Filosofia Circular

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Filosofia de Carnaval


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Por Saturnino Braga 

O tempo vazio do Carnaval enche a mente de quimeras e idéias filosóficas, isso que todo mundo normalmente já tem, a maioria sem consciência plena: filosofia moral, filosofia política, estética, filosofia de vida, do cosmo, filosofia religiosa, todo mundo tem e faz, é uma atividade constitutiva do ser humano, este que pensa e que fala, que não para de pensar e pensa mesmo sem falar, e age guiado por este pensamento, só às vezes racional. 

Este pensamento não é, pois, a razão pura analisada por Kant mas é uma consciência infiltrada de juízos e reações vindas da experiência infantil e da convivência do grupo social de cada um. Esse conjunto que conforma a mente faz os julgamentos e os comportamentos humanos. 

Na base biológica desse conjunto, na formação que antecede as experiências, estão os conteúdos puros kantianos, os conceitos “a priori”: o tempo, o antes e o depois, o princípio e o fim, o espaço de três dimensões, o mais comprido, o mais largo, o mais alto, como também a noção do bem e do mal, do certo e do errado, da lei moral; são fundamentos da mente humana. 

No desenvolvimento dessa mente pela experiência, a partir desses conceitos prévios, surgiu a razão operacional, a noção de causa e efeito, eu faço isso e obtenho aquilo, eu emito um fonema e o outro compreende e sabe o que eu quero comunicar, essa razão operacional que produziu a grande transformação, tirou o homem da caverna e o colocou no Rio de Janeiro. Essa razão criou os estupendos feitos da tecnologia, que continuam se multiplicando espantosamente, e criou também, antes da tecnologia, a ciência pura que, auxiliada pela tecnologia (que permite “ver” o infinitamente pequeno e o infinitamente grande) e pela matemática especulativa levada ao máximo da abstração, prossegue no desvendamento da realidade, da “coisa em si”, completamente diferente daquela observação comum dos sentidos e da intuição da mente humana, limitada pelos conceitos “a priori”. 

A ciência há cem anos acabou com o espaço e o tempo da mente humana e produziu matematicamente o espaço-tempo de quatro dimensões e a matéria-energia, absolutamente inalcançáveis pela nossa intuição. A ciência destruiu a ligação firme de causa e efeito e hoje trabalha na contestação da idéia de princípio e fim, percorrendo caminhos que levariam a negar o princípio do próprio universo e concluir que ele sempre existiu, que essa idéia de princípio é da mente humana, não da “coisa em si” da natureza. 

E Deus? Ora, dizem os pensadores repetindo Nietzsche, a ciência explodiu Deus, que também é uma criação da mente humana, o super-super-homem, à sua imagem e semelhança. Bem, mas será que essas criações essenciais, quase espontâneas da mente humana não são, elas mesmas, a verdade essencial deste ser? Afinal, o que é mais importante para a vida e a felicidade do homem e da mulher neste nosso planeta: a “coisa em si” descoberta pela ciência ou os fenômenos observados, vistos e compreendidos dia a dia pela nossa mente? 

Mas o que é isso?, escarnecem os engenheiros e cientistas; por acaso a felicidade do homem não depende da casa, da geladeira, do fogão, dos antibióticos, do automóvel, da televisão, do computador? Mas o que é a felicidade, indagam os filósofos? O que é realmente importante para uma vida plena e saudável, e o que é mais importante para esta felicidade tão buscada senão essa vida plena e saudável, física e psiquicamente? São divagações especulativas do tempo de carnaval. Não importam tanto as respostas; elas mudam muito ao longo do tempo e do espaço planetário; variam às vezes de dia para dia no mesmo lugar. O que importa é a indagação, é a discussão, é a filosofia. Para muitos brasileiros, mais que todos aqueles artefatos da tecnologia, o importante para a felicidade humana é o Carnaval, a filosofia do Carnaval. E eles também são seres humanos. 

* Saturnino Braga é ex-deputado federal, prefeito e vereador da cidade do Rio de Janeiro e ex-senador da República

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Narcisismo e depressão


em um período de perda da subjetividade, selfies e big brother são exemplos de que é preciso “provar” o tempo todo a própria existência, afirma a psicanalista teresa pinheiro durante o café filosófico cpfl
no mundo atual, não basta estar vivo: é preciso reafirmar a existência. “é como se precisássemos de provas de que existimos. essas provas podem ser desde malhar cinco horas e chegar morrendo de dor para saber exatamente onde terminam os nossos músculos, como podem ser os ‘selfies’”, afirmou a psicanalista e pesquisadora da ufrj teresa pinheiro durante o café filosófico cpfl que aconteceu no dia 23 de maio. (vídeo na íntegra abaixo)
“o selfie é uma forma de alimentar o olhar do outro e fazer com que o outro saiba que você visitou estocolmo ou que você abraçou o mickey. como eu só existo pelo olhar do outro, eu preciso que o outro me veja o tempo todo e diga: “a foto com o mickey ficou legal”, disse a especialista na palestra sobre “narcisismo e depressão”, parte do módulo “o sofrimento humano nos tempos atuais”, sob curadoria da psicanalista e professora da ufrj regina herzog.
em sua apresentação, pinheiro definiu o “ser narcísico” como alguém com “pele de criança e garra de gavião”. “ele pode ser agressivo, mas é hipersensível. quanto mais sofre mais arrogante fica. até que ele não aguenta o sofrimento.”  a partir de sua experiência com jovens depressivos, a palestrante relatou haver uma característica comum entre eles: tinham poucas lembranças do passado e pouca projeção do futuro. “para eles só existia o presente. e uma narrativa muito imagética desse presente.”
a ausência dessa narrativa contínua, analisou, coincide com um período de perda da subjetividade do individuo, resultado das transformações sociais acumuladas nos últimos anos e da dissolução de referências. sem essa narrativa, explica, o adolescente passa a relacionar a imagem do “homem de sucesso” como um produto do acaso. “para alguns pacientes, a fonte de angústia e da depressão é que tudo está fora deles, e tudo passava pelo olhar, pela imagem. que imagem eu tenho? como o outro me vê? o que eu posso suscitar no outro? é algo que não sei o que é, mas que me é fundamental. o que esse outro vê, como ele me vê e o que eu suscito nele é o que eu sou. isso é o avesso da interioridade.”
confira os principais trechos da palestra:
mudanças e perda de referências
o mundo mudou de forma radical e numa velocidade sem precedentes, sobretudo a partir do surgimento da pílula anticoncepcional, que desarticulou a sexualidade da ideia de procriação. isso revolucionou a relação do sujeito com a sexualidade, principalmente as mulheres. a partir de então o movimento feminista passou a lutar para que as mulheres tivessem liberdade, mas não foi inventado um novo homem. ele é acusado machista, mas não se sabe qual homem seria o modelo ideal da contemporaneidade. os homens, por sua vez, não foram à luta para inventar este modelo.
antes as referências externas eram muito estáveis. o sujeito entrava na firma como boy, ficava lá por 35 anos, subia, e a história dele era a história desse trabalho. minha avó, por sua vez, sabia o que era ser uma boa mãe, uma boa esposa, uma boa filha, mesmo que ela não fosse. esses conceitos eram muito fechados. num determinado momento, isso se perdeu, porque esses conceitos estavam amarrados a um tipo de relação com o tempo, de família e produção, que mudou. e as referências passaram a ser internas. o que é certo e o que é errado se tornou uma questão individual. com isso, a ideia do coletivo se esfacela, e isso não é culpa da internet. a internet democratizou muita coisa. a informação deixou de ser algo pertencente a uma elite x, y e z. todo mundo tem direito. a relação com o tempo é a consequência da relação com o tempo que mudou. a ideia de saudade e de reencontro mudou. você encontra pessoas que você não via há um tempão pelo facebook. você não perde as pessoas de vista. ao mesmo tempo, não é preciso mais ter memória. essa ideia do intelectual que acumula saber não existe mais. a ideia de acumulação do saber desapareceu. pra que decorar conhecimento? não é preciso, desde que tenha um bom smartphone.
transtornos da contemporaneidade
os transtornos são uma reação a um tempo, como era a histeria em um tempo da repressão ao sexo. hoje é uma reação à pressão pela espontaneidade. a depressão, a inibição, as fobias sociais são uma reação a isso. os sintomas dessa época são os sintomas da oposição a essa exigência da sociedade.
jovens sem dimensão do futuro
o adolescente acha que a imagem do homem de sucesso vai cair do céu. para ele, é algo que simplesmente acontece, e só depende de sorte, ou se ele é bonitinho ou se está bem arrumado. e, como o futuro não acontece no dia seguinte, ele se deprime. para ele o tempo é algo intervalado. é uma sucessão de fatos. e acontecem independentemente deles. ele não é o agente da própria vida, do próprio destino. é só alguma coisa que pode dar certo ou pode dar errado. (…) quando voltei da europa, comecei a atender jovens e percebi que eles eram levados por uma grande angústia. tinham uma crise de ansiedade ou estavam muito deprimidos. me chamava a atenção o fato de que, para eles, não havia dimensão de futuro. do passado eles se lembravam pouco. tinham uma ideia aqui, uma imagem ali, mas nada muito valorizado. existia o presente e uma narrativa muito imagética desse presente. e me perguntava se a psicanalise serviria para essas pessoas. o modelo de histeria não servia.
nosso bebê, nosso heroi
era preciso pensar em uma alternativa. foi quando recorri a um texto de freud, de 1914, chamado introdução ao narcisismo. no fim do texto, ele fala sobre sua majestade, o bebê. segundo ele, o bebê é investido de figuras parentais. é ele quem vai indenizar os pais. “ela vai ser a princesa, ele vai ser um heroi”. e vão cumprir um projeto dos pais, vão passar pelas dificuldades incólumes, como eles não passaram. isso cria uma onipotência narcísica, um bebê que cresce achando que pode tudo, e que é falado o tempo todo pelos pais, não só sobre o que vai ser no futuro, mas terá atributos: tem a testa do tio, o mau humor da vó. vai ser, enfim, um bebê falado. mas ele é um bebe que não fala. vão dizer coisas dele que ninguém sabe se ele são verdades. ele é, portanto, um bebê inventado. freud afirma, assim, que a subjetividade humana é inventada pelos adultos. inventa-se a possibilidade de se projetar no futuro, como alguém que se desenvolve, como um personagem de shakespeare. mas e quando isso não acontece? será que no mundo de hoje a gente consegue idealizar tanto uma criança? ou já fomos tão marcados pela limitação do prazer que a gente sabe que essa projeção é impossível? e o que isso acarreta de diferença daquele bebê que ia ser um heroi? o heroi representa algo para nós? tem algum valor? a princesa não tem nenhum…
corpo e exterioridade
quando freud fala dessa criança onipotente, ele diz: os pais vão ter de cortar as asas delas em algum momento. se a criança tentar pular da janela, vão aparecer 30 pessoas para dizer: “você vai morrer”. pronto: acabou a onipotência. e a criança percebe que ela é mortal. essa consciência, nessa hora que a gente se percebe mortal, faz a gente entrar na roda do tempo. é a hora que a gente se dá conta de que a gente tem uma vida. quando usei a ideia de narcisismo, a hipótese é que este saber eu só suporto se for transitório. para poder lidar com isso, vamos criar uma série de mecanismos. e vou pensar: lá na frente eu vou ser o que eu quero. vou morrer, ok, mas vou conseguir isso, construir aquilo. e vou pensar que, tempos atrás, eu fui uma criança que teve uma porção de coisas. mas, nos pacientes, percebi duas coisas distintas. para parte deles, essa construção narcísica não foi feita. então o sujeito não tem esse bebê onipotente a quem possa recorrer na hora de desespero. ele nunca foi inflacionado (de perspectivas adultas).
o segundo caso é a ideia da depressão de “alguma coisa que eu perdi daquilo que eu fui e que eu não sei onde eu perdi que eu não sou mais”. é a ideia do sujeito do “eu fui uma criança espontânea, feliz, eu tinha um brilho que eu perdi. e eu não sei aonde eu perdi e quando eu perdi”. quando voltamos a essas questões narcísicas atuais, percebemos que falta uma narrativa sobre as próprias emoções. há uma dúvida sobre o que é amar, o que é paixão, o que é tristeza, o que é ansiedade. a maior parte vai parar no cardiologista. acha que o que sente é o coração, que vai ter um infarto. esse corpo não pertence a ele. ao mesmo tempo, essas pessoas só falavam do corpo, da doença, do músculo que doía, do coração apertado. é um corpo estranho a eles, separado da mente. eles falam sobre este corpo com a maior exterioridade.
eu, projeção do outro
a fonte de angústia e da depressão, para alguns pacientes, é que tudo estava fora, e tudo passava pelo olhar, pela imagem. que imagem eu tenho? como o outro me vê? o que eu posso suscitar no outro? é algo que não sei o que é, mas que me é fundamental. o que esse outro vê, como ele me vê e o que eu suscito nele é o que eu sou. isso é o avesso da interioridade do personagem shakespeariano. esse eu passou a estar fora de mim. é alguém que afirma quem eu sou que passa a deter toda a verdade daquilo que eu sou. e eu não tenho eco interno pra rebater isso.
esse personagem shakespeariano, preocupado com o que ele é, passa a ser o personagem preocupado com a imagem que ele tem.
antidepressivos e o medo de sofrer
em 2011, a organização mundial da saúde publicou um relatório em que previa que até 2020 a depressão seria a segunda maior causa de incapacidade no mundo. só perderia para a isquemia cardíaca. dos deprimidos, de 15 a 20% cometeriam suicídio. são dados catastróficos. esse relatório não é exagerado. a medicação é um recurso, mas há uma procura abusiva. a gente vive uma época de remédios. toma-se zinco, vitamina d…não é preciso nem ver o sol. os antidepressivos passaram a servir para tudo, até pra emagrecer e para curar dor muscular. todas as tristezas são chamadas de depressão. é feio ficar triste. (…) tem alguma coisa que é excessiva, ninguém quer sentir mais nada. tem quem busca tratamento para superar a dor do pai que morreu aos 80 anos. é natural que ele fique triste, mas se der pra passar batido pela dor das perdas…que passe.
alteridade ou barbárie
em algum ponto da virada dos anos 70 e dos 80 pra cá se perdeu a ideia de bem comum. só podemos pensar em pertencimento se pensarmos na ideia de bem comum. só vamos nos colocar no lugar do outro quando imaginarmos o outro no nosso lugar. quando rompo com a ideia de alteridade, entro na barbárie. eu posso matar uma barata porque ela não tem subjetividade. o gato de casa tem subjetividade. ele sente, sofre, se alegra, fica triste. eu empresto toda a minha subjetividade a ele. quando eu não empresto, eu posso matar. e posso fazer coisas horrorosas. o regime escravocrata foi montado nisso, na ideia de que o negro não tinha alma. na segunda guerra mundial foi a mesma coisa: os inimigos não são meus iguais, são diferentes.
selfie
a gente passa por um período em que é preciso reafirmar a existência. é como se a gente precisasse de provas de que a gente existe. essas provas podem ser: malhar cinco horas e chegar morrendo de dor porque eu sei exatamente onde terminam todos os meus músculos e eu existo. e podem ser os selfies. o selfie pode ser alimentar o olhar do outro. com ele o outro vai saber que você visitou estocolmo, que você abraçou o mickey. é como se, com o outro sabendo, eu realmente tivesse feito. é uma segurança de que eu sou eu. eu existo mesmo, não sou uma miragem.
e só existo pelo olhar do outro, e preciso que o outro me veja o tempo todo e diga: “a foto com o mickey ficou legal”.
big brother
uma vez me chamaram para falar sobre big brother, e isso me levou a assistir ao programa pela primeira vez. por sorte, era uma final, ou semifinal, e eu fiquei impressionada com o quanto aquelas pessoas choravam. tinha um quê de teatralidade naquilo: era preciso chorar muito para que os outros vissem que eles tinham emoção. então, todos choram. mas o que mais me impressionou foi que botaram uns eletrodos nos sujeitos para o (pedro) bial falar: “seu batimento está em 126. sua emoção é muito grande”. eu fiquei petrificada com aquilo. é como se a emoção, que não tem nome, tivesse um batimento cardíaco. é o que vai dizer que aquele sujeito sente alguma coisa. no fim, fiquei me perguntando se de uma maneira desajeitada o big brother não teria a função de dar nome a essas coisas. “para você acreditar, eu mostro o batimento cardíaco pra mostrar que você definitivamente é uma pessoa que sente coisas. não é ficção: isso está medido milimetricamente. pode ter certeza de que você é um sujeito de emoções”. e aquelas pessoas, ao precisarem mostrar as suas emoções, nos faz pensam que elas não têm. são pessoas que têm a expectativa de sair de lá como pessoas de emoção, que sentem raiva, ciúmes, que ficam ofendidas, que são raivosas, capazes de se vingar. coisas que, a principio, seriam banais.
solidão e arrogância
é um sofrimento avassalador imaginar que você só pode contar com você. e que, se você pedir ajuda, você vai fracassar. isso é de uma solidão…e é o grande termômetro dessa época. podemos combater isso ensinando que a convivência com os outros pode ser prazerosa. assim a ideia de solidão diminui. todo mundo quer ser gostado, mas é como se as pessoas tivessem se esquecido disso. uma pessoa que não estabelece contato, que não imagina que o outro pode ser parecido com ela, que está montada na solidão, se torna uma pessoa solitária e arrogante. e o sujeito arrogante é muito desagradável. o retorno é que as pessoas não vão gostar disso. isso leva o sujeito a agir com agressividade. esse ser narcísico é um ser com garras de gavião e pele de criança. se você disser “isso”, ele desmonta. é um hipersensível. e isso faz com que ele esteja fadado a um grande sofrimento. quando ele cai, ele volta geralmente mais arrogante. até que, chega uma hora, ele não aguenta mais.
FOnte: http://www.cpflcultura.com.br/wp/category/multimidia/videos/

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A vida é bela em Schopenhauer


O pessimismo pressupõe uma desesperança no futuro, uma previsão ruim daquilo que sobrevirá, ou, como encontrado nos melhores dicionários de nossa língua, "uma tendência para encarar as coisas pelo lado negativo". Mas o que dizer destas palavras: "A história nos mostra a vida dos povos, e nada encontra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas, entreatos, uma vez aqui e ali, e de igual maneira a vida do indivíduo é uma luta contínua, porém não somente metafórica, com a necessidade ou o tédio, mas também realmente com outros. Por toda parte ele encontra opositor, vive em constante luta e morre de armas em punho"? O que temos aí: extremo pessimismo ou puro realismo? Quem dentre nós poderá ser tão otimista ao ponto de negar a realidade que perpassa a história da humanidade e que pode ser encontrada, sem grandes dificuldades, em qualquer cena urbana ou privada, veiculada pelos meios da comunicação ou testemunhada na porta de nossas casas?
O nome Schopenhauer tornou-se quase sinônimo de "pessimismo" ao longo da história da filosofia. A tendência didática de rotular ou categorizar pensadores e correntes de pensamento estigmatizou um filósofo que teve como único e máximo pecado ser honesto para com sua filosofia, que concebe a vida, assim com todos os eventos da existência, como expressões diferentes da Vontade - uma força que apenas quer existir, se evidenciar num mundo que não passa de sua representação. Os quase dois séculos que nos separam de Arthur Schopenhauer, entretanto, talvez ainda não se constituam um obstáculo para uma defesa justa de suas ideias e para o vislumbramento de aspectos extremamente positivos de sua filosofia.
Zeitgeist
Expressão alemã que significa, em tradução aproximada, "espírito da época". O termo é bastante utilizado por ensaístas, sociólogos, historiadores e críticos de arte para descrever a época em que uma determinada obra artística ou movimento intelectual foi produzido. A banda de rock americana The Smashing Pumpkins lançou em 2007 um álbum intitulado Zeitgeist.

A época em que Schopenhauer viveu, na Europa do final do século 18 e início do século 19, tem algumas características peculiares, que podem muito bem dizer do Zeitgeistde então. Will Durant, em seu A história da filosofia, tenta encontrar razões para uma espécie de pessimismo comum àquele período. Diz ele: "Por que será que a primeira metade do século 19 levantou, como vozes da época, um grupo de poetas pessimistas - Byron na Inglaterra, De Musset na França, Heine na Alemanha, Leopardi na Itália [...] e, acima de tudo, um filósofo profundamente pessimista, Arthur Schopenhauer?", e acrescenta como resposta: "[...] Era bem difícil acreditar que um planeta tão lamentável quanto aquele que os homens viam em 1818 estivesse seguro nas mãos de um Deus inteligente e benevolente. Mefistófeles havia triunfado e todos os Faustos estavam desesperados". Durant também é loquaz ao dizer que "o pessimismo é o dia seguinte do otimismo".

Arthur Schopenhauer teve como pai, Heinrich Schopenhauer, um rico comerciante que, além de ser um homem rígido, era um marido rude, e que tem ainda contra si a forte suspeita de ter cometido suicídio atirando-se no canal de Hamburgo. A mãe, Johanna Troisener, era uma romântica, oprimida pelo marido, que só conheceu o bom da vida após a morte dele. Apesar do pai ter feito tudo para que o jovem Arthur se interessasse pelos negócios da família, não viveu o suficiente para decepcionar-se com o filho filósofo, enquanto a relação deste com a mãe foi uma das piores. Schopenhauer viveu grande parte de sua vida viajando pela Europa à custa do dinheiro herdado do pai. Foi um solitário, tinha um cachorro, ao qual deu o nome de Atman (termo hindu para alma), e pouquíssimos amigos. Para si mesmo, considerava sua vida como a ideal - a relação com os humanos não era nada fácil, portanto, preferia a solidão. No entanto, essa vida reclusa é rotulada por alguns autores como "uma vida infeliz", o que fornece um ótimo ingrediente para fomentar a denominação que darão a ele de "filósofo do pessimismo". Sua obraprima, O mundo como vontade e representação (1819), só conquistou leitores após sua morte, e Parerga e Paralipomena (1851) trouxe- lhe o tão desejado reconhecimento, mas ele não viveu o suficiente para usufruir dele, pois morreu nove anos depois, no dia 21 de setembro de 1860, solitário como viveu.
Todo homem, ilustre ou não, é fruto de seu tempo, e também vê o mundo à sua volta como a representação de si mesmo, assim como sentenciado por um antigo filósofo grego: "O homem é a medida de todas as coisas". Schopenhauer vê as coisas do seu tempo, mas, acima de tudo, abrange com seu olhar filosófico, quiçá com sua intuição (como talvez ele próprio preferisse dizer), o passado (constituído de suas incursões pelas escrituras hindus e budistas), o presente (imposto a ele frente a frente) e o futuro (projetado por sua invejável capacidade intelectual). Assim, sua filosofia traz, evidentemente, a sabedoria oriental, que inspira aqueles que buscam respostas para seu sofrimento nos ensinamentos religiosos; a compreensão do aqui-agora existencial, que une todos os povos e todos os indivíduos como uma única nação de aflitos; e a visão profética, que, relendo os eventos da vida, vaticina para todos, sem exceção, uma espécie de eterno retorno - um retorno ao nada existencial, como último consolo à existência sofrida.
Enxergar as coisas tais como elas são pode ser uma tarefa amarga, mas também pode trazer recompensas surpreendentes para aqueles que antes suspeitam de tudo que é doce demais. É, provavelmente, por essa razão que o filósofo de Danzig impôs a si uma vida de retiro e solidão, tentando ao máximo evitar dissabores provenientes das frágeis e vulneráveis relações humanas, percebendo que esses bípedes (como ele chamava os humanos) ainda não estão preparados para amor e amizade verdadeiros. Pensemos: quantas pessoas mundo afora já não se desiludiram no amor e na amizade, e como gostariam de jamais terem se apaixonado ou se dedicado fervorosamente a alguém? O pensamento schopenhaueriano é, sem dúvida, um antídoto para péssimos exemplos de relacionamento humano, ou até mesmo uma espécie de cura para males intrínsecos à própria condição humana.
Em seu A cura de Schopenhauer, Irvin D. Yalom (o mesmo autor de Quando Nietzsche chorou) apresenta-nos uma trama ficcional, na qual o filósofo, melhor dizendo, sua vida e obra, serve de tratamento para um personagem que sofre de compulsão sexual. O enredo do livro trata de um grupo de pessoas que participa de sessões conjuntas de terapia. Cada uma delas, é claro, está ali por um problema particular que precisa resolver, no entanto, todas elas se veem, de repente, bombardeadas por citações de Schopenhauer, recitadas pelo novo integrante, que acabam por dominar as discussões do grupo e, ao mesmo tempo, proporcionar, de forma inusitada, novas perspectivas em suas vidas. Esse livro é, sem dúvida, um exemplo maravilhoso de que, se deixarmos de lado o estereótipo tão massificado de uma filosofia pessimista em Schopenhauer, encontraremos nela sabores e aromas terapêuticos, insuspeitados e benfazejos a qualquer de nós - bípedes.
A frase "Nenhuma relação é perfeita porque as pessoas são imperfeitas", que abre o sétimo capítulo de Mais Platão, Menos Prozac (atualmente, uma espécie de manual do chamado aconselhamento filosófico), de Lou Marinoff, tem tudo a ver com o pensamento de Schopenhauer, colocando-o no páreo com os pensadores utilizados nos consultórios dessa prática filosófica e outras abordagens terapêuticas que exploram as mais inovadoras técnicas psicofilosóficas. Devido à sua extraordinária filosofia, a essência do pensamento desse filósofo orbita tranquilamente entre as máximas de Platão e Epicuro, de Buda e Kant, de Jesus e Nietzsche, sem comprometer o teor e a substância delas, nem o valor e a autenticidade de seus autores. Se o tédio, a angústia, a depressão e a tristeza podem ser vencidas com máximas filosóficas, aliadas a uma abordagem mais ampla e mais fidedigna (nem tanto racional) do mundo, o pensamento de Schopenhauer certamente pode desencadear a desilusão positiva, a desconstrução daquela ilusão criada pelo próprio indivíduo, em face de um mundo caótico, de uma vida infeliz e de uma realidade estressante.
A filosofia de Schopenhauer explica que a natureza interessa-se menos pelo indivíduo e mais pela sua espécie. Portanto, tenta preservar essa personalidade que chamamos de "eu" será sempre perda de tempo e acréscimo de sofrimento, pois esse "eu" não pertence a si mesmo, mas é parte de algo bem maior, um "nós", que é sua espécie. Se não há consolo em saber que essa personalidade desaparece no oceano existencial - para só então retornar infinitas vezes, como milhões de outras personalidades inconscientes de quantas pessoas já foram, quantas vidas viveram, o quanto amaram, foram amadas ou sofreram - não é culpa do filósofo que assim seja, ele é apenas o decifrador de um código da natureza, que a despeito de nosso apego e romantismo pela vida, do alto de sua sabedoria não racional, não enxerga aqui na Terra homens, mulheres, crianças, pais, filhos, amantes ou rivais, como fomos condicionados a ver aqui embaixo. Ele enxerga apenas a família, a espécie humana, que, num ato de pura vontade e necessidade, mantém a roda existencial girando indefinidamente.
Destemor da morte 
Dentre as contribuições positivas da filosofia schopenhaueriana para o bem-viver da humanidade, podemos citar a exortação ao destemor da morte, ou mais precisamente do valor dela em face de uma vida sofrida e miserável, e, acima de tudo, a compreensão de que ela nada mais é do que o fim de todo sofrimento, o retorno ao descanso, à quietude. Valorizar a morte pode parecer à primeira vista desvalorizar a vida, mas pode também dar novo significado à existência de quem se sente realmente um "lutador" neste mundo.
A vida da maioria de nós é literalmente uma "luta" e considerar a morte não como uma derrota, ou um fim inglório, e sim como retorno à quietude da própria essência, é comparável à promessa cristã de alcançar o céu ou à perspectiva budista de realizar o nirvana. Diz o próprio filósofo: "Trabalho, aflição, esforço e necessidade constituem durante toda a vida a sorte da maioria das pessoas", mas acrescenta, logo adiante, algo que eleva a dignidade humana: "Para uma tal espécie, como a humana, nenhum outro palco se presta, nenhuma outra existência". Pensamento tão claro e inspirador nos faz lembrar o poeta maranhense Gonçalves Dias, quando em versos nos diz: "Não chores, meu filho; não chores, que a vida é luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate que os fracos abate, que os fortes, os bravos, só pode exaltar". Ou como diria o próprio filósofo: "A felicidade está mais na realização do que na posse ou na saciação", de que concluímos resignadamente que "a vida sem tragédia seria indigna de um homem"
É Will Durant que nos vai lembrar que a filosofia de Schopenhauer semelha muito os ensinamentos do Cristo (e, é claro, os de Buda). Diz o historiador: "O cristianismo é uma profunda filosofia do pessimismo. O poder através do qual o cristianismo conseguiu vencer primeiro o judaísmo e depois o paganismo da Grécia e de Roma está unicamente no seu pessimismo, na confissão de que nosso estado é excessivamente deplorável e pecaminoso, enquanto o judaísmo e o paganismo eram otimistas". Nós, com facilidade, podemos encontrar passagens bíblicas que levam a considerações desse tipo, mas que, vistas por um outro prisma, apresentam a morte como uma valorização da vida. Vale lembrar que, proferidas por Jesus, essas considerações em favor da morte tomam ares de inspiradora fé no significado da própria vida. "Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrála- á", disse o Nazareno. E Buda assim se pronunciou: "Olhai ao vosso redor e contemplai a vida. Tudo é passageiro e nada duradouro. Só nascimento e morte, crescimento e decadência, combinação e dissolução". E ainda Epicuro, tendo examinado a vida, sentenciou: "A morte não nos concerne, pois quando somos, ela não é, e quando ela é, já não somos".
Quando o filósofo diz: "Tão próximo de nós se localiza uma região em que nos livramos de todo nossa miséria; mas quem é dotado de força para ali se manter?", quase podemos ouvir, concomitantemente, a voz do Filho do Homem, dizendo: "O Reino dos Céus está dentro de vós!", e a do Príncipe de Kapilvastu sentenciando: "Ninguém trilhará por ti o caminho - acenda tua própria lâmpada e ande!". Será que ainda restam dúvidas quanto à veracidade e à utilidade de tal filosofia? Será que é preciso um novo rótulo para o frasco de um remédio que, por ser amargo, não merece prescrição para males ainda mais amargos da existência? Creio que não. Schopenhauer diz com despojamento de filósofo o que os avatares ensinam ao modo dos deuses. "Quando, por um instante, conseguimos estar livres do jugo da vontade, da objetividade do querer que nos impulsiona, vivemos o estado sem sofrimento, considerado por Epicuro como o mais elevado dos bens e o estado dos deuses", diz o filósofo.
A vida magnânima do Cristo culminou com seu martírio, e a de Buda, com uma morte tão comum quanto a de qualquer dos mortais. Para seres excelsos, assim como para o homem comum (produto industrial da natureza, segundo Schopenhauer), a existência conduz inexoravelmente à morte, com maior ou menor grau de sofrimento em seu transcurso. O que condiz muito bem com sua máxima: "Uma vida feliz é impossível; o máximo que o homem pode conseguir é uma vida heroica". O filósofo defende que nós, seres humanos, nada mais somos do que a objetivação de uma vontade de existir. O que levará Durant a acrescentar em sua obra, com certa jovialidade e otimismo, páginas à frente: "A vontade, claro, é uma vontade de viver, e de viver ao máximo. Como a vida é cara a todas as coisas vivas! E com que paciência silenciosa ela irá esperar o momento propício", o que corrobora as palavras do próprio filósofo, ao dizer: "Mesmo no reino orgânico vemos uma semente seca preservar a força inativa da vida durante três mil anos e, quando finalmente ocorrem as circunstâncias favoráveis, desenvolver-se numa planta". Se ainda me for permitida outra comparação, não seria demais lembrarmos as seguintes palavras do mestre de Belém: "Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam".

São Francisco de AssisFrancesco Giovanni di Pietro Bernardone nasceu em 1182 (ou 1181) na cidade de Assissi (Assis), na Itália. Filho de um comerciante, conta-se que vivera uma juventude mundada e excessiva, dedicando-se posteriormente a uma vida religiosa e devotada aos pobres. Fundador da Ordem dos Frades Menores, ou Ordem Franciscana, sua figura é uma das mais admiradas pelos católicos.

A filosofia de Schopenhauer também realça aquela nobreza que cobre de louros o espírito e o caráter do ser humano, quando este consegue perceber que seu valor como protagonista da existência não está diretamente relacionado com suas posses, e que, por vezes, a riqueza é um entrave ao autoconhecimento, e a pretensa felicidade almejada jamais pode ser outorgada por outrem. Diz o filósofo: "Os homens estão mil vezes preocupados em ficarem ricos do que em adquirirem cultura, embora seja inteiramente certo que aquilo que um homem é contribui mais para sua felicidade do que aquilo que ele tem". E ainda: "A felicidade que recebemos de nós mesmos é maior do que a que conseguimos em nosso meio", o que vai concordar diretamente com Aristóteles, ao dizer que "ser feliz significa ser autossuficiente". Quantos homens não recebem honras apenas porque são ricos e poderosos, enquanto outros, verdadeiramente valorosos, são esquecidos, apenas porque são simples e sem posses?


Schopenhauer, ao tratar da renúncia das riquezas, cita Siddhartha Gautama São Francisco de Assis. Sobre este último, ele relata um evento em que, estando o nobre e jovem Francisco num baile em que se apresentavam as belas filhas dos notáveis da época, foi perguntado: "Então, senhor Francisco, não ireis brevemente eleger uma entre estas belas?", ao que teria respondido: "Elegi para mim uma muito mais bela! La povertá". O filósofo vê o apego à individualidade como "egoísmo", uma insensatez para com a qual a natureza não se permite compactuar. Ser um e, ao mesmo tempo, ser todos, ou pelo menos muitas possibilidades de ser muitos outros, é mais próprio e adequado ao fluir existencial, à vontade da Natureza, ou, se preferirmos, à vontade de Deus.
 Siddhartha Gautama
Príncipe de Kapilvastu é o título atribuído a Siddhartha Gautama, fundador do Budismo. Kapilvastu era um principado localizado na região de Lumbini, atualmente pertencente ao Nepal. Em algumas fontes de consulta, o nome do distrito aparece como Kapilavastu.
Alguns podem até achar falta de modéstia em Schopenhauer, mas, observando criteriosamente seus escritos, pode-se encontrar os créditos que ele declara a seus colaboradores, como quando diz: "Reconheço que o melhor de meu desenvolvimento próprio deve-se, ao lado da impressão do mundo intuitivo, tanto à da obra de Kant, como à dos sagrados hindus e à de Platão". Como homem culto que foi, fez um estudo aprofundado das religiões orientais, assim como do cristianismo e do judaísmo, e sua ética pode ser comparada tanto com a budista quanto com a cristã, conforme ele mesmo declara: "A todas as éticas da filosofia europeia, a minha se dispõe na relação do Novo Testamento ao Antigo, conforme o conceito bíblico desta relação. [...] Minha ética [...] possui fundamento metafísico, utilidade e objetivo: em primeiro lugar mostra teoricamente o fundamento metafísico da justiça e do amor humanos, e em seguida também aponta o objetivo a que estes, quando realizados com perfeição, devem conduzir. [...] Poder-se-ia denominar minha doutrina a filosofia propriamente cristã; por mais paradoxal que possa parecer àqueles que não atingem o cerne das coisas, mas permanecem em sua superfície".
O filósofo Friedrich Nietzsche (1844- 1900), ao tomar conhecimento da obra de Schopenhauer, ficou muito entusiasmado com o compatriota, chegando mesmo a escrever um livreto intitulado Schopenhauer Educador. Nele podemos ler logo de início: "Se tentar descrever o acontecimento que foi para mim o primeiro olhar lançado sobre os escritos de Schopenhauer, devo primeiramente me deter um pouco a uma ideia que me perseguia em minha juventude [...], imaginava que o terrível esforço, o temível dever de ter de me ocupar de minha própria educação me seria poupado pelo destino, porque encontraria no devido tempo um filósofo que fosse meu educador, um verdadeiro filósofo que pudesse ser seguido sem hesitar, uma vez que poria nele mais confiança do que em mim mesmo". Esse educador foi Schopenhauer, até Nietzsche romper com ele. Mas isso não diminui em nada o valor de Schopenhauer, e podemos continuar citando os elogios do homem-dinamite, enquanto admirador dele: "Sou desses leitores de Schopenhauer que, desde a primeira página, sabem com toda a certeza que lerão todas as outras e prestarão atenção à menor palavra que alguma vez tenha proferido".
Nietzsche, posteriormente, como mencionado, tornar-se-ia opositor daquele que antes chamara de seu "educador", mas tal rompimento é comum em discípulos que precisam se afastar de seus mestres para que suas próprias ideias não sejam ofuscadas. É muito fácil encontrar em Nietzsche falas que soam com o mesmo tom e timbre da voz de seu ex-educador. Além disso, o amor fati (amor pelo destino) nietzscheano pode parecer aos mais apressados uma contraposição à valorização da morte schopenhaueriana, mas, quando analisada de perto, demonstra-se quase irmã gêmea desta.
Revoltado com a insistente perseguição a sua filosofia, Arthur Schopenhauer lança seu grande desabafo contra as forças dominantes do pensamento filosófico de então, para colocar cada um em seu lugar. "Agora terei de ouvir novamente que minha filosofia é desesperada somente porque me expresso conforme a verdade, mas as pessoas querem que se lhes diga que o Senhor Deus tenha feito tudo do melhor modo. Dirijam-se à igreja, e deixem em paz os filósofos. Ao menos não exijam que estes exponham suas doutrinas conforme seus ensinamentos: isto, fazem-no os trapaceiros; os filosofastros: a estes, podem encomendar doutrinas à vontade".
Durant tece seus elogios ao filósofo de Danzig da seguinte forma: "Devemos a Schopenhauer o fato de nos ter revelado nossos corações secretos, de nos ter mostrado que nossos desejos são os axiomas de nossas filosofias e de ter aberto caminho para uma compreensão do pensamento não como um simples cálculo abstrato de eventos impessoais, mas como um inflexível instrumento de ação e de desejo".

 Thomas Morus

Príncipe de Kapilvastu é o título atribuído a Siddhartha Gautama, fundador do Budismo. Kapilvastu era um principado localizado na região de Lumbini, atualmente pertencente ao Nepal. Em algumas fontes de consulta, o nome do distrito aparece como Kapilavastu.

A função da filosofia é, sem dúvida, promover o melhoramento da qualidade cultural e intelectual do ser humano, para que a humanidade, como um todo, seja favorecida e possa caminhar a passos largos para melhores dias, deixando escrito nas páginas invisíveis da história os relatos de lutas e glórias que perfazem a existência da espécie humana, mas não cabe a ela, de modo nenhum, instrumentar-se de mentiras doces e de vãs lucubrações somente para, sentada no trono de "mãe das ciências", governar o "Reino de Utopia", de tal forma a envergonhar até mesmo o grande  Thomas Morus, que provavelmente se contorceria em seu túmulo de tanto asco e revolta.
O filósofo do pessimismo, como ficou conhecido Arthur Schopenhauer, tem muitas coisas positivas a ensinar tanto aos miseráveis quanto aos prósperos, tanto aos bípedes sem instrução quanto aos bípedes bem-instruídos, tanto aos pessimistas quanto aos otimistas. A beleza de sua filosofia não é óbvia e vulgar como alguns gostariam que fosse, ela é como o véu de Maya dos hindus, que impõe ao comum dos homens uma ilusão multicolorida, enquanto esconde por trás de si o esplendor da eternidade. O próprio filósofo pode nos dizer algo sobre isso, para que tudo o que aqui foi dito não fique como não dito: "Mas certamente a verdade será sempre paucorum hominum, e portanto deve esperar, tranquila e comodamente, pelos poucos que, por terem um modo de pensar fora do comum, possam achá-la. [...] A vida é curta, mas a verdade vai longe e tem vida longa; falemos a verdade".
* Jaya Hari Das é graduado em filosofia pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, professor da rede estadual de ensino do Maranhão e colaborador da revista Conhecimento Prático Filosofia.

Fonte: http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/27/artigo191876-4.asp

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A influência das tecnologias da informaçâo e comunicaçâo - tic’s - na vida das crianças e adolescentes





mundo está se transformando, novas descobertas acontecem e a distância entre o presente e o futuro se torna cada vez menor. A sociedade contemporânea vem enfrentando dia-a-dia as mudanças impostas pela evolução tecnológica, acompanhando e impulsionando esta transformação social e cultural. A tecnologia não apenas cria novos espaços de possibilidades a serem explorados, como também afeta diretamente o modo como as pessoas aprendem, pensam e se relacionam.Cada vez mais cedo presenciamos cenas de crianças usando e portando celulares, dominando jogos de vídeo game, passando horas em frente à televisão e entrando em contato com o mundo através da internet.
As TIC’s vem contribuir como instrumentos a serviço das pessoas e são excelentes ferramentas para ampliar o conhecimento, suscitar a curiosidade, trocar e aprender. O computador e o recurso da Internet - que é uma fonte de pesquisa e interatividade, possibilita o contato com o mundo, e permite o contato virtual entre as pessoas. Dados recentes demonstram que mais de 20 milhões de pessoas acessam diariamente a Internet com os mais variados interesses e necessidades, uma vez que ela acabou se tornando a intermediária de relações pessoais e comerciais.
Esta interatividade faz parte do dia-a-dia, mesmo aquelas pessoas que se dizem não dominar ou não gostar desta ferramenta, em algum momento vão acessar um caixa eletrônico ou se utilizar de um cartão bancário, estamos hoje completamente envolvidos de alguma forma pelas tecnologias.
Em estudo feito pelo UNESCO, o tempo que as crianças e adolescentes gastam assistindo TV é 50% maior que o tempo dedicado a qualquer outra atividade do cotidiano. Este resultado deve-se muito ao momento atual em que as famílias se encontram. Pais precisam cada
vez mais trabalhar fora, mães também estão saindo de casa por muito mais tempo e restam as crianças a companhia de pessoas que as cuidam (empregadas, avós,...) e das tecnologias.
Crianças e adolescentes sofrem diariamente a influência das tecnologias, acabam formando conceitos e conhecendo o mundo através destes contatos, mundo este fascinante e envolvente. Com certeza os avanços da tecnologia fascinam a todos, mas é preciso estar atento as conseqüências impostas pela utilização destes recursos.Alguém já se imaginou sem usar um celular? Com certeza nos dias de hoje isto seria difícil, quando começamos a utilizar um recurso, antes dispensável, ele passa a fazer parte de nossa rotina e acaba se tornando indispensável. Como é desagradável quando ao conversar com alguém esta pessoa atende o celular, será que poderia esperar? Isto também é um reflexo da sociedade da pressa, da correria, em que cada minuto precisa ser aproveitado.Neste ambiente de pressa, do descartável encontramos nossas crianças e jovens reproduzindo estes modelos, usando o celular o tempo todo, trocando de aparelho a cada temporada por um novo lançamento.
O telefone celular é uma das tecnologias que tem contribuído muito na nossa atual rotina contemporânea, mas são necessários alguns cuidados por parte dos pais, quanto a sua utilização adequada e as trocas constantes, Cabe aos responsáveis – PAIS - o controle e a orientação. Celulares, iPods e outros dispositivos de alta tecnologia fazem parte de crescer em um mundo digital. Mas é necessário se preocupar com a quantidade de tempo que as crianças e adolescentes gastam nisto, buscando impor algum controle, limitando o tempo e o local de uso. Os pais devem também provocar interesse para que seus filhos se ocupem com outras atividades como esportes e contatos pessoais, na busca de uma melhor qualidade de vida.
Um outro ponto a ser destacado é a interferência das tecnologias, principalmente a internet, gerando problemas no convívio social e familiar, gerando isolamento, dependência e falta de diálogo, ela pode se tornar um vício ameaçador. Ela deve ser uma ferramenta útil e utilizada de forma adequada sem prejudicar o andamento da vida de cada um. Algumas estratégias podem auxiliar no controle deste recurso, principalmente na navegação da internet, checando os sites, usando filtros para bloquear material questionável, acompanhar as crianças quando estão navegando. Outra estratégia é manter o computador em uma área comum, isto tudo contribui para melhor monitorar os hábitos online de crianças e adolescentes. Hoje é muito comum jovens e até crianças frequentarem as Lan houses, ambiente que também deve ser monitorado e controlado pelos adultos
Nesse mundo virtual atual, circulam verdades e mentiras na mesma velocidade, realidade e fantasia, o legal e o fora da lei podem estar lado a lado sem saber, usando das mesmas armas. Se quisermos ter um desenvolvimento adequado de uma sociedade e do ser humano, teremos que aprender a exercer o controle e estimular a iniciativa. A Internet tem muito a nos oferecer, mas também é o caminho para o outro lado dessa história, pois através dela adolescentes podem conhecer pessoas mal intencionadas, como já se viu em inúmero casos divulgados na mídia. Borges, em seu artigo Crianças e Adolescentes na Internet: a responsabilidade dos pais (2007)cita “a Internet pode representar tanto um bem como também um mal, existe um ditado popular que diz que a dose é a distância que separa o remédio do veneno”. Esta comparação é muito adequada especialmente porque a dosagem deve ser prescrita e ministrada pelos pais.
Crianças e adolescentes hoje estão deixando a infância e a adolescência passar... Os pais devem exercer o papel de proteção e cuidado, estar mais perto de seus filhos e participar mais de suas vidas.
Fonte: http://nenalegal.blogspot.com.br/