Filosofia Circular

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A mundanidade de cada um




1. – O homem é um ser intramundano, isto é, determinado a existir no mundo e, nele integrado.
O Universo em sua totalidade inclui todos os seres caracterizados pela mundanidade. A mundanidade de um ser significa que êste ser é atualmente limitado pela materialidade, temporalidade e espacialidade.
Existindo seres substancialmente imateriais, não sujeitos as ações do tempo e do espaço, estes seriam distintos e independentes do Universo.
O imaterial; quando limitado pelo tempo, pelo espaço e de certo modo ligado ao material, é integrado no mundo. O ser do homem, sendo espírito-corporal, está integrado no mundo, não apenas pelo seu elemento material; mas, em sua totalidade, em corpo e alma.
O “meu Universo” é constituído por todos os seres que comigo se relacionam, em particular pelos seres por mim consciencializados.
Minha interpretação do mundo exterior, não ultrapassa os limites de “meu Universo consciente”. Não nego a possibilidade de ser influenciado e de influenciar seres por mim ignorados; não posso incluí-los em meus raciocínios, simplesmente, porque para mim permanecem desconhecidos.
Sendo meu objetivo inicial, o estudo da essência do homem, através do meu autoconhecimento, não considerarei os seres exteriores em si, mas em suas relações com o meu “eu” e, por extensão em suas relações com o “eu” de cada homem.
A vida é uma luta constante, na qual se objetiva a conquista e a afirmação do próprio ser, através da superação de seus condicionamentos e de suas debilidades.
Nesta luta, o mundo é inimigo e aliado; nêle encontram-se obstáculos que obstruem o caminho: é ele que nos fornece as armas para a ultrapassagem destes obstáculos.
O ar que respiramos e que renova nosso sangue, a água que nos sacia, os alimentos que nos sustentam, o calor que nos aquece, a sombra que nos refresca, o teto que nos protege, as roupas que nos vestem; enfim tudo, o que é indispensável para nossa existência, nôs vem do exterior. Nossa dependência do mundo é uma dependência vital.

2. – Nesta relação de dependência do eu para com o mundo, quando utilizamos um objeto para um determinado fim, este objeto pode ser uma utilidade ou um instrumento.
O objeto é útil ou utilizável, quando atual ou potencialmente capaz de satisfazer, diretamente, uma necessidade.
A idéia de instrumentalidade inclui a de utilidade, acrescentando a característica de intermediário. O instrumento é utilizável como intermediário entre o sujeito e outro objeto. Na refeição, o alimento permanece utilidade; o talher, sendo útil, é também instrumento.
O instrumento pode ser utilizado, não apenas como simples intermediário, mas também, para transformar objetos utilizáveis em úteis. O instrumento é utilizado pelo homem em suas atividades e em seu trabalho.
O instrumento não é necessariamente exterior ao corpo; os braços, por exemplo, podem exercer a função instrumental.

3. – Esta consideração sobre a instrumentalidade de um objeto, leva-me a considerar o trabalho.
O trabalho é transformador e criador.
Transformador porque supõe a preexistência da matéria e, não pode acrescentar matéria a matéria.
Criador porque ao transformar a matéria, cria novos objetos; a matéria permanece, as formas são novas. A matéria de uma árvore é a mesma depois de transformada em mesa; a forma da mesa é criação do trabalho.
O trabalho acrescenta à matéria novo significado. Esta significação é algo de espiritual transmitido à matéria pelo homem; é uma criação do homem, que se agrega ao objeto. Um vaso de cerâmica, não se confunde com a argila de que é feito, porque contém no seu interior um pouco do homem: o seu trabalho.
O trabalho humano não cria a matéria, transforma-a; para transformá-la necessita produzir algo não-material. O produto do trabalho é espiritual.
A pesquisa da verdade, a realização do belo e o discernimento do bem supõem o trabalho.
Através do trabalho e, sòmente através dele, o mundo é transformado. Esta transformação é, em si própria, criação. O trabalho acrescenta à natureza, a contribuição do homem.
O trabalho é um diálogo silencioso entre o homem e a natureza. Neste diálogo, não só o objeto é enriquecido, mas também o próprio sujeito é transformado em seu interior. Ao executar determinado trabalho, o homem transmite algo de si ao objeto; seu conhecimento dos seres exteriores aumenta, algo é assimilado pelo seu ser.
Nesta mútua influência entre o homem e o mundo, realizada através do trabalho, o homem é o agente. É sua atividade que transforma os objetos, é ainda em conseqüência de sua atividade, que é transformado.

4. – Em suas relações com o mundo, entretanto, o homem não é apenas agente, mas também paciente. Não só utiliza as coisas do mundo, é por elas condicionado.
Desde seu nascimento sua vida transcorre delimitada a determinados lugares. Capaz de locomoção, no decorrer da existência, alarga constantemente os limites de seu “habitat”, transferindo sua moradia.
Cada lugar possui determinadas peculiaridades, que o torna distinto dos demais. O clima, a paisagem, a alimentação, etc., variam de região à região.
Estas particularidades próprias a cada lugar, não permanecem exteriores; exercem profundas influências no homem. Por mais distante que esteja, no espaço e no tempo, do lugar em que passou sua infância e juventude, traz consigo sua marca.
Acostumado a determinadas circunstâncias ambientais, ao mudar de residência sente-se desambientado. Permanecendo nesta nova região por determinado período de tempo, adquire novas necessidades, adapta-se às novas situações. A influência do antigo ambiente, contudo, permanece.
Atuando em seu organismo, influenciando seus costumes e preferências, as condições ambientais condicionam sua vontade e seu intelecto.
Sendo um ser intramundano é incapaz de agir independentemente do mundo. As intuições das realidades espirituais, o mais abstrato dos pensamentos ou o mais profundo dos sentimentos, sòmente são possíveis, supondo um contato, atual ou anterior, com o mundo.

5. – O conhecimento do mundo pelo homem alarga-se constantemente através das pesquisas científicas, que lhe permitem desvendar os segredos da natureza.
O homem penetra os segredos do átomo e maravilha-se com a imensidade sideral; descobre as propriedades dos minerais e dos vegetais; estuda a vida desde a mais rudimentar até a mais complexa. A observação estética revela-lhe as belezas do Universo; o olhar religioso mostra-lhe o sagrado. Todas estas observações levam o homem a descobrir e interpretar as relações existentes entre os diversos seres intramundanos e a elaborar as suas leis.
Conhecendo melhor seu Universo, o homem por sua atividade e por seu trabalho, nele interfere para melhor aproveitar suas riquezas e, desenvolver suas potencialidades.
Esta interferência humana, nem sempre produz resultados positivos, a Ecologia nos mostra que muitas vezes a natureza é afetada de modo indevido, pela ganância e imprevidência humana: em conseqüência os resultados para o meio ambiente são desastrosos.
Felizmente, o homem começa a despertar para a necessidade de explorar as riquezas da natureza, respeitando suas leis, para que esta seja preservada e não destruída.
A procura de meios que nos levem a uma exploração sustentável da natureza, respeitando o meio ambiente; o combate a poluição e a busca de produtos não poluentes e biodegradáveis; e, sobretudo, a conscientização de que o homem é responsável pela preservação da natureza, para garantir a subsistência da própria humanidade, faz renascer a esperança de um futuro mais humano. 

SOCIABILIDADE

1. – O homem está, intimamente, relacionado a seres que lhe são semelhantes. Todo o seu existir é um existir com os homens.
A dependência, mútua, entre o eu e os outros, enraíza-se na própria natureza humana. O homem é essencialmente ser-social.
A sociedade, constituída pelos indivíduos que a compõe, apenas existe, enquanto realizada e, em função destes mesmos indivíduos. Em-si é ser de razão; não pode existir independentemente dos homens.
Realizada por homens seres livres e conscientes, a sociedade não é uma entidade estática, mas dinâmica. A ação do homem modifica continuamente o ambiente social.
Pela inteligência e vontade, o homem pode agir na sociedade, modificando seu aspecto e criando novas situações. Agente e paciente, contribui para o desenvolvimento da sociedade; é por ela condicionado em seu desenvolvimento.
É vivendo em sociedade que é educado e forma o seu caráter. É no contato cotidiano com seus semelhantes, que recebe os elementos necessários para desenvolver-se.

2. – A sociedade é constituída por um complexo de ambientes que coexistem entre si, tendo cada um características e finalidades próprias.
Na primeira infância, a sociedade, para o homem, reduze-se ao ambiente familiar.
É vaga a recordação dos cinco ou seis anos de idade, fatos ocorridos anteriormente, estão sepultados no esquecimento. O testemunho de pessoas mais velhas e o raciocínio baseado sôbre a semelhança essencial dos seres humanos, permitem-lhe conhecer algo de seus primeiros anos de vida. Embora, os fatos ocorridos nesse período, tenham sido inconsciencializados, exerceram e exercem influência no desenrolar de sua existência.
O iniciar da existência, o ingresso no mundo, o primeiro contato com a sociedade, realiza-se no seio da família. É aí que se adquire os primeiros conhecimentos, justamente aqueles que servem de base para os demais. No lar, encontra-se pela primeira vez em presença do outro, do qual depende e, com o qual deve conviver. No lar, aprende a Amar.
É no lar, que aprende a língua da qual se serve para expressar seus pensamentos. É grande a importância da língua materna para o homem e, para o seu pensar, pois diferentes línguas condicionam diferentes modos de pensar.
A influência da vida familiar, embora com diferente intensidade, nunca deixa de estar presente na vida do homem, pois foi da família que recebeu todo o alicerce para o construir de sua própria personalidade.

3. – A escola centraliza as atividades do homem durante sua infância e adolescência, quando não invade também sua idade adulta. Na escola o homem passa grande parte de sua vida, nela adquire novos conhecimentos, que lhe são transmitidos pelos mestres.
O papel da escola na vida do homem, não se limita ao aprendizado intelectual. Nela não se adquire sabedoria, como se adquirem objetos num estabelecimento comercial. É triste e degradante quando se dá importância exagerada, quase exclusiva mesmo, ao aspecto financeiro e empresarial de um estabelecimento de ensino.
O homem integra-se na escola, a vida escolar, passa a ser parte de sua vida. A escola propicia-lhe aprofundamento intelectual e alargamento social. As atividades estudantis são eminentemente sociais, levam o homem ao encontro do homem.
O primeiro professor muito representa para o aluno e, sua influência, consciente ou inconscientemente, o acompanha em seu existir. Os discípulos recebem dos mestres elementos que se integram ao seu caráter. Uma palavra ou uma atitude de determinado professor pode exercer preponderante influência na vida dos alunos.
A escola, além do mestre, o jovem está em contato diário com seus colegas. O companheiro de estudo é companheiro de diversões, com ele trocam-se idéias, discutem-se os mais diversos assuntos, seus gostos e interesses são semelhantes. Sem perceberem uns e outros se influenciam, mutuamente, com o companheiro aprende xadrez, com ele o outro começa a interessar-se por cinema. Virtudes e vícios iniciam-se na escola; nela muitas vezes são iniciadas grandes amizades.
Mestres, alunos, diretores e funcionários constituem o ambiente escolar, a ele transmitem seu pensar e seu agir. As influências mutuas são transmitidas através do meio. Quando se entra num colégio, recebe-se o impacto do ambiente; mestres e discípulos dotados de iniciativa, podem transformá-lo Novas idéias são transmitidas, novas preocupações são incorporadas ao pensar de cada indivíduo, fatos até então ignorados são descobertos, etc.
Na escola, tudo propicia ao homem novas situações e novos contatos.
Durante os primeiros anos como estudante, o homem limita-se a assistir as aulas e a contatos superficiais com seus companheiros. Mais tarde, porém, favorecido por diversos fatores, começa a viver intensamente o meio, sob todos os aspectos. Esta vivência será tanto maior e mais intensa, quanto maior e mais intensa for a capacidade de engajamento e de iniciativa de cada um. Assim, começa a viver problemas que antes apenas interessava-lhe teoricamente. Sua visão social alarga-se e, penetrando mais profundamente no conhecimento do ambiente estudantil, começa a compreender melhor mesmo o que lhe é exterior. Aprende-se muito mais com as atividades extracurriculares do que na assistência às aulas.

4. – A escola é caracteristicamente transitória, nela o homem prepara-se para a vida; em suas atividades escolares, visa alcançar formação para realizar-se em outros setores da sociedade. Ao contrário, o trabalho é estável e definitivo; a transitoriedade no trabalho é acidental, sua característica principal é a estabilidade.
No exercício de sua profissão, encontra-se o homem frente a novos condicionamentos. Aqui o importante não é a formação; é a execução de tarefas para as quais está apto; é o conseguir recurso para a subsistência própria e a de seus dependentes.
No trabalho o homem ocupa sua posição na sociedade e, executa sua definitiva missão como ser-social.
Trabalhando em diferentes profissões, encontra-se em diferentes ambientes. A maneira de pensar, os problemas vitais, as preocupações e as distrações são diversas.
O contato com os companheiros e o ambiente de trabalho, deixam suas marcas no indivíduo. Assim diferenciam-se industriário, agricultor, comerciário, bancário, patrão, empregado, médico, advogado, engenheiro e professor, etc. Em reuniões civis, na prática de esporte, etc., não é difícil distinguir a presença do militar, do político, do religioso, mesmo quando estes procuram permanecerem iguais aos outros, usando trajes comuns e procurando agir como qualquer outro agiria.
O indivíduo inclina-se mais para certas profissões. Trabalhando concorde com sua vocação, seu trabalho é suave e mistura-se com seu próprio sangue; trabalhando contra sua vocação, o trabalho é árduo e permanece artificial, executa-o, mas não o assimila, nunca lhe será natural; mesmo que se esforce e se prepare, com afinco, para bem executá-lo.
Do fato de se trabalhar de acordo ou não com a própria vocação, depende muitas vezes o sucesso do trabalho. É preciso estar o homem no seu exato lugar, trabalhar conforme sua vocação e, em ambientes que lhe sejam favoráveis; caso contrario, não produzirá o que pode: será dominado pelo pessimismo.
Muitas e muitas vezes, devido a fatores sociais e econômicos, principalmente, a necessidade da subsistência e a falta de oferta de trabalho em determinadas profissões, o homem é compelido a trabalhar no que não está devidamente preparado ou que não corresponde aos seus desejos e inclinações. Nestes casos, o homem é capaz de superar-se e, até tornar-se um profissional bem sucedido, mas nunca deixará de sentir a angústia de estar trabalhando por necessidade ou por ambição; sua realização pessoal estará comprometida.

5. – Não se pode exaltar suficientemente, o papel da religião na vida do homem. Aqui não se trata de afirmar a veracidade ou não desta ou daquela religião, nem de examinarmos as diferentes doutrinas e práticas religiosas, apenas constatarmos a importância do ambiente religioso no realizar-se do homem.
Através da religião, o homem deixa as considerações referentes ao dia a dia, das coisas que passam e que fatalmente irão se acabar; para considerar, o que, por ter maior consistência, irá permanecer: pelo menos em sua compreensão da realidade.
É através da religião, seja qual for, que o homem constrói e consolida sua crença numa dimensão transcendente. Intermediária, entre Deus e os homens, a religião através de ritos, dogmas e leis morais, apresenta aos crentes normas que lhe nortearão a vida.
A sua influência na vida humana é realizada negativa e positivamente. Negativamente, enquanto estabelece uma série de preceitos, proibindo determinadas ações e obrigando outras; positivamente, enquanto responde aos diversos anseios humanos, apresentando aos homens uma doutrina própria.
Diversas são as igrejas, igualmente, diversos são as leis morais e os preceitos doutrinários. Politeístas e monoteístas; muçulmanos, judeus, hinduístas, budistas e cristãos; católicos, ortodoxos e evangélicos; espíritas e umbandistas, cada credo apresenta diferentes soluções aos problemas sobrenaturais. Diverso é o modo de pensar desta ou daquela religião. Dentro de uma mesma igreja, os crentes desempenhando diferentes funções ou pertencendo a diferentes fraternidades ou comunidades, apresentam divergências entre si, ainda que permanecendo concordes no que é essencial a seu credo.
Papel preponderante na vida religiosa é exercido pelo ministro ou sacerdote, separado do comum dos fiéis, é encarregado em orientá-los e dirigi-los. Um pastor dotado de forte personalidade arrasta os fiéis e exerce profunda influência em suas vidas. Entre os leigos, também existem aqueles que assumem o papel de líderes religiosos.
A religião une os homens em seus pensamentos, aspirações e atividades. Homens separados entre si, por diferentes condições culturais, econômicas ou sociais, ou ainda pertencendo a diferentes raças ou nações, unem-se pelo ideal religioso.
A religião é dinâmica, em sua marcha invade todos os lugares, não respeita as camadas sociais. Conquista os homens, reforma a sociedade, cria novas realidades. A adesão a uma determinada igreja, pode levar o homem a atitudes extremas, chegando mesmo, movido pela fé, a abandonar a própria família e os amigos, a sacrificar-se constantemente, para o estabelecimento de sua religião. Por outro lado, movido pelo fanatismo religioso, causar tragédias e até mesmo guerras em nome de um falso ideal religioso.
Normalmente o fiel, sem chegar a tais extremos, informa toda a sua vida pela fé. A influência da religião atinge mesmo aqueles que, se dizem irreligiosos. A religião ministrada na infância, muitas vezes, manifesta-se no adulto, após muitos anos de afastamento.
Existindo na sociedade onde a ação dos fiéis é notória, o homem, consciente ou inconscientemente, é condicionado pelo fator religioso.

6. – A família, a escola, o trabalho e a religião propiciam ao homem condições para sua realização pessoal; mas, trazem responsabilidades e obrigações, que devem ser cumpridas e, em conseqüência, desgastes tanto físicos como psíquicos. Para combater as enfermidades, devidas ao excesso de trabalho, e o descontrole emocional, o homem necessita de lazer.
Na busca do lazer, dois erros devem ser evitados: privilegiar as atividades do lazer, como sendo as mais importantes, como fazem muitos que vivem apenas para o prazer; ou, considerar estas atividades como inúteis, pura perda de tempo.
São diversos os tipos de atividade que propiciam lazer, entre as quais:
a) Viagens e passeios: que propiciam descanso e descoberta de novos ambientes, trazendo ao homem aventura e ampliando seu horizonte.
b) Atividades esportivas: trazendo a emoção, o espírito de equipe e o superar seus limites na busca da vitória sôbre o adversário ou sôbre si mesmo.
c) Atividades artístico-culturais: levando o homem a usufruir o prazer estético, que eleva sua alma e enobrece seus sentimentos.
d) Atividades sociais: tais como; bailes, quermesses, bodas, aniversários que propiciam o encontro com o próximo, aumentando seu relacionamento social.
Estas e outras atividades, escolhidas conforme o gosto e a inclinação de cada um são necessárias para que se consiga uma personalidade equilibrada e saudável.
As influências dos ambientes de lazer sobre o homem é maior do que muitos imaginam. A escolha de determinados lazeres contribui para a formação de sua personalidade; nota-se facilmente as diferenças entre o pescador e o esportista, entre o apreciador da arte erudita e, o frequentador de shows populares, etc. Em cada ambiente, o homem encontra-se com outros homens, que fizeram a mesma escolha, o que propícia, aos mesmos, um mútuo influenciar.
O homem que diversifica seus lazeres, frequentando diversos ambientes, têm oportunidade de se enriquecer mais, devido aos diferentes contatos, do que aquele que se limita apenas a um único ambiente, para seu lazer.

7. – Vivendo nas metrópoles ou nos vilarejos; nas cidades, no campo ou na floresta; nas estâncias, nas praias ou nas montanhas; nos condomínios de luxo ou nas favelas, o homem encontra-se em diferentes ambientes sociais; onde deve atuar. As diferenças de tradição, de cultura, de economia, etc., são fatores que se integram em sua constituição psicológica.
A percepção da influencia do ambiente político-social no homem é mais evidente, quando consideramos as divergências de mentalidade existentes entre os habitantes de diversas regiões e de diversas nações.
No complexo político-social do mundo contemporâneo, no qual as distâncias encurtam-se, a macro-economia torna-se cada vez mais exigente e impositiva e, os meios de comunicação aperfeiçoam-se incessantemente, propiciando mútuo condicionamento; as criações do espírito humano continuam a comprovar a existência indestrutível de profundas qualidades características a cada nacionalidade, que distinguem as diversas culturas e as diversas nações.
O progresso da técnica e da civilização, não eliminaram as notas características de cada povo, preservadas principalmente na tradição e no folclore. Não apenas as nações hegemônicas, mas todo e qualquer país, mesmo os menores e mais esquecidos tem muito a contribuir para o enriquecimento da civilização e da humanidade. Desconhecer ou desprezar o contributo, dos mais pobres e dos mais primitivos é ofender a dignidade do próprio homem.
Dentro de uma mesma nação, encontramos grandes diferenças entre suas diferentes regiões e, mesmo entre diversas localidades, muitas vezes, localizadas próximas umas das outras. No Brasil, por exemplo, o modo de ser e as tradições do nordestino, do carioca e do gaúcho apresentam diferenças, facilmente reconhecidas, mesmo por aqueles que nos visitam pela primeira vez.

8. – Muitos outros ambientes sociais, que influenciam o existir humano, mereceriam ser analisados, pelo menos breve e sucintamente, como fizemos com os estudados acima, mas sendo esta tarefa muito grande e não necessária para nossos objetivos, não o faremos. Gostaria, no entanto, ao terminar este tópico sobre a sociabilidade, de tecer breves considerações sobre êste ambiente cada vez mais presente na nossa existência: o ambiente virtual.
A mídia, principalmente a televisão, tem revolucionado a comunicação e, o que parecia impossível a poucos anos, hoje tornou-se corriqueiro. Tomar conhecimento, em tempo real, do que acontece do outro lado do mundo é tão comum que nos é difícil acreditar que, apenas há alguns anos isso não acontecia.
A influencia da TV e dos outros meios de comunicação é tão grande que nos perguntamos se é ela benéfica ou destrutiva de nossos valores? O novo homem, antes formado pela família, pela escola e pela religião, é formado pela mídia?
Não. A mídia não forma, a mídia informa e deforma. Como inesgotável fonte de informação ajuda ao homem, aumentando seu conhecimento e dando-lhe condições de enriquecer o seu próprio eu. Mas a mídia deforma quando o homem recebe as informações sem o devido espírito crítico, para escolher entre a verdade e o erro, entre o que lhe é benéfico e enriquecedor e o que não o é.
Mas, sobre o que eu queria falar não é sobre a mídia, esta, embora muito importante, ainda é pouco frente a este mundo virtual que nos propícia a Internet. O mundo virtual é uma realidade em outra dimensão, onde tudo pode tornar-se realidade, realidade virtual é claro. A lógica do computador começa a transformar profundamente as estruturas da própria mente do usuário.
A influência do computador e da internet no pensar e no agir, principalmente em relação aos jovens, é considerável. Está nascendo um novo tipo de homem, o homem virtual.
Torna-se necessário um aprofundamento no estudo da influência do universo virtual no homem. Espero que alguém empreenda este estudo, mas de toda maneira, não se pode considerar mais o homem sem nos referirmos a esta dimensão.
A possibilidade de comunicação praticamente instantânea, propiciando relacionamentos pessoais com pessoas de outros paises e de outras culturas, livre de qualquer barreira da censura; as informações que são acumuladas nas memórias dos computadores e que podemos acessar quando e como quisermos; a capacidade de invadir os computadores alheios, como fazem os Hackers, chegando a penetrar na intimidade das pessoas e a destruir importantes informações e arquivos; a impressionante e inesgotável capacidade criativa, principalmente nos jogos e na computação gráfica. Tudo isso nos leva a indagar até onde o homem poderá chegar em sua capacidade criativa e, porque não, também destrutiva utilizando as ferramentas que nos fornecem a computação e a realidade virtual?
Pela Internet, não recebemos apenas informações dos fatos e acontecimentos selecionados pelo interesse da mídia e que dão Ibope, não tomamos conhecimentos apenas das opiniões dos líderes políticos, empresários, ídolos do esporte e da televisão, etc., mas, podemos conhecer as opiniões de pessoas comuns e tomar conhecimentos de fatos e acontecimentos, que embora importantes, não são veiculados pela mídia. As salas de bate-papo, muitas vezes mal utilizadas, podem ser ocasiões para aumentar nosso conhecimento e estabelecermos relações de amizade, independente da vontade dos poderosos, que querem direcionar até mesmo os nossos mais íntimos desejos.
Os mais diversos sites nos colocam frente a uma diversidade, quase incontável de assuntos; desde frivolidades até sites voltados para ciência, política, arte e religião. A nossa erudição se alarga, com assuntos dos quais, nunca antes nos haviam interessado, graças ao modo e a criatividade com que os mesmos são abordados. Todos, mas principalmente os jovens, são atraídos pela Internet e, suas consultas e trabalhos propiciam enorme desenvolvimento no processo educacional, completando o que a escola não consegue transmitir.
Propiciará o ambiente virtual, ainda maior possibilidade para os poderosos governarem política, econômica, cultural, social e religiosamente; impositiva e ditatorialmente, sem respeitar os direitos dos mais fracos e excluídos? Ou será o grito de libertação do homem, que pode levar a anarquia ou a sua plena realização?
Somente o tempo nos trará as respostas.
Fonte: http://reflexoessobreaessenciadohomem.blogspot.com.br/p/mundanidade-sociabilidade-historicidade.html

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