pelos riscos e
pelos golpes, a população não se acalmou com o pós-guerra; antes, ao
contrário, contribuiu para a preparação da Segunda Grande Guerra.
Empobrecidos,
desmoralizados, não tardou muito o aparecimento de líderes autoritários
e carismáticos, sendo os dois maiores Benito Mussolini e Adolfo HitIer e
outros menores como Franco e Salazar. Porém, essa liderança não teria
alcance se não tivesse encontrado respaldo político para suas idéias.
Esse respaldo veio das classes médias e setores conservadores da
intelectualidade.
A influência maior no pensamento autoritário veio de HegeI.
Segundo esse filósofo alemão, o chefe político é ó intermediário entre a
Nação e a História. O chefe é quem faz a História. Daí não foi difícil a
Mussolini e a Hitler se sentirem condutores da história.
As idéias de Hobbes
também contribuíram para o pensamento autoritário. Com algumas
variantes, em casos particulares, são as seguintes as caraccterísticas
do pensamento político autoritário:
O
fascismo onde se tornou vitorioso, em geral através de golpes de Estado,
aboliu as eleições. Depois do golpe conclamou o povo para apoiá-Io no
poder através de plebiscito. Todas as formas de atos escusos foram
utilizadas: suborno, intrigas, conspirações secretas e manobras de todos
os tipos.
Algumas doutrinas autoritárias
Facismo
O principal teórico do fascismo italiano foi Giovanni Gentile (187551944). Sua obra Os Fundamentos da Filosofia do Direito, 1916, foi inspirada na idéia do Estado de HegeI. Esta obra serviu para justificar o ordenamento do Estado Italiano.
Para Gentile, o Estado é o responsável pela criação do direito e da moral.
Assim
concebido, o Estado abole a doutrina dos direitos do homem e do direito
natural. Na doutrina fascista o Direito do homem é aquele que o Estado
lhe confere.
Outro
influente fascista foi Georges Sorel, sindicalista transformado em
"intelectual". Foi ele quem elaborou a doutrina sindical fascista.
Sorel
tentou unificar o interesse público e o interesse privado, fazendo
apologias da violência, que segundo ele, provocaria a solidariedade
entre os operários. Em 1906 publicou Reflexões sobre a Violência. Não era italiano, mas normando. Mussolini o citava em toda oportunidade.
Politicamente,
o fascismo italiano não tinha uma unidade doutrinária, política e
programática. O próprio Benito Mussolini achava desnecessária uma
doutrina unitária, porquanto o fascismo era entendido como um movimento.
A afirmação do Duce é sintomática: "nós não acreditamos em programas
dogmáticos ( ... ). Nós nos permitimos o luxo de ser aristocráticos e
democráticos, conservadores e progressistas, reacionários e
revolucionários, legalistas e não-legalistas, de acordo com as
circunstâncias do momento, do lugar e do ambiente".
Nazismo
A filosofia política do
nazismo recebeu contribuição teórica de diferentes matizes.
Juridicamente, Julius Binder e KarI Larenz, influenciados pela
compreensão hegeliana de Estado como espírito absoluto, deram garantias
institucionais ao autoritarismo alemão. Julius Binder escreveu Filosofia do Direito e Sistema da Filosofia de Direito.
Forneceram também
subsídios à doutrina nazista: Ernst Maritz Arndt (1769-1860); Friedrich
Ludwig Jahn (1778-1852); Houston Stewart ChammberIain (1855-1927). Este
último, no livro Os Fundamentos do Século XX, divulgou o
ideário racista segundo o qual o homem nórdico é o ariano puro. Dietrich
Eckart (1868-1923), Alfred Rosenberg (1893-1946), Joseph Gorbbbelo,
foram os principais teóricos atuantes do nazismo.
Esses intelectuais,
além de suas atividades normais, escreviam panfletos, planejavam
espetáculos propagandísticos, além de elaborar slogans e palavras de
ordem.
Colaborou, também, na elaboração da doutrina nazista, a Filosofia de Nietzsche com sua glorificação do super-homem. Diz-se atualmente que a Filosofia de Nietzsche
não teve qualquer influência no nazismo. Suas obras, entretanto, muito
divulgadas e lidas, nunca tiveram o crivo da censura, nem foram
queimadas em imensas fogueiras como aconteceu com as obras de Thomas
Mann, Freud, Einstein, Zola, Gide, HelenKelIer, Erick Maria Remarque,
Proust, Opton Sinchair, H. G. WeIls, Stefan Sweig e tantos outros.
A música de Wagner destacava a mística do herói germânico ao gosto do repertório nazista.
O livro A Decadência do Ocidente,
de Oswald Spengler (4.a ed. 1934), publicado em 1918, teve milhares de
exemplares vendidos. Livro de fácil leitura, nele o autor associa fatos
históricos com doutrinas filosóficas, procurando mostrar que toda
cultura tem fases que vão da infância à velhice. A Filosofia de
Nietzsche e a poesia de Goethe foram os modelos de Spengler. Para o
autor do livro, a época em que escrevia correspondia à decadência.
Dois filósofos foram
acusados de não terem compreendido o nazismo nem a Filosofia que o
antecedeu. São eles Gyorgy Luckács (1885-1971) e George Santayana
(1863-1953).
Luckács, no seu livro Die Zerstorung der Vernunft,
afirma que há uma evolução linear nas idéias que conduziram ao fascismo
e ao nazismo. Para Luckács foi o nacionalismo alemão responsável por
aquelas doutrinas autoritárias. Os filósofos apontados como inspiradores
são: Schelling, Schopenhauer, Kierkegaard, Dilthey, Simmel, Spengler,
ScheIler, Heidegger, Jaspers, KIages, Max Weber, Mannheim e Rosenberg.
O filósofo tomista norte-americano, Santayana, no seu livro O Egotismo na Filosofia Alemã (1942), atribui às idéias de Goethe, Kant, Fichte, Nietzsche e Schopenhauer a responsabilidade da aventura militar prussiana da Primeira Guerra Mundial.
O intelectual e o Pensamento Político Autoritário
As
forças econômicas, sociais e políticas, representadas nas atividades
dos intelectuais (juristas, economistas, etc.), podem contribuir para a
manutenção de uma política autoritária, conforme a visão de Karl
Mannheim.
"Sempre
que a concentração de poder se torna excessiva, transforma-se em
convite à tirania nas situações críticas. O poder tem suas metamorfoses.
As vezes, apresenta-se desnudo, mas geralmente se disfarça em poder
econômico ou administrativo, de propaganda ou de educação. Isto nos
permite compreender que a vigilância democrática exige que, seja qual
for a forma como se nos apresenta o poder, o povo se dê conta da sua
onipresença e dos seus perigos potenciais.
Um
dos mais perigosos abusos de poder consiste em insuflar o medo,
procurando provocar o pânico para aproveitar-se da confusão. Por
exemplo: os banqueiros e os magnatas das finanças, quando desconfiam de
um governo que não lhes agrada, instigam, às vezes, uma perda geral de
confiança, daí resultando uma fuga de capitais. Mesmo sem levar em conta
as origens e as formas dessas influências, que solapam a liberdade
democrática, é necessário que sejam combatidas com medidas adequadas.
Poder-se-á objetar que essas medidas provocarão uma arregimentação
indesejável e o fim da sociedade 'livre'. Podemos apenas replicar que
nenhuma limitação deve ser imposta às medidas que visem a salvaguardar a
base estrutural da liberdade e da democracia. Ademais, democracia
não significa que devam ser tratados da mesma maneira os seus amigos e
inimigos, nem signfica incapacidade de distinguir entre os controles
destinados a combater a tirania ou a favorecê-Ia. Dizer que os controles
são sempre prejudiciais à liberdade é criar confusões. Temos que fazer
distinção entre controles benéficos e maléficos, e proporcionar medidas
de proteção contra os segundos em forma democrática. Numa sociedade em
que os órgãos da opinião pública estão à disposição de todos, com
freqüência é suficiente a denúncia pública do perigo para conjurá-Ia. A
sabotagem representada pela evasão de capitais pode ser contrabalançada
por uma opinião pública bem informada e alertada. Não há limites à
inventiva no campo dos controles democráticos, em contraste com os
métodos brutais dos Estados policiais." (Karl Mannheim. Liberdade, Poder e Planificação. Mestre Jou. São Paulo, pp. 159-160.)
Henrique Nielsen Neto
Capítulo 7 do Livro FILOSOFIA BÁSICA (Parte Inicial)
ATUAL EDITÔRA LTDA - 2ª Edição - São Paulo - 1985
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domingo, 18 de novembro de 2012
O Pensamento Político Autoritário
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