Filosofia Circular

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O contrato social

 
 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) foi um importante intelectual do século XVIII para se pensar na constituição de um Estado como organizador da sociedade civil assim como se conhece hoje. Para Rousseau, o homem nasceria bom, mas a sociedade o corromperia. Da mesma forma, o homem nasceria livre, mas por toda parte se encontraria acorrentado por fatores como sua própria vaidade, fruto da corrupção do coração. O indivíduo se tornaria escravo de suas necessidades e daqueles que o rodeiam, o que em certo sentido refere-se a uma preocupação constante com o mundo das aparências, do orgulho, da busca por reconhecimento e status. Mesmo assim, acreditava que seria possível se pensar numa sociedade ideal, tendo assim sua ideologia refletida na concepção da Revolução Francesa ao final do século XVIII.
A questão que se colocava era a seguinte: como preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar da vida em sociedade? Segundo Rousseau, isso seria possível através de um contrato social, por meio do qual prevaleceria a soberania da sociedade, a soberania política da vontade coletiva.
Rosseau percebeu que a busca pelo bem-estar seria o único móvel das ações humanas e, da mesma, em determinados momentos o interesse comum poderia fazer o indivíduo contar com a assistência de seus semelhantes. Por outro lado, em outros momentos, a concorrência faria com que todos desconfiassem de todos. Dessa forma, nesse contrato social seria preciso definir a questão da igualdade entre todos, do comprometimento entre todos. Se por um lado a vontade individual diria respeito à vontade particular, a vontade do cidadão (daquele que vive em sociedade e tem consciência disso) deveria ser coletiva, deveria haver um interesse no bem comum.
Este pensador acreditava que seria preciso instituir a justiça e a paz para submeter igualmente o poderoso e o fraco, buscando a concórdia eterna entre as pessoas que viviam em sociedade. Um ponto fundamental em sua obra está na afirmação de que a propriedade privada seria a origem da desigualdade entre os homens, sendo que alguns teriam usurpado outros. A origem da propriedade privada estaria ligada à formação da sociedade civil. O homem começa a ter uma preocupação com a aparência. Na vida em sociedade, ser e parecer tornam-se duas coisas distintas. Por isso, para Rousseau, o caos teria vindo pela desigualdade, pela destruição da piedade natural e da justiça, tornando os homens maus, o que colocaria a sociedade em estado de guerra. Na formação da sociedade civil, toda a piedade cai por terra, sendo que “desde o momento em que um homem teve necessidade do auxílio do outro, desde que se percebeu que seria útil a um só indivíduo contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, a propriedade se introduziu, o trabalho se tornou necessário” (WEFFORT, 2001, p. 207).
Daí a importância do contrato social, pois os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural (quando o coração ainda não havia corrompido, existindo uma piedade natural), necessitariam ganhar em troca a liberdade civil, sendo tal contrato um mecanismo para isso. O povo seria ao mesmo tempo parte ativa e passiva deste contrato, isto é, agente do processo de elaboração das leis e de cumprimento destas, compreendendo que obedecer a lei que se escreve para si mesmo seria um ato de liberdade.
Dessa maneira, tratar-se-ia de um pacto legítimo pautado na alienação total da vontade particular como condição de igualdade entre todos. Logo, a soberania do povo seria condição para sua libertação. Assim, soberano seria o povo e não o rei (este apenas funcionário do povo), fato que colocaria Rousseau numa posição contrária ao Poder Absolutista vigente na Europa de seu tempo. Ele fala da validade do papel do Estado, mas passa a apontar também possíveis riscos da sua instituição. O pensador avaliava que da mesma forma como um indivíduo poderia tentar fazer prevalecer sua vontade sobre a vontade coletiva, assim também o Estado poderia subjugar a vontade geral. Dessa forma, se o Estado tinha sua importância, ele não seria soberano por si só, mas suas ações deveriam ser dadas em nome da soberania do povo, fato que sugere uma valorização da democracia no pensamento de Rousseau.
Fonte: www.brasilescolacom.br

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Lévinas - o filósofo da alteridade


 

Sua vida teve começo na Lituânia, em Kaunas, janeiro de 1906. Herdeiro de uma cultura judaica cresceu em um ambiente em que as vozes soavam russo e hebraico, idiomas falados e estudados em sua casa. Aos nove anos de idade Lévinas sua infância recebia de seu pai, um livreiro, a influencia pelos livros. Foi quando, nesta época, os judeus foram expulsos da Lituânia e sua família foi obrigada a emigrar para a Ucrânia, onde Lévinas fez o curso secundário. Somente em 1929, aos vinte e três anos é que a família volta para Lituânia, porém o filósofo logo resolve morar sozinho, matriculando-se na Universidade de Estrasburgo.
Sua vida intelectual começa por curto período quando se torna seguidor da filosofia do processo de Henry Bérgson, seguido pela escola da fenomenologia de Edmund Husserl, ali estudo de 1928 a 1929, quando encontra Martin Heidegger. Porém, o filósofo segue para França a fim de completar sua primeira obra, A TEORIA DA INTUIÇÃO NA FENOMENOLOGIA DE HUSSERL, onde retém os princípios do método fenomenológico, que são, eminentemente primeiro, uma descrição dos atos do espírito, de sua intencionalidade e de suas afeições (de sua sensibilidade); segundo, uma reflexão a partir do indivíduo. É a partir dessas posições que emerge uma concepção particular de ética, compreendida como o permanente reconhecimento do outro. Também trabalha na tradução MEDITAÇÕES CARTESIANAS. No entanto mantinha distância das interpretações radicais dos textos fenomenológicos.
Nesse período, na França, ensinando na Aliança Israelita Universal, casa-se e nos anos que se seguem teve dois filhos. Conhece o existencialismo religioso de Gabriel Marcel. Surge no meio político o movimento Socialista Nacional, fato que o deixa transtornado, mas o fato que o entristece é o apoio ideológico que Martin Heidegger deu ao partido nazista. Neste momento, Lévinas publica seu primeiro artigo, REFLEXÕES SOBRE A FILOSOFIA DO HITLERISMO na Revista Esprit (Paris, 1934).
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Lévinas faz parte do exército francês como tradutor, pois tinha fluência nas línguas russa e alemã. No entanto, é capturado por volta de 1940 pelo exército alemão, sendo levado como prisioneiro para um campo de trabalhas forçados e não para o campo de concentração por estar de uniforme francês. Sua família em Lituana foi morta ainda nos primeiros anos da guerra. Na França sua esposa e seu primeiro filho foram levados rapidamente para um mosteiro pelo amigo Maurice Blanchot. Durante este tempo escreveu EXISTENTE E EXISTENTES, onde elabora a liberdade do existente sobre o existir. Ele constrói seu pensamento a partir de uma idéia de que consciência precisa das coisas para conceber-se, e as coisas precisam da consciência para ter sentido.
Fim da guerra. Lévinas tornou-se diretor de um instituto de estudos judaicos e durante quatro anos dedicou-se ao estudo intensivo do Talmude que resultou num escrito volumoso sobre JUDEIDADE. 1961 apresenta sua obra TOTALIDADE E INFINIDADE. 1973 ocupou a cátedra de filosofia na Sorbonne, aposentando-se em 1979. Leciona depois na universidade de Paris-Sorbone (1973-1984). Lévinas morreu dia 27 de dezembro de 1995,menos de uma semana antes de seu aniversário de 90 anos. 
Fonte: www.filosofianamente.com.br

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Novelas e sua função no Brasil

 
 
 Na atual conjuntura política e social brasileira, as pessoas seguem mergulhadas inconscientemente num esquema de manipulação. Em nossa opinião, ninguém precisa radicalizar e deixar de assistir sua novela, mas assistir uma novela e deixar de assumir sua responsabilidades, abrindo mão de seu próprio raciocínio e opiniões, deixar de prestar atenção e reclamar dos absurdos e falcatruas que infestam os poderes públicos de nosso país, dando preferência para o capítulo de uma novela, isso é uma doença! É tornar-se um ser humano vítima voluntária de lavagem cerebral. É tornar-se alguém, cuja opinião não tem a menor importância, servindo apenas para realizar e se comportar de acordo com os desejos de uma minoria poderosa.
Deixe de ser um boneco nas mãos de políticos e outros poderosos e passe a exercer sua opinião, seu direito de exigir que políticos e poderosos trabalhem em prol da maioria e não apenas para seus próprios bolsos. Este é um direito que está lhe sendo usurpado diariamente e discretamente, sem que você se dê conta, através de novelas, programas de conteúdo duvidoso, como Faustão etc.
o final das contas, exerça sua opinião! Exerça e exija seus direitos! Exija que se tenha ética! Combater a libertinagem e o descaramento não é podar a liberdade, mas é separar bem liberdade do que tem sido verdadeira LIBERTINAGEM! Estão abusando de você! estão estuprando sua mente e - o pior! - com seu consentimento!
Autor: Alex Cunha Paiva

domingo, 18 de novembro de 2012

O Pensamento Político Autoritário

Depois da guerra de 1914-1918, os países que mais sofreram com aquele conflito bélico estimularam formas de pensamento que pudessem justificar o descontentamento geral. A procura do bode expiatório foi uma constante. Como esses países haviam entrado na guerra com entusiasmo exaltado, a derrota causou profunda decepção no povo, sobretudo, nos segmentos de classe média. Acostumada a uma retórica eufórica, ao gosto pelos riscos e pelos golpes, a população não se acalmou com o pós-guerra; antes, ao contrário, contribuiu para a preparação da Segunda Grande Guerra.

Empobrecidos, desmoralizados, não tardou muito o aparecimento de líderes autoritários e carismáticos, sendo os dois maiores Benito Mussolini e Adolfo HitIer e outros menores como Franco e Salazar. Porém, essa liderança não teria alcance se não tivesse encontrado respaldo político para suas idéias. Esse respaldo veio das classes médias e setores conservadores da intelectualidade.

A influência maior no pensamento autoritário veio de HegeI. Segundo esse filósofo alemão, o chefe político é ó intermediário entre a Nação e a História. O chefe é quem faz a História. Daí não foi difícil a Mussolini e a Hitler se sentirem condutores da história.

As idéias de Hobbes também contribuíram para o pensamento autoritário. Com algumas variantes, em casos particulares, são as seguintes as caraccterísticas do pensamento político autoritário:

  • condena os princípios democráticos, negando o direito de voto a todos os cidadãos; não tolera oposição ao governo;
  • apregoa a necessidade de um partido único;
  • o partido tem como norma a disciplina e a organização de tipo militar, com uniformes e atitudes;
  • insiste na idéia de grandeza nacional;
  • os homens só têm os direitos que o Estado lhes concede;
  • as mulheres não podem freqüentar diversos cursos universitários, sobretudo, Filosofia;
  • posiciona-se contra o feminismo;
  • na Alemanha, a mulher era considerada três K (Kirche, Küche und Kinder) - igreja, cozinha e criança;
  • afirmava com Nietzsche: "a mulher é um problema cuja solução é a gravidez";
  • não reconhece limite moral ou material para a autoridade do Partido;
  • não respeita direitos adquiridos;
  • não tolera liberdade de expressão, instituindo a censura;
  • institucionaliza a tortura e o racismo;
  • considera criminoso quem se opõe ao Partido;
  • aceita o terrorismo para alcançar objetivos desejados;
  • encoraja a delação e a espionagem;
  • incentiva as organizações paramilitares;
  • afirma que o corporativismo acabará com a luta de classes;
  • sustenta a intervenção do Estado na economia;
  • considera "responsáveis" os dirigentes sindicais nomeados pelo Partido.
O fascismo onde se tornou vitorioso, em geral através de golpes de Estado, aboliu as eleições. Depois do golpe conclamou o povo para apoiá-Io no poder através de plebiscito. Todas as formas de atos escusos foram utilizadas: suborno, intrigas, conspirações secretas e manobras de todos os tipos.
 
Algumas doutrinas autoritárias
 
Facismo

O principal teórico do fascismo italiano foi Giovanni Gentile (187551944). Sua obra Os Fundamentos da Filosofia do Direito, 1916, foi inspirada na idéia do Estado de HegeI. Esta obra serviu para justificar o ordenamento do Estado Italiano.
Para Gentile, o Estado é o responsável pela criação do direito e da moral.

Assim concebido, o Estado abole a doutrina dos direitos do homem e do direito natural. Na doutrina fascista o Direito do homem é aquele que o Estado lhe confere.

Outro influente fascista foi Georges Sorel, sindicalista transformado em "intelectual". Foi ele quem elaborou a doutrina sindical fascista.

Sorel tentou unificar o interesse público e o interesse privado, fazendo apologias da violência, que segundo ele, provocaria a solidariedade entre os operários. Em 1906 publicou Reflexões sobre a Violência. Não era italiano, mas normando. Mussolini o citava em toda oportunidade.

Politicamente, o fascismo italiano não tinha uma unidade doutrinária, política e programática. O próprio Benito Mussolini achava desnecessária uma doutrina unitária, porquanto o fascismo era entendido como um movimento. A afirmação do Duce é sintomática: "nós não acreditamos em programas dogmáticos ( ... ). Nós nos permitimos o luxo de ser aristocráticos e democráticos, conservadores e progressistas, reacionários e revolucionários, legalistas e não-legalistas, de acordo com as circunstâncias do momento, do lugar e do ambiente".

Nazismo

A filosofia política do nazismo recebeu contribuição teórica de diferentes matizes. Juridicamente, Julius Binder e KarI Larenz, influenciados pela compreensão hegeliana de Estado como espírito absoluto, deram garantias institucionais ao autoritarismo alemão. Julius Binder escreveu Filosofia do Direito e Sistema da Filosofia de Direito.

Forneceram também subsídios à doutrina nazista: Ernst Maritz Arndt (1769-1860); Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852); Houston Stewart ChammberIain (1855-1927). Este último, no livro Os Fundamentos do Século XX, divulgou o ideário racista segundo o qual o homem nórdico é o ariano puro. Dietrich Eckart (1868-1923), Alfred Rosenberg (1893-1946), Joseph Gorbbbelo, foram os principais teóricos atuantes do nazismo.

Esses intelectuais, além de suas atividades normais, escreviam panfletos, planejavam espetáculos propagandísticos, além de elaborar slogans e palavras de ordem.

Colaborou, também, na elaboração da doutrina nazista, a Filosofia de Nietzsche com sua glorificação do super-homem. Diz-se atualmente que a Filosofia de Nietzsche não teve qualquer influência no nazismo. Suas obras, entretanto, muito divulgadas e lidas, nunca tiveram o crivo da censura, nem foram queimadas em imensas fogueiras como aconteceu com as obras de Thomas Mann, Freud, Einstein, Zola, Gide, HelenKelIer, Erick Maria Remarque, Proust, Opton Sinchair, H. G. WeIls, Stefan Sweig e tantos outros.

A música de Wagner destacava a mística do herói germânico ao gosto do repertório nazista.

O livro A Decadência do Ocidente, de Oswald Spengler (4.a ed. 1934), publicado em 1918, teve milhares de exemplares vendidos. Livro de fácil leitura, nele o autor associa fatos históricos com doutrinas filosóficas, procurando mostrar que toda cultura tem fases que vão da infância à velhice. A Filosofia de Nietzsche e a poesia de Goethe foram os modelos de Spengler. Para o autor do livro, a época em que escrevia correspondia à decadência.

Dois filósofos foram acusados de não terem compreendido o nazismo nem a Filosofia que o antecedeu. São eles Gyorgy Luckács (1885-1971) e George Santayana (1863-1953).

Luckács, no seu livro Die Zerstorung der Vernunft, afirma que há uma evolução linear nas idéias que conduziram ao fascismo e ao nazismo. Para Luckács foi o nacionalismo alemão responsável por aquelas doutrinas autoritárias. Os filósofos apontados como inspiradores são: Schelling, Schopenhauer, Kierkegaard, Dilthey, Simmel, Spengler, ScheIler, Heidegger, Jaspers, KIages, Max Weber, Mannheim e Rosenberg.

O filósofo tomista norte-americano, Santayana, no seu livro O Egotismo na Filosofia Alemã (1942), atribui às idéias de Goethe, Kant, Fichte, Nietzsche e Schopenhauer a responsabilidade da aventura militar prussiana da Primeira Guerra Mundial.
 
O intelectual e o Pensamento Político Autoritário
 
As forças econômicas, sociais e políticas, representadas nas atividades dos intelectuais (juristas, economistas, etc.), podem contribuir para a manutenção de uma política autoritária, conforme a visão de Karl Mannheim.

"Sempre que a concentração de poder se torna excessiva, transforma-se em convite à tirania nas situações críticas. O poder tem suas metamorfoses. As vezes, apresenta-se desnudo, mas geralmente se disfarça em poder econômico ou administrativo, de propaganda ou de educação. Isto nos permite compreender que a vigilância democrática exige que, seja qual for a forma como se nos apresenta o poder, o povo se dê conta da sua onipresença e dos seus perigos potenciais.

Um dos mais perigosos abusos de poder consiste em insuflar o medo, procurando provocar o pânico para aproveitar-se da confusão. Por exemplo: os banqueiros e os magnatas das finanças, quando desconfiam de um governo que não lhes agrada, instigam, às vezes, uma perda geral de confiança, daí resultando uma fuga de capitais. Mesmo sem levar em conta as origens e as formas dessas influências, que solapam a liberdade democrática, é necessário que sejam combatidas com medidas adequadas. Poder-se-á objetar que essas medidas provocarão uma arregimentação indesejável e o fim da sociedade 'livre'. Podemos apenas replicar que nenhuma limitação deve ser imposta às medidas que visem a salvaguardar a base estrutural da liberdade e da democracia. Ademais, democracia não significa que devam ser tratados da mesma maneira os seus amigos e inimigos, nem signfica incapacidade de distinguir entre os controles destinados a combater a tirania ou a favorecê-Ia. Dizer que os controles são sempre prejudiciais à liberdade é criar confusões. Temos que fazer distinção entre controles benéficos e maléficos, e proporcionar medidas de proteção contra os segundos em forma democrática. Numa sociedade em que os órgãos da opinião pública estão à disposição de todos, com freqüência é suficiente a denúncia pública do perigo para conjurá-Ia. A sabotagem representada pela evasão de capitais pode ser contrabalançada por uma opinião pública bem informada e alertada. Não há limites à inventiva no campo dos controles democráticos, em contraste com os métodos brutais dos Estados policiais." (Karl Mannheim. Liberdade, Poder e Planificação. Mestre Jou. São Paulo, pp. 159-160.)

Henrique Nielsen Neto
Capítulo 7 do Livro FILOSOFIA BÁSICA (Parte Inicial)
ATUAL EDITÔRA LTDA - 2ª Edição - São Paulo - 1985

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

PORQUE SOMOS IGNORANTES?


 


Porque nos preocupamos mais com a roupa , com a comida , com o lazer do que com a nossa alma. Porque nos preocupamos mais conosco do que com os nosso filhos. Porque nos preocupamos mais com os outros do que com quem está próximo de nós. Porque nem nos preocupamos em saber o que vem depois.. Porque achamos que ter mais e mais é o que conta. Porque achamos que crianças são crianças. Porque achamos que o fato de ir na igreja todos os Domingos já estamos salvos. Porque achamos que nossa religião é sempre melhor do que a outra. Porque achamos que ser pobre é destino. Porque fazemos de conta que não somos responsáveis pelo que está acontecendo na natureza. Porque ainda somos do tempo que Natal é Papai Noel. Porque ensinamos aos nosso filhos que Páscoa é coelhinho. Porque enchemos a barriga e nem nos damos conta que do nosso lado tem gente passando fome. Porque achamos que fazer política é lutar em benefício próprio. São tantos porquês. Por isso somos ignorante
Autor: Alex Cunha Paiva

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Voltaire e os fundamentos da História




Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet (Paris, 21 de Novembro de 1694 – 30 de Maio de 1778), foi um poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e historiador iluminista francês. Ele defendia a liberdade de ser e pensar diferente. Segundo ele, os primeiros fundamentos de toda história são os relatos dos pais aos filhos, transmitidos em seguida de geração em geração, o que faz com que vão perdendo a credibilidade aos poucos e, por fim, a fábula toma a frente dos fatos e derruba a verdade. Assim, os relatos dos povos antigos estão repletos de exageros.
Um desses exageros está na história de Roma, na qual Rômulo, seu fundador, era filho do deus Marte, que foi amamentado por uma loba e que marchou com mil homens até a aldeia dos sabinos e combatido seus vinte e cinco mil soldados.
Voltaire dizia que, às vezes, as coisas prodigiosas e improváveis devem ser relatadas, mas apenas como provas da credulidade humana, no campo das opiniões e tolices. Para ele, se quisermos conhecer um pouco da história antiga, devemos verificar a existência de monumentos incontestes.
Um desses monumentos citados por Voltaire é a coletânea de observações astronômicas feitas na Babilônia durante 1900 anos seguidos e que foram enviadas à Grécia por Alexandre, o que prova, segundo ele, a existência dos babilônicos vários séculos antes, pois a artes nada mais são do que a obra do tempo.
A utilidade da história, segundo Voltaire, reside no fato de que podemos nos utilizar dos fatos pretéritos, para antever e prevenir eventos futuros. Histórias de tiranos nos alertam para não confiar todo o poder de uma nação à apenas uma pessoa. Eventos com exércitos que foram destruídos pela fome em regiões inóspitas, dizem aos generais para não ir para uma batalha sem suprimentos.
A história moderna mostra claramente, ainda segundo Voltaire, que quando uma nação se acha demasiadamente preponderante, as demais se insurgem contra ela, na tentativa de manter um certo equilíbrio. Esse equilíbrio era desconhecido pelos povos antigos, o que fez com que Roma tivesse o domínio que teve.
Se a história fugir aos olhos das nações, há o perigo de flagelos passados voltarem a atingir a humanidade, pois não haveria nenhuma precaução contra seu ressurgimento. Pestes, guerras, revoluções tornariam a abalar o equilíbrio do mundo.
Voltaire acreditava que, se aniquilassem o estudo da história, a humanidade veria novamente os massacres que tanta dor causou a muitos. Conhecer a história é conhecer o mundo e evitar que atos desumanos voltem a acontecer.
Fonte: VOLTAIRE, A filosofia da história / Voltaire; tradução Eduardo Brandão. – São Paulo : Martins Fontes, 2007. – (Voltaire vive).

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Goethe e a filosofia do mal


 
 O que transforma a obra FAUSTO, de Goethe, em um monumento imorredouro não é apenas a grandiosidade de sua construção e a beleza de seus versos. Nem mesmo o seu tema. George Satayana o classificou como um poema filosófico, ao lado dos poemas de Dante e de Lucrécio. É esse caráter filosófico que lhe eleva acima do seu tempo, mas não apenas. A genialidade de Goethe lhe permitiu fazer a síntese de uma era - os tempos modernos ou a modernidade - e registrar para a posteridade de forma ornamental essa fotografia histórica. O poema é também uma crônica extraordinária.
É preciso olhar a história da filosofia para se dar conta da grandiosidade de Goethe. O Ocidente sofreu uma inflexão filosófica no assim chamado Renascimento, que ocorreu no período que medeia o século XIII e o século XVII. Nesse intervalo a hegemonia do pensamento cristão na Europa ocidental sucumbiu. A filosofia que teve origem em Sócrates, Platão e Aristóteles é questionada e, depois, abandonada. A teologia, que colocava Deus no centro da Criação e o homem como coisa criada, Deus como ser e o homem como ser dele dependente, é jogada no lixo. Descartes, como bem ensinou João Paulo II no livro MEMÓRIA E IDENTIDADE, é o autor final desse processo, que se inicia com os nominalistas. Emerge triunfante o humanismo renascentista, que refaz tudo e recupera de novo o lema de Protágoras: o homem é a medida de todas as coisas.
A trinca de filósofos clássica e seus seguidores cristãos, especialmente São Tomás de Aquino, é abandonada, dando lugar à herança de Epicuro e Zenon e dos seguidores que lhe sucederam desde a antiguidade, como Cícero. Foi uma grande revolução no sentido exato da expressão. Os homens renascentistas talvez não tivessem a exata dimensão espiritual e filosófica do que faziam, mas fizeram. Tudo que era sagrado foi conspurcado, tudo que era sólido desmanchou no ar. No plano teológico o mal se introduziu como força motora da história, o mal derivado do pecado no sentido exato como entendido por Santo Agostinho: "Amor de si mesmo até o desprezo de Deus", como escreveu na Cidade de Deus.
O mal, como força personificada operante, a Igreja Católica sempre o chamou pelo nome bíblico: Satã e suas legiões. Os cristãos sempre souberam que o homem sozinho não tem como lutar contra essa força poderosa, que ousou confrontar o próprio Deus. A rejeição do auxílio divino contra essa força é o famoso pecado contra o Espírito Santo, ao qual não cabe redenção. Foi o que se deu no Renascimento. E o Ocidente cristão, cujas idéias depois se espalharam por todo o mundo, foi além. FAUSTO é o canto supremo desse momento, quando ainda a humanidade tinha ao menos consciência do seu mergulho na Negação. Goethe versificou sobre esse espírito que vagava sobre a terra e que encontrou em filósofos como Descartes, Rousseau, Kant, Hegel e Marx seus agentes criadores.
O "Penso, logo existo", a máxima de Descartes, deslocou o tema da filosofia do ser para o aspecto particular das habilidades humanas, o pensar; ao fazê-lo, rompeu com a necessidade de se refletir sobre o ser, ou seja, Deus ele mesmo. O pensamento humano tornou-se o lócus da criação e o homem como o autor dessa criação. Fausto e Mefistófeles narram nas suas aventuras esse momento crucial em que o intelectual - provavelmente modelado na figura do próprio Descartes ou alguém equivalente - entediado diante da criação, invoca o Espírito de Negação para transformar o mundo ao seu talante. A dialética hegeliana e, depois, a marxista, dá foro filosófico e teológico a esse princípio de que a negação é o motor da história e o homem é o elemento que permite a síntese criadora.
Essa filosofia dará origem a todas as ideologias - entendidas como substitutas do real e explicações fantásticas da realidade, ou a Segunda Realidade - que virão nos século subseqüentes. Nazismo, marxismo, abortismo e gayzismo são todas variações desse tema, e enquanto ideologias, foram colocadas no mesmo patamar destrutivo por João Paulo II.
Goethe levou sessenta anos para escrever o poema e é possível notar que, nos momentos iniciais, ele foi mais entusiasta com a suposta capacidade criativa do mal. O Urfaust e, depois, o Fausto I, são documentos de vigorosa adesão às teses de que o mal é capaz de criar e ajudar ao homem. Goethe ele mesmo aderiu a um naturalismo radical tomado da filosofia de Spinoza - uma forma panteísta que via na matéria a própria emanação da divindade - e, com ela, suportando essa visão dualista de cunho teológico. Goethe abraça o maniqueísmo. Seu poema inicial é um cântico a ele. Ao final, no Fausto II, o fecho do mesmo na véspera de sua morte revela que alguma coisa mudou no seu modo de pensar, vindo Goethe a colorir os versos derradeiros com ícones do catolicismo. Mesmo assim o poema continuou a ser uma peça maniqueísta.
A influência de Goethe na literatura foi profunda, pois deu voz às idéias dominantes do seu tempo, que são as idéias dominantes até os dias de hoje. Nenhum grande autor escapou à influência magnética de Goethe. Ao cantar o Microcosmo não pensou que seu símbolo estaria, tempos depois, inserido em todos os lugares, em todas as bandeiras, em todas as nações. O pentagrama é o estandarte do mal metafísico que se propôs substituir o próprio símbolo da cruz. Desde o Renascimento ele tem ganhado a batalha iconográfica. É uma maneira de as gerações sucessivas desde então reafirmarem sua rebelião contra Deus.
O que é a modernidade? Numa definição curta e exata a modernidade é a negação de Deus. Ela tenta, em tudo e por tudo, matar a Revelação, conspurcar as coisas tidas como sagradas e negar a verdade. A recente decisão do Supremo Tribunal Federal - STF sobre a união de pessoas do mesmo sexo é um dos triunfos maiúsculos da modernidade entre nós, brasileiros. O mesmo pode ser dito, no âmbito do Poder Judiciário, do banimento dos crucifixos das repartições públicas, gesto repetido na primeira hora por Dilma Rousseff, quando assumiu o poder. Não devemos esquecer que o Microcosmo está estampado no próprio Escudo da República e é símbolo do poder de Estado. Vê-se que as ondas de propagação da modernidade e de Goethe, seu grande cantor, continuam vigorosas. Não por acaso Lula mandou desenhar o símbolo do Microcosmo nos jardins do palácio presidencial.
É preciso lembrar que o FAUSTO antecipa o que viria a ser o nazismo e o comunismo. Goethe o apresenta como o Demônio do Norte. Fausto fará suas núpcias com Helena, a deusa Vênus ela mesma, a representação feminina do mal, ajudado por generais oriundos de cada uma das tribos germânicas. Nesse momento do poema afirma-se a superioridade do germanismo, tão em voga nos tempos de vida de Goethe, e a mentira nele embutida, a de que o germanismo é uma cultura superior a todas as outras. Goethe liga o glorioso passado grego ao presente germânico, ignorando Roma e o cristianismo. Esse foi o passo essencial para que no século XX o personagem Eufórion encarnasse na figura de Hitler. A alucinação mais delirante da mente doentia dos modernos entrou com força na história e deixou o seu rastro de morte. Hitler foi a sua representação.
As ideologias de morte mudam de forma, mas não desistem de seu intento. Por isso ler e compreender FAUSTO, de Goethe, é essencial para que se compreenda o que se passa. O mal opera no cotidiano e está à porta de cada um. Sem perceber o que se passa é impossível buscar o único refúgio capaz de fazer frente ao mal: a tradição. Nas Escrituras estão as profecias e o registro de tudo que se passou e que vai passar. A grande mentira do Maligno é fazer com que as pessoas pensem que ele não existe e que está inerte. Ler os jornais do dia sob a luz de Goethe vai mostrar o quanto essa mentira é grotesca, como o mal é grotesco.
 Escrito por Nivaldo Cordeiro | 09 Maio 2011 
Fonte: www.midiasemmascara.org

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Zoroastrismo


 
 A maior contribuição da civilização persa foi no campo da religião. Zoroastro, que viveu de 628-55l a . c., fundou o zoroastrismo a religião dos persas. Esta doutrina pregava o JUIZO FINAL e a vida eterna no paraíso para os bons. Este princípio religioso influenciou o judaísmo e o cristianismo, que também concebiam o julgmento final.
O zoroastrismo se tornou a força religiosa dominante no IRÃ; seu culto ainda é praticado atualmente naquele país. Com a chegada do islamismo, a religião quase desapareceu, embora existam muitos praticantes na Ásia e nos Estados Unidos da América do Norte. Porém o grupo mais numeroso se encontra na Índia. Os adeptos da religião são chamados de parses. Eles deixaram o Irã no fim do século XIX e foram para a Índia. Estabeleceran-se na região de BOMBAIN.
A religião dos persas, tal como ensinada por Zoroastro, não permaneceu por muito tempo em seu estado original. Foi corrompida principalmente pela persistência de superstições primitivas, pela magia e pela ambição do clero. Quanto mais a religião se estendia, tanto mais nela se enxertavam essas relíquias do barbarismo. Com o passar dos anos a influência da crença de outras terras, particularmente as dos caldeus, determinou novas modificações. O resultado final foi o desenvolvimento de uma poderosa síntese na qual o primitivo sacerdotalismo, o messianismo e o dualismo dos persas e combinavam como pessimismo e o fatalismo dos neobabilõnicos.
Desta síntese emergiu aos poucos uma produção de cultos, semelhantes em seus dogmas, básicos, mas concedendo a eles valores diferentes.O mais antigo dos cultos era o mitraísmo nome que se deriva de MITRA, o principal lugar-tenente deA MAZD na luta contra as forças do mal.
Mitra a principio, era apenas uma divindade menor da religião zoroástrica, encontrou finalmente agasalho no coração de muitos persas, como Deus mais merecedor de orações. A razão desta mudança foi, provavelmente, a auréola emocional que cercava os acidentes da vida. Acreditava-se que nascera num rochedo, em presença de um pequeno grupo de pastores, que lhes trouxeram presentes em sinal de reverência pela sua grande missão na terra. Passou então a sujeitar os seres vivos que encontrava, conquistando e tornando úteis ao homem muitos deles. Para melhor desempenhar essa missão, fez um pacto com o sol, obtendo calor e luz para que as plantações pudessem florescer. O mais importante de seus feitos, contudo, foi a captura do touro divino. Agarrando o animal pelos chifres, lutou desesperadamente até força-lo a entrar numa caverna, onde em obediência a uma ordem do sol, o matou. Da carne e do sangue do touro proveriam todas as espécies de ervas, grãos e outras plantas valiosas para o homem. Mal esses feitos foram realizados, Ahriman provocou uma seca na terra, mas Mitra enfiou a sua lança numa rocha e as águas dela borbulharam. Em seguida o Deus do mal mandou um dilúvio, mas Mitra mandou construir uma arca para permitir a salvação de um homem com seu rebanho. Depois de terminado os seus trabalhos, Mitra, participou de um festim sagrado com o sol e subiu aos céus. No devido tempo voltará e dará a todos os crentes a imortalidade.
A herança deixada pelos persas, ainda que não tenha sido exclusivamente religiosa, continham muitos elementos da natureza secular. A forma de governo característica desse povo foi adotada pelos monarcas romanos de época avançada, não no seu aspecto puramente político mas no seu caráter de despotismo de direitos divino. Quando os imperadores como Diocleciano, Constantino I invocaram a autoridade divina como base de seu absolutismo e exigiram que os súditos se prostrassem na sua presença, estavam na realidade identificando o estado com a religião como os persas tinham feito na época de Dario. São também discerníveis traços da influência persa em certos filósofos helenistas, mas ainda aqui essa influência foi essencialmente religiosa, pois se limitou quase inteiramente às teorias místicas dos neoplatônicos e dos seus aliados filosóficos.
Fonte: www.filosofiahebraica.com

sábado, 3 de novembro de 2012

A origem da liturgia protestante


As reuniões da igreja primitiva eram marcadas pelo funcionamento de cada membro, numa participação espontânea, livre, vibrante e aberta. Era um encontro fluido, não um ritual estático. E era imprevisível, bem diferente do culto da igreja moderna.


A Missa Católica

De onde vem então a liturgia do culto protestante? Ela tem suas raízes principais na Missa Católica.

Segundo o historiador Will Durant, a Missa Católica foi “baseada em parte no culto do Templo judaico, em parte nos místicos rituais de purificação dos gregos”. Durant destaca que a Missa estava profundamente mergulhada tanto no pensamento mágico pagão como no drama grego. “A mente grega, moribunda, teve uma sobrevida na teologia e liturgia da igreja; o idioma grego, após reinar por séculos sobre a filosofia, chegou a ser o veículo da literatura e do ritual cristão; o misticismo grego foi passado adiante pelo impressionante misticismo da Missa”.

Os cristãos copiaram as vestimentas dos sacerdotes pagãos, o uso do incenso e da água benta nos ritos de purificação, a queima de velas durante a adoração, a arquitetura da basílica romana em seus edifícios de igreja, a lei romana como base da “lei canônica”, o título Pontifex Máximus (Sumo Pontífice) para o Bispo principal, e os rituais pagãos para a Missa Católica.



A contribuição de Lutero

Em 1520 Lutero lançou uma violenta campanha contra a Missa Católica Romana. O ponto culminante da Missa sempre foi a Eucaristia, também conhecida como “Comunhão”, “Ceia do Senhor” ou “Santa Ceia”. Tudo é direcionado para o momento mágico em que o sacerdote parte o pão e o distribui para as pessoas. Desde Gregório o Grande (540-604) a igreja católica ensinava que Jesus Cristo é novamente sacrificado através da Eucaristia.
Em vez da Eucaristia, Lutero colocou a pregação no centro da reunião.
O erro cardeal da Missa, disse Lutero, era que esta foi uma “obra” humana baseada numa falsa compreensão do sacrifício de Cristo. Então, em 1523, Lutero enunciou sua própria revisão da Missa Católica, revisão essa que é o fundamento de toda adoração protestante. O núcleo dela é: em vez da Eucaristia, Lutero colocou a pregação no centro da reunião.

Por conseguinte, no culto de adoração dos protestantes modernos o púlpito é o elemento central e não a mesa do altar (onde se coloca a Eucaristia nas igrejas católicas). Para Lutero, “uma congregação cristã nunca deve reunir-se sem a pregação da Palavra de Deus e a oração, não importa quão exíguo seja o tempo da reunião. A pregação e o ensino da Palavra de Deus é a parte mais importante do culto divino”.

A noção de Lutero da pregação como ponto culminante do culto de adoração permanece até nossos dias. Todavia tal crença não tem nenhuma procedência bíblica. Como disse um historiador, “O púlpito é o trono do pastor protestante”. É por esta razão que os ministros protestantes ordenados são comumente chamados de “pregadores”.
“O púlpito é o trono do pastor protestante”.
Apesar dessas modificações, a liturgia de Lutero variava bem pouco da Missa Católica. Basicamente, Lutero reinterpretou muitos dos rituais da Missa, mas preservou o cerimonial, julgando-o apropriado. Ele manteve, por exemplo, o ato que marcava o ponto culminante da Missa Católica: quando o sacerdote levanta o pão e o cálice e os consagra.

Da mesma maneira, Lutero fez uma drástica cirurgia na oração Eucarística, mantendo apenas as “palavras sacramentais” de 1 Coríntios 11:23 em diante — “O Senhor Jesus na noite em que foi traído, tomou o pão… e disse ‘Tomai e comei, este é o meu Corpo’…” Até hoje os pastores protestantes recitam religiosamente este texto antes de ministrar a comunhão.
Lutero nunca abandonou a prática de ordenação do clero.
A Missa de Lutero manteve os mesmos problemas da Missa Católica: os paroquianos continuaram sendo espectadores passivos (com a exceção de poderem cantar), e toda liturgia era dirigida por um clérigo ordenado (o pastor tomando o lugar do sacerdote). Embora falasse muito sobre “sacerdócio de todos os crentes”, Lutero nunca abandonou a prática de ordenação do clero. Sob a influência de Lutero, o pastor protestante simplesmente substituiu o sacerdote católico.


A contribuição de Zwinglio

Zwinglio (1484-1531), o reformador suíço, aos poucos introduziu sua própria reforma, que ajudou a desenhar a ordem de adoração de hoje. Ele substituiu a mesa do altar por algo chamado “mesa da comunhão”, onde se ministrava o pão e o vinho. Ele também ordenou que se levasse o pão e o vinho à congregação em seus bancos utilizando bandejas de madeira e taças.

Zwinglio também é nominado como o paladino da abordagem da Santa Ceia enquanto “memorial”. Este ponto de vista é apoiado pela corrente principal do protestantismo estadunidense. O pão e o vinho são meramente símbolos do corpo e do sangue de Cristo. Como Lutero, Zwinglio enfatizou a centralidade do sermão. Tanto que ele e seus colegas pregavam com a freqüência de um canal de notícias televisivo: catorze vezes por semana.


A contribuição de Calvino e Cia

Os reformadores João Calvino da Alemanha (1509-1564), João Knox da Escócia (1513-1572), e Martin Bucer de Suíça (1491-1551) fizeram algumas modificações na liturgia de Lutero. A mais notável foi a coleta de dinheiro após o sermão. Como instrumentos musicais não são mencionados explicitamente no Novo Testamento, Calvino eliminou o órgão e os coros.

Como Lutero, Calvino enfatizou a centralidade da pregação durante o culto de adoração. Ele acreditava que cada crente tinha acesso a Deus através da Palavra pregada e não através da Eucaristia. Devido a seu gênio teológico, a pregação na igreja de Calvino em Gênova era intensamente teológica e acadêmica. Também era altamente individualista, característica que nunca foi eliminada no protestantismo.

A igreja de Calvino em Gênova foi o modelo para todas as igrejas reformadas. Isto explica o caráter intelectual da maioria das igrejas protestantes hoje, especialmente a Reformada e a Presbiteriana.

A característica mais nociva da liturgia de Calvino é a de fazer o culto ser dirigido de cima do púlpito. O cristianismo nunca se recuperou disso. Hoje, o pastor atua como mestre de cerimônias e diretor executivo do culto dominical.

Um costume adicional que os reformadores copiaram da Missa foi a prática do clero caminhar em direção a seu assento designado no princípio do culto enquanto a congregação ficava em pé, cantando. Essa prática teve início no século IV quando os bispos entravam magnificamente em suas basílicas, e foi por sua vez copiada diretamente do cerimonial da corte imperial pagã. É ainda observada em muitas igrejas protestantes.


A contribuição dos puritanos

O abandono das vestes clericais, ídolos, ornamentos e o clero escrevendo seus próprios sermões (em vez de ler homilias) foi uma contribuição positiva que os puritanos (os calvinistas da Inglaterra) nos legaram.

A glorificação do sermão, no entanto, alcançou seu apogeu com os puritanos norte-americanos. Os residentes da Nova Inglaterra que faltavam ao culto eram multados ou presos no tronco.


As contribuições dos metodistas e do Evangelismo da Fronteira

Os metodistas do século XVIII proporcionaram uma dimensão emocional à ordem de adoração protestante. A congregação foi convidada a cantar com força, vigor e fervor. Desta maneira, os metodistas foram os precursores dos pentecostais.
Os metodistas proporcionaram uma dimensão emocional à ordem de adoração protestante.
Os séculos XVIII e XIX trouxeram novidades para o protestantismo americano. Primeiramente, os evangelistas fronteiriços alteraram a meta da pregação. Sua meta exclusiva era agora a conversão de almas. Dentro da cabeça do evangelista, não havia outra coisa no plano de Deus a não ser a salvação. Esta ênfase teve sua origem na pregação inovadora de George Whitefield (1714-1770), o primeiro evangelista moderno a pregar ao povo ao ar livre. A noção popular de que “Deus ama você e tem um plano maravilhoso para sua vida” foi introduzida por Whitefield.

Em segundo lugar, a música do evangelho fronteiriço falava à alma e visava propiciar uma resposta emocional à mensagem da salvação. Todos os evangelistas famosos tinham músicos em sua equipe justamente para este propósito. A adoração passou a ser um espetáculo.

Seguindo a trilha dos revivalistas, o culto metodista passou a ser o meio para obter o fim. A finalidade do culto já não era mais a simples adoração a Deus: os crentes foram instruídos a ganhar novos crentes individuais. Os sermões abandonaram a temática da “vida real” para proclamar o evangelho ao perdido. Toda humanidade foi dividida em dois desesperados campos polarizados: perdido ou salvo, convertido ou incrédulo, regenerado ou condenado.
Os evangelistas fronteiriços alteraram a meta da pregação; sua meta exclusiva era agora a conversão de almas.
Em terceiro lugar, os metodistas e os evangelistas fronteiriços deram à luz o “apelo”, a prática de convidar pessoas que desejam orações a colocar-se de pé e vir à frente.

Tanto pecadores como santos carentes eram convidados a ir à frente para receber as orações do ministro. Charles Finney (1792-1872) convidava o pecador para ir à frente e ajoelhar-se diante da plataforma para receber a Cristo. Finney tornou esse método tão popular que “após 1835, chegou a ser um elemento indispensável no moderno revivamento”.

Além da popularização do apelo, também se atribui a Finney a invenção da prática de orar nominalmente pelas pessoas e mobilizar grupos de obreiros para fazer visitas nas casas.
A contribuição predominante de Finney ao cristianismo moderno foi o pragmatismo.
A contribuição predominante de Finney ao cristianismo moderno foi o pragmatismo – a crença de que se algo funciona ou dá resultados, deve ser apoiado ou aceito. Finney ensinava que o único propósito da pregação é ganhar almas; qualquer mecanismo que ajudasse atingir esta meta poderia ser aceito. O cristianismo moderno nunca se recuperou desta ideologia anti-espiritual.

A meta dos Evangelistas Fronteiriços era levar pecadores individualmente a uma decisão individual por uma fé individualista. Como resultado, a meta da Igreja Primitiva — a edificação mútua e o funcionamento de cada membro manifestando Jesus Cristo coletivamente diante dos principados e potestades — perdeu-se completamente.

O Evangelismo Fronteiriço americano converteu a igreja em um ponto de pregação, reduzindo a experiência da ekklesia a uma missão evangelística. Isto normatizou os métodos revivalísticos de Finney e criou personalidades do púlpito como a atração dominante.


A tremenda influência de D. L. Moody

As sementes do “evangelho revivalista” foram espalhadas através do mundo ocidental pela influência de D. L. Moody (1837-1899).

Moody inventou o solo após o sermão do pastor. O cântico de apelo era entoado por um solista até que George Beverly Shea sugeriu que fosse cantado pelo coral. Shea encorajou Billy Graham de utilizar um coral para cantar hinos como “Eu venho como estou” enquanto as pessoas iam à frente para aceitar a Cristo.

Moody deu-nos o testemunho porta em porta, os anúncios e as campanhas evangelísticas. Deu-nos o “cântico de evangelização” ou “hino evangelístico” e também popularizou o “cartão de decisão”, invenção de Absalom B. Earle (1812-1895).

Moody foi o primeiro a pedir ao que queria ser salvo para colocar-se em pé e deixar-se conduzir em uma “Oração do Pecador”. Cinqüenta anos depois, Billy Graham melhorou a técnica de Moody introduzindo a prática de pedir ao ouvinte para baixar a cabeça, fechar os olhos (“sem olhar nada em volta”), e levantar as mãos como resposta à mensagem salvadora.

Vale notar que Moody foi grandemente influenciado pelo ensino dos Irmãos Plymouth quanto à escatologia (final dos tempos), que pregava a vinda iminente de Cristo antes da grande tribulação. O pré-tribulacionismo deu origem à idéia de que os cristãos necessitam salvar muitas almas o mais rápido possível, antes do fim do mundo.


A contribuição pentecostal

Inaugurado por volta de 1906, o movimento Pentecostal trouxe uma expressão mais emotiva através dos cânticos entoados pela congregação. Estes incluíam mãos levantadas, danças entre os bancos, bater palmas, falar em línguas e o uso de pandeiros.

Porém, suprimidas as características emotivas do culto pentecostal, sua liturgia é idêntica à batista. Um pentecostal tem apenas mais espaço para mover-se ao redor do seu assento.

Como em todas as igrejas protestantes, o sermão é o ponto culminante da reunião pentecostal. Todavia o pastor às vezes sentirá “o movimento do Espírito”. Nesse caso, ele adiará seu sermão para o próximo domingo, e a congregação cantará e orará durante o resto do culto.

A tradição pentecostal também deu-nos a música do solista e a música coral (muitas vezes descrita como “música especial”) que acompanha a oferta.

Na mente do pentecostal, a adoração a Deus não é um assunto coletivo [o corpo da igreja], mas uma experiência individual [o membro da igreja]. Com a penetrante influência do movimento carismático, essa obsessão de adoração individualista infiltrou-se na grande maioria das tradições protestantes.


Muitos ajustes, nenhuma mudança vital

Durante os últimos 500 anos, a ordem de adoração [liturgia] protestante permaneceu quase que praticamente inalterada. No fundo, todas as tradições protestantes partilham as mesmas características em sua liturgia: suas reuniões são celebradas e dirigidas por um clérigo, o sermão é a parte central, os membros são passivos e não tem permissão para ministrar.
São celebradas e dirigidas por um clérigo, o sermão é a parte central, os membros são passivos.
Os reformadores produziram uma tímida reforma da liturgia católica. Sua principal contribuição foi a mudança do enfoque central. Nas palavras de um erudito, “o catolicismo seguiu o caminho dos cultos pagãos, tomando o ritual como elemento central de suas atividades, enquanto que o protestantismo seguiu o caminho da sinagoga ao colocar o livro no centro de seus cultos”. Lamentavelmente, nem o catolicismo nem o Protestantismo tiveram êxito em colocar Jesus Cristo no centro de suas reuniões. Não é surpreendente o reformador ver a si mesmo como católico reformado.

É de lamentar-se que a liturgia protestante não tenha se originado com o Senhor Jesus, os Apóstolos, nem com as Escrituras do Novo Testamento.

A liturgia protestante reprime a participação mútua e o crescimento da comunidade cristã. O culto inteiro é dirigido por um homem. Onde está a liberdade para que Jesus fale através de Seu Corpo a qualquer momento? De que forma, na liturgia, Deus poderá dar a um irmão ou irmã uma palavra para compartilhar com toda congregação? A ordem de adoração não permite tal coisa. Jesus Cristo não tem a liberdade de expressar, através de Seu Corpo, Sua direção. Ele é mantido cativo por nossa liturgia. Ele mesmo é transformado em espectador passivo.

Finalmente, para muitos cristãos o culto dominical é extremamente enfadonho. É sempre a mesma ladainha sem nenhuma espontaneidade. É altamente previsível, bem superficial, e completamente mecânico. Há pouco ar fresco ou inovação.

Igrejas atentas ao seu “índice de audiência” tem reconhecido a natureza estéril do culto moderno. Contudo, apesar do entretenimento, até mesmo o movimento das igrejas que atuam em função de seus “indicadores” não conseguiu livrar-se da pró-forma litúrgica protestante, imóvel, sem imaginação, sem criatividade, inflexível, ritualista, sem sentido.

O culto, portanto, continua cativo pelo pastor; o tripé “sermão, hino, apelo” permanece intacto; e a congregação prossegue na condição de espectadora muda (só que agora está mais entretida nesta condição).

A liturgia protestante que você assiste (ou agüenta) a cada domingo, ano após ano, dificulta a transformação espiritual. Isto porque essa forma de culto: 1) estimula a passividade, 2) limita o funcionamento, e 3) implica que investir uma hora por semana é o segredo da vida cristã vitoriosa.
O cristianismo primitivo era informal e livre de rituais.
O fato é que a liturgia protestante é antibíblica, impraticável e antiespiritual. Não há nada semelhante a isso no Novo Testamento. A liturgia contemporânea dilacera o coração do cristianismo primitivo, que era informal e livre de rituais.

Reuniões [como as da igreja primitiva] são marcadas por uma incrível variedade. Não são ligadas a um homem, nem a um modelo de adoração dominada pelo púlpito. Há espontaneidade, criatividade e frescor.

O Novo Testamento não silencia com respeito a como nós, cristãos, devemos nos reunir. Devemos continuar a arruinar o funcionamento da direção de Cristo defendendo as tradições do homem?

Ficar dramaticamente longe deste ritual dominical é a única maneira de descongelar o povo de Deus.

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Via: http://www.baciadasalmas.com/

Fonte: Versão condensada do primeiro capítulo de Cristianismo Pagão, do maluco Frank Viola. Leia o livro completo aqui(o servidor é o geocities, fica temporariamente fora do ar se o limite de acessos for ultrapassado), ou baixe o arquivo PDF. A tradução é de Railton de Sousa Guedes.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Filosofia Budista



 
 O budismo não é só uma religião, mas também um sistema ético e filosófico, originário da região da Índia. Foi criado por Sidarta Gautama (563? - 483 a.C.?), também conhecido como Buda. Este criou o budismo por volta do século VI a.C. Ele é considerado pelos seguidores da religião como sendo um guia espiritual e não um deus. Desta forma, os seguidores podem seguir normalmente outras religiões e não apenas o budismo.
O início do budismo está ligado ao hinduísmo, religião na qual Buda é considerado a encarnação ou avatar de Vishnu. Esta religião teve seu crescimento interrompido na Índia a partir do século VII, com o avanço do islamismo e com a formação do grande império árabe. Mesmo assim, os ensinamentos cresceram e se espalharam pela Ásia. Em cada cultura foi adaptado, ganhando características próprias em cada região. 
Os ensinamentos, a filosofia e os princípios
Os ensinamentos do budismo têm como estrutura a idéia de que o ser humano está condenado a reencarnar infinitamente após a morte e passar sempre pelos sofrimentos do mundo material. O que a pessoa fez durante a vida será considerado na próxima vida e assim sucessivamente. Esta idéia é conhecida como carma. Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito pode atingir o estado de nirvana (pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações.
Para os seguidores, ocorre também a reencarnação em animais. Desta forma, muitos seguidores adotam uma dieta vegetariana.
A filosofia é baseada em verdades: a existência está relacionada a dor, a origem da dor é a falta de conhecimentos e os desejos materiais. Portanto, para superar a dor deve-se antes livrar-se da dor e da ignorância. Para livrar-se da dor, o homem tem oito caminhos a percorrer: compreensão correta, pensamento correto, palavra, ação, modo de vida, esforço, atenção e meditação. De todos os caminhos apresentados, a meditação é considerado o mais importante para atingir o estado de nirvana. 
A filosofia budista também define cinco comportamentos morais a seguir:  não maltratar os seres vivos, pois eles são reencarnações do espírito, não roubar, ter uma conduta sexual respeitosa, não mentir, não caluniar ou difamar, evitar qualquer tipo de drogas ou estimulantes.  Seguindo estes preceitos básicos, o ser humano conseguirá evoluir e melhorará o carma de uma vida seguinte. 
Fonte: www.suapesquisa.com.br