Filosofia Circular

segunda-feira, 25 de março de 2013

Montesquieu e a escravidão


Charles-Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu, nasceu em 18 de janeiro de 1689 no castelo de La Brède, perto de Bordéus, França, Montesquieu era membro de uma família da aristocracia provincial. Fez sólidos estudos humanísticos e jurídicos, mas também freqüentou em Paris os círculos da boêmia literária. Montesquieu morreu em Paris, em 10 de fevereiro de 1755, suas teorias exerceram profunda influência no pensamento político moderno. Inspiraram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada em 1789, durante a revolução francesa, e a constituição dos Estados Unidos, de 1787.
Althusser escreve que, “Declarar Montesquieu o fundador da ciência política é uma verdade adquirida. Desse-o Auguste Comte, repetiu-o Durkheim e nunca ninguém contestou sèriamente tal afirmação” (1977, p. 17).
Montesquieu é leitura obrigatória dentro do ensino de sociologia, onde possui um potencial em seu desprendimento e próprio entendimento para compreender as objetivações sociais das épocas modernas assim como as precedentes.    
A sociologia em Montesquieu
Montesquieu parte do estudo da diversidade, costumes, idéias, leis, instituições procurando organizar esta diversidade. Segundo Aron, “Montesquieu seria [...] um sociólogo que investiga a influência que o clima, a natureza do solo, a quantidade de pessoas e a religião podem exercer sobre os diferentes aspectos da vida coletiva”. (2003, p. 10). Travando a questão das influências dos meios geográficos como solo e clima pertencendo ao estudo das causas físicas. O que ocorre muito é que para Montesquieu o temperamento, a forma de ser e viver, estão relacionados ao clima, dessa forma “[…] parece acreditar que um certo meio físico determina diretamente uma certa maneira de ser fisiológica, nervosa e psicológica dos homens”. (ARON, 2003, p. 33).
            Como livro celebre e do qual deixou um emaranhado de pensamentos, estaria O espírito das leis, do qual Aron cita, “[...] a intenção de O espírito das leis, pelo que me parece, é evidentemente sociológica” (2003, p. 4). E, a partir da sociologia de Montesquieu é que pensamos elaborar o seu conhecimento junto ao que entendia por escravidão.
Montesquieu e a escravidão
A escravidão é um direito ao qual torna um homem tão sujeito a outro homem, este tem, portanto o direito de “posse”, ou melhor o escravo não passa de mercadoria. Montesquieu admite que a escravidão não é boa nem para o senhor muito menos para o escravo. Quanto aos países despóticos nos quais já se vive em uma escravidão política, a escravidão civil é tolerável.
Na monarquia não deve haver escravidão, na democracia e na aristocracia escravos são contrários aos princípios da constituição. Montesquieu começa a elaborando o princípio do direito à escravidão, primeiro dentro dos jurisconsultos romanos, que a elaboram de três maneiras. Pelo direito das gentes que quis que os homens que fossem prisioneiros tornassem escravos para que não fossem mortos. O direito civil dos romanos no qual permitia que devedores pudessem ser maltratados por seus credores e que vendessem a si mesmos. E o direito natural, que a criança que tivesse incapacidade de sustentá-la também se tornaria escrava como seu pai.
Não existe nas três razões sensatez para Montesquieu primeiro porque não se legitima que se possa matar na guerra, não é verdade que um homem livre vende a si mesmo, e terceiro, cai com as duas outras, “[...] pois se um homem não pode vender-se, muito menos pode vender seu filho que ainda não nascera. Se um prisioneiro de guerra não pode ser reduzido à servidão, podem-no ainda menos que os seus filhos” (MONTESQUIEU, 1996, p. 255).
O problema é que a lei da escravidão está sempre contra o escravo, nunca a favor dele. [2] O que torna a visão de ser-lhe útil para Montesquieu pelo fato do escravo ser alimentado pelo senhor, receber, malevolamente as necessidades fisiológicas, que na realidade não passam de utensílios para mantê-lo vivo. Para Montesquieu a escravidão é tão oposta ao direito civil quanto ao direito natural. [3]
A outra forma escravocrata para Montesquieu seria a escravidão devido a diferentes costumes, que levariam os homens a pensarem, imaginarem o altruísmo alheio, ao não adentramento dos mecanismos da escravidão, tornar o outro escravo pelo fato deste possuir um costume antagônico ao seu, ou melhor, diferentes meios de realizar a vida em sociedade.
Lopes de Gomara conta “que os espanhóis encontraram perto de Santa Marta cestos onde os habitantes guardavam seu alimento: eram caranguejos, lesmas, cigarras, grilos. Os vencedores fizeram de tal coisa um crime dos vencidos”. O autor confessa que foi sobre isto que se fundamentou o direito que tornava os americanos escravos dos espanhóis, além de eles fumarem tabaco e de não fazerem a barba a espanhola. (MONTESQUIEU, 1999, p. 256)
          

            Também a religião é uma forma de manter servos aos bel-prazeres dos religiosos.
Mas como todos os homens nascem iguais, é preciso dizer que a escravidão é contra a natureza, ainda que em certos países esteja fundada numa razão natural; e deve-se distinguir bem estes países daqueles onde as próprias razões naturais a rejeitam, como os países da Europa, onde foi tão felizmente abolida. (MONTESQUIEU, 1999, p. 258). 
Dessa forma, Montesquieu sintetiza a declaração dos direitos do homem e do cidadão, observando que todos os homens nascem livres e iguais, assim seria a escravidão contra a natureza humana.
Se na Europa já havia sido abolida a escravidão, países como o Brasil levaria mais ou menos 150 anos para ser abolida. Regiões como o Rio Grande do Sul recebeu um grande contingente de escravos, o que torna dizer que a escravidão como meio de benefício ocasionou em uma ruptura com os moldes econômicos e sociais. Para se ter uma idéia em 1888 quando foi declarada a abolição da escravatura apenas 5% da população era escrava, as pessoas que queriam a liberdade dos negros não possuíam escravos, então a ruptura não foi tão grande economicamente e nem socialmente.
Desde o princípio “[...] as leis foram malfeitas, foram encontrados homens preguiçosos: porque estes homens eram preguiçosos, foram submetidos à escravidão” (MONTESQUIEU, 1996, p. 259), não seria esse motivo para se deslocar homens a uma escravidão, os índios no Brasil sempre foram tidos como preguiçosos, porém muito foi usado de seus serviços. Primeiro o índio diferente do negro tinha conhecimento do território em que vivia e dessa forma não tendo como mantê-lo em lugar privativo, acabava ficando difícil o excesso. Segundo, o índio não tinha costume de tempo de trabalho e outras coisas, não havia em sua tribo a tarefa árdua de determinado a fazer. O negro, era trazido das regiões da África chegando ao Brasil sem qualquer conhecimento do território que estava em questão, não tendo condições propicias para fugir pelo fato de não conhecer o território, não conhecer o idioma, e caso fugisse não ter lugar onde pairar.
Aqueles que mais falam a favor da escravidão teriam por ela um maior horror, e os homens mais miseráveis também teriam horror por ela. O clamor pela escravidão é, então, o clamor pelo luxo e pela voluptuosidade e não pelo amor da felicidade pública. Quem pode duvidar de que cada homem, em particular, não ficasse muito contente de ser senhor dos bens, da honra e da vida dos outros, e que todas as suas paixões não despertassem rapidamente a esta idéia? Nestas coisas, se quiserem saber se os desejos de cada um são legítimos, examinem os desejos de todos. (MONTESQUIEU, 1996, p. 260).
Montesquieu identifica duas formas de servidão; a real, aquela que segundo ele ata os escravos à gleba, no que cada um deve entregar uma porcentagem do que produz ao seu senhor. E, a servidão pessoal, que se “[...] trata do ministério da casa e está mais relacionada à pessoa do senhor” (MONTESQUIEU, 1996, p. 260).
O abuso extremo da servidão acontece quando ela é, ao mesmo tempo, pessoal e real. Tal era a servidão dos ilotas entre os lacedemônios; eram submetidos a todos os tipos de insultos dentro da casa: esta ilotia é contraria à natureza das coisas. Os povos simples só possuem uma escravidão real, porque suas mulheres e seus filhos fazem o trabalho doméstico. Os povos voluptuosos possuem uma escravidão pessoal, porque o luxo requer o serviço de escravos dentro da casa. Ora, a ilotia reúne, nas mesmas pessoas, a escravidão estabelecida entre os povos voluptuosos e a escravidão estabelecida entre os povos simples. (MONTESQUIEU, 1996, p. 261).
Dessa forma, as leis civis devem ter como objetivos suprir os abusos e os perigos da escravidão. A escravidão deve ser útil e não “voluptuosa” Montesquieu cita que entre os Lombardos havia uma lei que fisgava a incontinência dos senhores, pelo fato de que se o senhor dormisse com uma escrava ambos tornavam-se livres.
O Brasil durante quase 300 anos sofre escravidão, negros eram trazidos da África e feitos como escravos sem a menor piedade, em cada província ou mesmo em qualquer lugar do país era difícil não encontrar um tronco no meio da praça para chicotear os escravos que infligissem qualquer regra do senhor, com as constantes medidas inglesas de interromper o tráfico negreiro primeiro em 1850 com a lei Bill Albensen que determinava alvo dos navios britânicos qualquer embarcação que contivesse negros para serem escravizados no oceano.
Então a melhor forma encontrada pelos portugueses para que não se extinguisse a escravidão, foi incentivar as negras a terem filhos, e por sinal pediam muitos, tão pouco era normal um senhor dizer à negra que se ela parisse 7 filhos seria libertada, porém quando chegava no 6 era vendida a outro senhor que repetia a mesma conversa. O senhor mantinha sem maiores problemas relações sexuais com a sua escrava, porém a mulher do senhor jamais poderia, porque o filho seria um liberto, e se o filho fosse do senhor com a escrava o filho permaneceria escravo. Na realidade, era normal a relação sexual senhor-escrava, a mulher era apenas para dar-lhe filhos herdeiros e a escrava para dar-lhes prazer, tão pouco, muitas escravas foram mortas por ciúmes de suas senhoras.
Há a diferença de escravidão de Estado para Estado, que geralmente passa a ser sentida pelos cidadãos que ocupam todos os Estados. No governo despótico a escravidão civil não é tão sentida pela escravidão política que já é perene, cidadãos livres como escravos caminham quase que lado a lado.
O que não acontece em repúblicas libertas onde a liberdade política da mesma forma torna a liberdade civil preciosa, não é necessário possuir muitos escravos, para Montesquieu quem é privado da liberdade civil acaba sendo privado da liberdade política. “Nada aproxima mais da condição dos animais do que ver sempre homens livres e não sê-los”. (MONTESQUIEU, 1996, p. 263). Dessa maneira, o escravo vê a liberdade dos outros, porém não pode possuí-la, acabam sendo perigosos para a sociedade em que estão submetidos. Nos estados chamados de moderados por Montesquieu, ocorre um grande índice de revoltas, o que não é comum nos estados despóticos onde a repressão é maior, e feita com mais intensidade.
É menos perigoso armar os escravos na monarquia do que nas republicas. Naquela, um povo guerreiro, um corpo na nobreza conterão suficientemente esses escravos armados. Na republica, homens unicamente cidadãos não conseguirão conter pessoas que, com armas na mão, vão considerar-se iguais aos cidadãos. (MONTESQUIEU, 1996, p. 263).
Montesquieu imagina que em uma república onde os cidadãos são em certa forma livres é mais difícil conter os escravos pelo fato de que homens livres possuem pouca habilidade com armas ou mesmo meios para que não se manifestassem vontades de seus “súditos”, o que não ocorre na monarquia em que à nobreza tendo já a continuidade de suas monções de conhecimento com armas, por exemplo, torna mais fácil para conter a manifestação escrava quando houver. Dessa forma, “Quando toda a nação é guerreira, os escravos armados ainda são menos temíveis” (MONTESQUIEU, 1996, p. 264).
Montesquieu observa que “Os primeiros romanos viviam, trabalhavam e comiam com seus escravos, tinham com eles muita brandura e equidade; [...]” (MONTESQUIEU, 1996, p. 264), o que não ocorre posteriormente, isso leva a pensar que além da questão funcional de escravidão haver mudado também o conceito escravidão mudou muito, entre os romanos não se tinha relações de escravidão tão enraizado quando se vê nos séculos posteriores. Muito se vincula escravidão aos negros o que na realidade não ocorria entre os romanos, escravos eram aqueles que eram capturados, que eram feitos escravos a partir da captura. “Os homens acostumam-se com tudo, até mesmo com a servidão, contanto que seu senhor não seja mais duro do que a servidão” (MONTESQUIEU, 1996, p. 264).
O escravo era devedor de tudo para o senhor, era necessário que lhe desse mais que benefícios materiais, ou de trabalho, tivesse-lhe de dar quase que a vida, a mercadoria, ou melhor, sua força de trabalho não era suficiente.
O senhor tendo a suposta posse de seu escravo, deve cuidá-lo e manter suas disposições não partir para a conotação de deixá-lo de lado ou não lhe prestar a devida assistência, quando tomado por motivos à posse deve, portanto cuidar do que possui dando-lhe a alimentação, roupa, a própria perda da propriedade seria um prejuízo, dessa forma entraria a questão até onde à escravidão é válida, se quando se tem o escravo o possuidor deve manter suas necessidades fisiológicas e quando o trabalho é assalariado teria apenas que manter o pagamento do valor estipulado ao trabalhador. “Cláudio ordenou que os escravos que tivessem sido abandonados por seus senhores quando estavam doentes seriam livres se fugissem. Esta lei garantia sua liberdade; teria sido preciso que garantisse sua vida” (MONTESQUIEU, 1996, p. 266). A não assistencialização para o escravo levaria a um desregramento da posse do senhor isso ao que Montesquieu entende na Roma antiga.
A lei de Moisés era muito rude: “Se alguém bater em seu escravo e este morrer sob sua mão, será punido; mas, se sobreviver um dia ou dois, não o será, porque se trata de seu dinheiro”. Que povo era aquele, em que era preciso que a lei civil se distanciasse da lei natural. (MONTESQUIEU, 1996, p. 266).
Outro exemplo de religiosidade darwinista se justifica até mesmo pela Bíblia, na Gênesis, Noé que era lavrador, plantando uma vinha, e bebendo-a acabou nu em um seleiro, Noé possuía três filhos, Cão, Sem e Jafé, Cão vendo o pai bêbado e nu, acabou falando a Sem e Jafé, dentro da tradição judaica um filho jamais pode ver um pai nu, então Sem e Jafé de costas colocarão um manto em Noé. Este sabendo do acontecido e do comentário de Cão lançou a maldição sobre todos os discípulos de Canaã, que viria a ser filho de Cão, que este seria escravizado pelos discípulos de Sem e Jafé. Assim, a justificativa dos negros terem sido escravizados por tanto tempo, pois Cão representava povos de cor.
Montesquieu trabalha muito com a escravidão romana. Cita que entre os gregos o escravo que fosse mal tratado por seu senhor seria vendido para outro o que nos últimos anos em Roma também se produziram uma lei parecida. “Um senhor irritado contra seu escravo e um escravo irritado contra seu senhor devem ser separados” (MONTESQUIEU, 1996, p. 266). Logo, o estado comandava as relações senhor – escravo, não havia uma autonomia para o senhor decidir o futuro ou mesmo o que fazer para seu escravo.
Podemos perceber que no governo republicano, quando se têm muito escravos, é preciso alforriar muitos escravos, é preciso alforriar muitos. O mal está em que, se se têm muitos escravos, eles não podem ser contidos; se se têm libertos demais, eles não podem viver e se tornar um peso para a republica: além de que esta pode também estar em perigo devido a um numero muito grande de escravos e devido a um numero muito grande de libertos. Logo, é preciso que as leis estejam atentas a estes dois inconvenientes. (MONTESQUIEU, 1996, p. 267).       
Assim, Montesquieu define que é necessário que a república mantenha-se em continuo fluxo de intermediações, saiba controlar o número de libertos como o número de escravos. 
Fonte:www.consciencia.org

terça-feira, 19 de março de 2013

Os 10 grandes mitos do Egito Antigo


A antiga sociedade egípcia sempre esteve envolta em uma aura de mistério e sempre fascinou o resto do mundo.  A cada descoberta arqueológica os olhos da civilização moderna se voltavam para esta grande nação do passado. Pelo fato de tanto mistério envolver esta fantástica civilização é que surgiram inúmeros mitos, nesta listas vamos apontar alguns deles.

10º - A beleza de Cleópatra
Cleópatra VII, o último faraó do antigo Egito, sempre foi tida como um símbolo de beleza sedutora e encantadora, o que ajudou a perpetuar esta idéia foram justamente a literatura e o cinema, de Shakespeare a Joseph L. Mankiewicz. Porém moedas romanas mostram Cleópatra como possuidora de características masculinas como um nariz grande, queixo protuberante e lábios finos, pelo que sabemos estas características não fazem parte de nenhum modelo de beleza feminina em praticamente todas as culturas. Em contra partida ela era conhecida por sua inteligência e carisma, isso ela tinha em excesso.
9º - Obcecados com a morte
Pirâmides, múmias e deuses imponentes. A combinação desses elementos nos faz pensar que a sociedade egípcia estava extremamente preocupada com a morte, mas ao observar todo o trabalho de mumificação, e as inscrições dos túmulos logo percebemos que o pensamento era outro, era a glorificação da vida. Nos túmulos o que se mostrava era a celebração da agricultura, caça e pesca; sempre referências das atividades realizadas em vida. A mumificação era a forma de manter o cadáver pronto para dar continuidade a vida cotidiana só que em outro plano idealizado. Isto mostra claramente que eles eram obcecados sim com a vida.
8º - Alienígenas
Um dos mitos mais comuns é que a cultura egípcia teve uma ajudinha extraterrestre, o que seria um insulto total para os grandes arquitetos e matemáticos do Egito antigo. O que leva a este tipo de idéia são justamente a grandiosidade e precisão da Pirâmide de Gizé, que por mais de 4000 foi a estrutura mais alta do mundo; mas ela é simplesmente fruto da engenhosidade dos especialistas da época. Com certeza os egípcios não fizeram um intercâmbio com engenheiros aliens, simplesmente as nações antigas não tinham o conhecimento e as técnicas adequadas para realizar tais feitos até o século 19.
7º - Segredos esgotados ou revelados
Muitos acreditam que todos os mistérios do Egito antigo foram revelados, e que a Egiptologia não tem mais para onde evoluir e que deveria ser extinta, o que é um pensamento totalmente incorreto e incoerente. Diariamente descobertas fantásticas são realizadas e cada vez mais é lançada uma nova luz sobre esta fascinante civilização. Recentemente “um barco solar” foi retirado da Grande Pirâmide de Gizé. Especialistas presumem que este barco solar permitia que os faraós mortos fossem ajudados na batalha eterna entre o deus sol Ra e Apep, o demônio da escuridão. Todas as noites, Ra levantaria as velas de seu barco solar para combater Apep e ao amanhecer ele voltaria triunfante.
6º - Hieróglifos
Existe uma idéia comum de que os egípcios criaram os hieróglifos, sendo que provavelmente eles eram trazidos para o Egito por invasores da Ásia Ocidental. Outro mito existente era que os hieróglifos seriam uma linguagem de maldições ou encantamentos, sendo que em boa parte das vezes eles eram representações históricas. As maldições são raramente encontradas e quando aparecem são do tipo “ele não deve ter nenhum herdeiro” ou “seus anos de vida devem ser diminuídos”. Uma curiosidade: até a descoberta e tradução da Pedra de Roseta em 1798, a maioria dos estudiosos acreditavam que os hieróglifos eram apenas ilustrações e não um alfabeto.
5º - Decoração das pirâmides
Muito pensam que o interior das pirâmides era extremamente decorado com hieróglifos e outros itens, porém o que tem sido constatado é que elas são relativamente sem decoração. Para se ter idéia as pirâmides de Gizé foram feitas para serem absolutamente vazias por dentro, sem nenhum tipo de adorno. Quando existia algum diferencial decorativo eram alguns setores que possuía uma pintura diferente, como alguns pilares que foram pintados de branco ou vermelho o que não muda a sua aparência austera, no geral por serem feitas de pedra calcária, as pirâmides tinham o aspecto de qualquer edifício antigo construído com pedras.
4º - Assassinato dos servos do faraó
Quando os faraós morriam, todos os seus servos eram mortos e enterrados com ele. Esta afirmação falsa já foi repetida inúmeras vezes. Este fato realmente aconteceu, mas com somente dois faraós da primeira dinastia do Egito, isto mostra a tendência humana de se generalizar as coisas, já que de trezentos faraós, dois cometeram este ato e logo se criam um mito. Os faraós sabiam que os servos vivos trariam mais benefícios do que mortos, daí que foram criados os “shabtis” que eram estátuas funerárias cuja função era ser animadas no além para ajudar o faraó.
3º - Os escravos não construíram as pirâmides
A idéia de que as pirâmides foram construídas por escravos surgiu através do historiador grego Heródoto em seu relato do século 5 aC. Quando os túmulos com os restos mortais dos construtores das pirâmides foram achados ao lado das pirâmides de Gizé, a teoria de Heródoto perdeu força, pois ser enterrado ao lado do faraó seria uma grande honra, estas que provavelmente meros escravos não teriam. Também foi descoberto em escavações, grandes quantidades de ossadas bovinas, e no Egito a carne de boi era uma iguaria para poucos, o que leva os pesquisadores a pensar que a construção foi realizada por especialistas altamente qualificados.
2º - Israelitas escravizados
Este item pode levantar muita polêmica, pois até hoje não existem evidências de que o Egito escravizou israelitas. Até agora em seus registros não foram encontrados nada que mencionasse tal fato, nem as dez pragas, nem uma fuga em massa, o que iria provocar um colapso econômico no antigo Egito, mas no suposto período do êxodo a economia do Egito prosperou.
1º - A maldição dos faraós
A maldição do faraó é caso clássico de mito super difundido na mídia e que gera muita susceptibilidade pública. Tudo começou com a morte do patrocinador da expedição, Lord Carnarvon e outros membros que participaram da descoberta. Existem teorias de que fungos perigosos e gases acumulados no interior da tumba poderiam ter causado as mortes, mas para morrer não é necessária uma explicação especial. Apenas oito dos 58 presentes na descoberta da tumba morreram dentro de 12 anos.
O líder da expedição e alvo mais óbvio da tal maldição viveu por mais 16 anos. As outras mortes foram somente coincidências ou conseqüências naturais, mas pelo fato de terem feito parte da “expedição maldita” se criou todo um mito que vem se perpetuando de geração a geração. Isto mostra como qualquer história que mexa com as emoções do povo podem gerar mitos extraordinários que nada tem a ver com os fatos.
Fonte: www.jornalciencia.com

quinta-feira, 14 de março de 2013

Técnicas de persuasão e lavagem cerebral utilizadas pelas igrejas

 lavagem
"Conversão" é um eufemismo para "lavagem cerebral". Qualquer estudo sobre o assunto tem necessariamente de mencionar algo sobre a Renovação Cristã na América do século XVIII. Em 1735, Jonathan Edwards descobriu as técnicas por acidente durante uma cruzada religiosa em Northampton, Massachusetts. Percebeu que induzindo culpa e tensão, os "pecadores" presentes sucumbiam e submetiam-se completamente aos seus comandos. As técnicas estão sendo utilizadas ainda hoje na Renovação Cristã, mas também em cultos, treinamentos de potencial humano, reuniões de negócios e inclusive no Exército dos Estados Unidos, para não mencionar o resto. A meu ver, a maioria dos pregadores não sabe que está usando técnicas de lavagem cerebral. Edwards, no caso, simplesmente tropeçou numa que realmente funcionava, outros a copiaram, e ela continuou sendo copiada por mais de duzentos anos. Quanto mais sofisticados nosso conhecimento e tecnologia ficam, mais eficiente a conversão. Acredito fortemente que essa é uma das principais causas do aumento no fundamentalismo cristão, especialmente na sua versão televisionada, enquanto a maioria das religiões ortodoxas está definhando. Os Cristãos podem ter sido os primeiros a utilizar com sucesso a lavagem cerebral, mas nós temos que nos voltar a Pavlov, o cientista russo, para obtermos uma explicação científica. No começo do século XX, seus estudos com animais abriram a porta para investigações em humanos. Depois da Revolução Russa, Lênin percebeu rapidamente as aplicações potenciais da pesquisa de Pavlov. Três estados distintos e progressivos de inibição transmarginal foram identificados por Pavlov. O primeiro é a fase equivalente, em que o cérebro dá idêntica resposta a estímulos fortes ou fracos. O segundo é a fase paradoxal, nela o cérebro responde mais intensamente aos estímulos fortes que aos fracos. O terceiro é a fase ultraparadoxal, onde padrões de respostas e comportamentos condicionados invertem-se de positivo para negativo ou vice-versa. Progressivamente, através de cada fase, o grau de conversão torna-se maior. Os meios para alcançá-la são muitos e extremamente variados, mas o primeiro passo a ser dado, tanto para a lavagem cerebral religiosa quanto política, é enfocar e trabalhar nas emoções do indivíduo ou grupo até que isso produza níveis anormais de raiva, medo, excitação ou tensão. Como conseqüência, essa condição impede o discernimento claro e aumenta a sugestionabilidade. Quanto mais esse estado for mantido ou intensificado, mais crescem seus efeitos. Uma vez atingida a catarse, ou "primeira fase mental", a manipulação torna-se mais fácil, e assim as programações mentais preexistentes podem ser substituídas por novos padrões de comportamento e pensamento. ... táticas de conversão e hipnose são duas coisas distintas, e as de conversão são muito mais potentes. Entretanto, normalmente as duas se encontram misturadas, mas com grandes resultados. Como Agem os Pregadores Apenas vá a alguma igreja e sente-se entre o meio e o fundo (preferencialmente no terceiro quarto). Alguma música repetitiva será tocada enquanto as pessoas organizam-se para começar a cerimônia. Essas músicas repetitivas, com batidas idealmente oscilando entre 45 a 72 por minuto (um ritmo próximo ao do coração humano), são muito hipnóticas e podem gerar estados alterados de consciência em uma alta porcentagem dos indivíduos, mesmo que mantenham os olhos abertos. Uma vez que as ondas cerebrais alfa sejam predominantes, você torna-se no mínimo 25 vezes mais sugestionável do que no estado beta de consciência. A música sendo a mesma para todos os eventos realizados pela igreja, ou ao menos possuindo a mesma batida, vai induzir um estado mental alterado quase imediatamente. Subconscientemente, o cérebro relembra-se de sua última experiência e responde entrando em transe automaticamente. Observe as pessoas aguardando o início da cerimônia. Muitas vão exibir sinais externos de transe: corpos relaxados e olhos levemente dilatados. Normalmente, enquanto estão sentadas em suas cadeiras, começam a balançar suas mãos no ar para frente e para trás. Abrindo o evento, provavelmente aparecerá o pastor-assistente, que costuma ser muito bem treinado na técnica da "voz cadenciada". Após induzir um estado alterado de consciência, passam a ter como objetivo gerar excitação e expectativa na audiência. Comumente virá um grupo de jovens mulheres em vestidos "angelicais e puros" para cantar. Músicas Gospel são ótimas para gerar excitação e envolvimento. No meio da canção alguma delas pode ser "acometida por um espírito" e cair no chão, ou reagir como se estivesse sendo possuída pelo Espírito Santo. Isso aumenta muito eficientemente a tensão no ambiente. Nessa situação, táticas de conversão e hipnose estão sendo misturadas e, como resultado, a audiência está totalmente absorta. O ambiente vai tornando-se cada vez mais e mais tenso. Exatamente neste momento, quando o estado mental alfa foi atingido, passarão com a "cestinha de coleta". Ao fundo da igreja o pastor assistente com sua "Voz Cadenciada" provavelmente estará incitando os presentes dizendo – sempre cerca de 45 vezes por minuto – algo do tipo: "Dê a Deus... Dê a Deus... Dê a Deus... Dê a Deus...", e a audiência obedece. A seguir aparece o pregador "fogo e enxofre" induzindo medo e tensão, falando sobre o "demônio", "ir para o inferno" ou a "proximidade do fim do mundo". No último encontro desse tipo em que fui, o pregador falava que em breve haveria apenas sangue saindo de todas as torneiras da Terra. Ele também era obcecado com o "machado sangrento do divino", que todos haviam "visto" na semana passada pendurado acima do púlpito. Não tenho dúvida de que todos o viram, o poder da sugestão aplicado a centenas de pessoas em hipnose assegura que ao menos 10 a 25 por cento delas veria qualquer coisa que ele dissesse estar lá. Na maioria desses encontros, após o "testemunho ocular", segue-se um sermão predominantemente baseado no medo. As pessoas da audiência virão ao palco para contar suas histórias. "Eu era aleijado e agora posso andar!", "Eu tinha artrite e agora ela se foi!". É um tipo de manipulação psicológica que realmente funciona. Depois de ouvir numerosos casos de curas milagrosas, as pessoas normais na platéia com problemas simples estarão convictas de que podem se curar. O lugar está carregado de medo, culpa, excitação e expectativas. Primeira Técnica Esteja alerta caso uma dessas organizações ofereça sessões de "manutenção" após o curso principal. Podem ser encontros semanais ou novos cursos lecionados periodicamente. Tentarão convencê-lo a participar dessa "manutenção" para manter controle sobre seus "aprendizes". Assim como souberam os Renovadores Cristãos, eles também sabem que para haver sucesso em manipulações de longo prazo é imprescindível que existam sessões de "manutenção" posteriores à conversão. Segunda Técnica Outra evidência de que táticas de conversão estão sendo utilizadas são as "atividades" que causam fadiga física e/ou mental. Consegue-se isso normalmente ao deixar os participantes tão ocupados por longos períodos de tempo que não têm tempo para refletir ou pensar sobre o que estão fazendo/ouvindo. Terceira Técnica Essa categoria, dizendo de modo simples, engloba todas as técnicas usadas para aumentar a tensão no ambiente. Quarta Técnica Insegurança. Eu poderia passar horas descrevendo várias técnicas usadas para gerar insegurança. A maioria dos participantes tem grande receio de que seus "treinadores" o coloquem no centro das atenções frente ao grupo. Uma das práticas mais comuns é levar os participantes a relatar seus segredos íntimos, e normalmente também são constrangidos a participar de atividades que enfatizem a "remoção de suas máscaras". Em um desses cursos, colocava-se um participante num palco de frente a todos os outros enquanto era verbalmente atacado pelos seus instrutores. Uma pesquisa feita alguns anos atrás mostrou que a fobia mais comum entre as pessoas é falar em público. Boa parte sucumbe, mas a maioria enfrenta essas situações de estresse extremo simplesmente "fugindo" mentalmente. Eles literalmente entram em alfa, o que os torna automaticamente muito mais sugestionáveis do que normalmente seriam. Essa situação representa mais um passo no caminho da conversão. Quinta Técnica Um outro traço típico é o uso de jargões ou neologismos que apenas tenham significado aos participantes do curso. Linguagem capciosa, depravada e/ou confusa também é usada propositalmente para causar constrangimento. Sexta Técnica Mais um sintoma do uso das técnicas de conversão é evitar o humor, ao menos até serem convertidos. Após isso, o divertimento e humor são altamente visados por serem símbolos da nova "felicidade" que os participantes supostamente teriam encontrado. Tenho plena convicção de que pelo menos um terço da população mundial se enquadra no perfil que Eric Hoffer denomina "Crentes Cegos". São literalmente seguidores cegos, pessoas que querem livrar-se de seu poder. Elas procuram por respostas, significados e iluminação em coisas externas a si mesmas. Hoffer diz em seu livro "O Crente Cego" (um clássico sobre o assunto) que "essas pessoas não pretendem conseguir fortalecimento ou auto-afirmação, mas apenas fugir de si mesmas, dando o controle de suas vidas a outrem. São seguidoras não porque procuram auto-superação, mas, na verdade, porque anseiam a auto-renúncia. Fonte: Dick Sutphen. Psychologie und Landmark Education. Tradutor: André Díspore Cancian. Como deu para ver é um assunto sério e perigoso. Pessoas convertidas por essas técnicas deixam mais ainda de pensar com a própria cabeça do que o restante da humanidade, têm muito mais dificuldade para desenvolver a consciência. A persuasão e a lavagem cerebral são a razão de existirem fanáticos tanto políticos como religiosos. E o pior é que tais pessoas não têm a mínima idéia de que o são, quando confrontadas reagem veementemente contra a denominação de fanáticas, como também não se dão conta de que sofreram lavagem cerebral.
Fonte: http://expandiraconsciencia.blogspot.com.br/2012/01/tecnicas-de-persuasao-e-lavagem.html

terça-feira, 12 de março de 2013

Filosofia da Natureza

 
Goethe e Hegel compreendiam-se muito bem. Conhece-se a estranha teoria de Goethe sobre as cores, consideradas como misturas em diversas proporções da luz e da obscuridade. A partir destas opiniões, Goethe negava intrepidamente a decomposição da luz pelo prisma. Encontrar-se-ão na física de Hegel estes mesmo erros, e muitos outros.  Não insistirei muito nisso; vou resumir aqui ainda mais do que noutros lugares. Mas tentarei no entanto fazer ver suficientemente o belo e o verdadeiro deste temerário empreendimento. É como uma tentativa de religião. Trata-se de mostrar, depois de tantos outros, que a natureza oferece pelo menos vestígios do espírito. Toda a teologia é superabundante aqui, e fraca muitas vezes nas suas provas. Mas nós temos agora sobre a teologia esta vantagem nítida, é que a lógica nos traçou um retrato do espírito melhor ordenado, melhor articulado, mais distinto do que o ingénuo antropomorfismo o podia fazer. Ora desta lógica a natureza oferece-nos como que uma imagem quebrada. Certas partes são mais fáceis de ler, outras menos. E pode-se renunciar a ler? Porque de todo  o modo é preciso de facto ler o semelhante, o homem, que é apenas coisa e enigma num sentido, mas em quem o espírito fala no entanto. Do homem ao animal, quem não fez a passagem? Os graus mesmos do mundo animal só têm sentido pela suposição de espírito que se agita nessas formas, e procura libertar-se. Mesmo a planta, em que a relação exterior prepondera, em que a unidade e a identidade se separam, por elas mesmas, pode oferecer-nos ainda uma imagem degradada de nós mesmos tanto quanto faltamos ao espírito. O que é digno de ser notado, é que no outro extremo, no mundo mecânico e inerte, nós encontramos como que um traçado, e quase sem desvio, dos nossos pensamentos mais abstractos. Os seres que não fazem, mais do que cair ou gravitar são como teoremas em acção; a relação exterior rege-os como rege os nossos pensamentos mais magros. De maneira que pouco falta para que o mundo na sua variedade nos ofereça a imagem da lógica e as divisões da lógica. Uma parte da natureza seria segundo o ser abstracto, e a outra no oposto segundo a noção. Os teólogos sempre tiraram grande partido da ordem astronómica como também da estrutura dos vivos. Entre estas duas ordens, o mecanismo e o organismo, encontram-se colocadas a física e a química, que seriam portanto segundo a essência, quer dizer segundo a relação pura. Mas o que é a relação tornada objecto? A luz, o som, a electricidade, o calor são de facto qualquer coisa como isso; porque não são objectos, mas por elas todos os objectos comunicam. Estas propriedades físicas realizam a distância e o tempo. A química, por oposição, remete-nos para figura do objecto, e para o trabalho que se faz no interior do objecto. A formação do cristal, nomeadamente, é uma espécie de individuação mecânica. Adivinha-se que esta parte intermédia da Filosofia da Natureza é a mais perigosa. E todavia nós devemos ganhar familiaridade com o desenvolvimento aristotélico, que é justamente o oposto do espírito cartesiano. Descartes negava o pensamento animal; não nos admiramos depois disso que ele reduza a qualidade à quantidade. Aqui, por um preconceito contrário, pressupomos que o espírito, evidentemente esboçado na forma orgânica, mesmo inferior, deve reencontrar-se ainda nos grandes  factos da Química e da Física. Mas também, contra a análise cartesiana, devemos tentar pensar a qualidade como real. Aqui encontro a posição de Goethe contra Newton; é por este caminho que se poderia compreender a teoria de Goethe sem ser como um erro enorme. Não posso dizer  que tenha chegado a compreender isso completamente. Confessemos que, mesmo considerando a natureza como um imenso ser vivo, se encontrarão partes quase impossíveis de interpretar dessa maneira. Curar-nos-íamos de criticar se se chamasse poesia ou mitologia a esta pesquisa divinatória.  E é preciso de facto, no entanto, que este espírito no sono, a que chamamos natureza, seja desenhado ou pelo menos esboçado como tal com todos os riscos. Porque se o espírito humano não  desperta da vida orgânica, se não for por todos os lados batido pela vida universal, a filosofia do espírito será apenas uma lógica recomeçada. Eu quereria mesmo dizer que o que fica de incerteza nesse poema da natureza, define o melhor possível a situação humana, em parte inumana, pelo qual o pensamento chega à existência.

Poema em três cantos. Devemos seguir primeiro esses corpos gravitantes, segundo  número, espaço, tempo, força; segundo o espírito, mas sem espírito; o centro está fora; tudo está fora e é exterior neste pensamento degradado. Em contrapartida tudo aí é  claro para o espectador; porque o espaço, o tempo e o movimento nele desenvolvem uma lógica real. O espaço real é o espaço segundo  a dialéctica abstracta. A linha nega o ponto, a superfície nega a linha, e, por esta negação da negação, o todo do espaço é restabelecido. Um tal espaço não é nada. A negação do espaço faz aparecer o tempo; porque negai toda  a grandeza de espaço, há ainda duração para todo o ponto. O tempo é a exterioridade pura, como se o ponto, reduzido à pura negação em si, escapasse ainda por si mesmo. E a intuição do tempo como exterioridade traz o espaço; somente o ponto agora é mais concreto; é o lugar, a identidade realizada do tempo e do espaço; e o lugar que se nega a si mesmo e passa  para outro lugar, é o movimento. A matéria é a unidade negativa da atracção e da repulsão; é o número da lógica, mas com  intuição. A gravitação é a mecânica absoluta. Eu só quero fazer um traçado sumário desta construção ousada. Não se trata agora  de saber se estas formas abstractas estão alinhadas segundo a lógica da ordem, mas somente julgar se a nossa lógica é a lógica da natureza. Quando Kant concluía que o entendimento é por si mesmo uma legislação da natureza, queria dizer apenas que nós só conhecemos a natureza através da nossa lógica; ora o desenvolvimento das ciências, sobretudo da geometria e da mecânica, encerra ainda outra coisa, é que a natureza verifica  constantemente a nossa geometria e a nossa mecânica; e o ponto difícil está nisto que o espaço, o tempo, o movimento, as leis do movimento, são talvez apenas referências, que a natureza não pode nunca contradizer, nem por consequência confirmar; por estas ideias a filosofia crítica se reencontraria intacta e invencível. Mas se se faz o salto dogmático, o que é afirmar que a natureza é homogénea com os nossos pensamentos, é preciso saber bem com o que nos comprometemos; porque o movimento real no mundo será um pensamento real no mundo, ou então não será movimento. O mesmo a dizer do tempo e do espaço, e também da relatividade que os nega; porque a relatividade é também um pensamento. A aventura Hegeliana, como a aventura Aristotélica é de querer pensar o objecto como tal, e as dificuldades da execução não devem ser tomadas por objecções de princípio. A natureza resiste, e é nisso que ela é natureza. “Não se saberia, diz Hegel, tudo remeter para a noção nesse cadáver, porque o acidente desempenha aí o seu papel.” E todavia, quereria eu dizer, o universo é ainda uma metáfora sofrível dos nossos pensamentos. Compreendo bem que Hegel não tome a sua cosmogonia por metáfora somente; sem dúvida existiu só Platão que relevasse a mitologia racional dando-lhe o seu justo lugar.

Mitologia ainda mais evidentemente é a física conforme o espírito, que faz o segundo canto do poema. Porque é belo reconhecer na luz a relação materializada, por onde se exprime, de modo qualitativo já, a expansão absoluta no espaço, e o poder da realidade universal de estar fora de si. É belo também reconhecer no som, e por oposição, o tempo real tornado sensível; e enfim no calor a própria negação da matéria. Enfim, em oposição a esta potência dissolvente, é belo restabelecer a individualidade dos objectos como tendo figura, coesão, peso específico, carga eléctrica, e enfim todas  as propriedades resistentes à física, e que definem a química. São no entanto apenas metáforas mais ou menos felizes, e que não creio ser útil desenvolver. No detalhe não faltam erros, e alguns chocantes. Já citei a teoria das cores, que é a mesma de Goethe. Encontrar-se-ão fantasias do mesmo género sobre o pêndulo, sobre o barómetro, sobre a chuva, sobre o magnetismo. Uma ciência que apalpa ainda é um frágil apoio para a especulação filosófica. E, em resumo, esta parte sobretudo foi julgada e será julgada muito severamente. Mas, ainda uma vez, é preciso ver em que sentido se dirige este pensamento, e contra o que luta. Como Goethe tinha um invencível preconceito a respeito da óptica de Newton, que decompõe, assim se encontra em todas as linhas na física de Hegel, uma  extrema desconfiança para com o pensamento que cinde, como ele o chama, que quer sempre remeter o estudo dos fenómenos para a pura mecânica. Ao contrário, o esforço de Hegel está em definir a qualidade contra as usurpações da quantidade. Este movimento de espírito parecerá justo a muitos.  Porque, se se quer aproximar do vivo e sobretudo do pensante, não se deverá, de ciência em ciência, determinar uma existência cada vez mais rica, cada vez mais interior a si mesma? Quase todos estão de acordo hoje em reconhecer que a vida é diferente de um mecanismo. O preconceito Hegeliano encontra aqui a sua justificação. Deverá ele procurá-la ainda na região intermédia, a física,  que o mecanismo tão brilhantemente conquistou e explorou? O orgânico será sempre o refúgio do Aristotelismo. E quem impede de pensar que existem na natureza partes mortas, como o próprio Hegel o reconheceu? Seria estender apenas a parte eterna do mundo, móvel e imóvel, sem nenhum progresso, que Aristóteles reduzia ao céu dos astros; e continua verdadeiro que esta parte inumana regula e limita o progresso humano e em primeiro lugar a existência animal. Ora, não escapou a Hegel que a ciência desses corpos mortos é a mais abstracta e a mais rigorosa; não é preciso mais para que a sua astronomia e mesmo a sua física se encontrem sem pecado como prefácio à filosofia do espírito.

Eis-nos no terceiro canto do poema. Aqui o andamento é mais seguro, o acento mais justo, a descrição sem falta. Porquê? É que o superior supõe o inferior. Porque é da vida que nascem a consciência, o pensamento, a civilização, as instituições, as obras. O que é feito segundo o espírito só é feito por um vivo que se alimenta, dorme, cresce, se reproduz  num outro e primeiro em si mesmo, o pensamento e a acção repousando sempre sobre o instinto. Aqui, por gradações cujo sentido é suficientemente claro, o espírito encontra-se ligado à natureza viva toda inteira, e, por seu intermédio, à própria natureza orgânica. A dificuldade é compreender que este naturalismo é ainda uma espécie de lógica, e que a sombra da dialéctica se reconhece ainda no animal e mesmo na planta. Mas esta passagem, que é própria de Hegel,  e que caracteriza este pensamento, que em todas as suas partes é poema, será menos misterioso se se tiver compreendido primeiro o bastante a alma da lógica Hegeliana, que é juízo e não raciocínio, quer dizer invenção de pensamentos segundo a ordem; porque desta mesma ordem resulta que o espírito concreto se desenvolve segundo uma outra ordem que é família, sociedade, história, por nascimento, crescimento, paixões, doenças, envelhecimento e morte. Que estas duas ordens sejam no fundo a mesma, una eademque res, isso é, como em Spinoza, o objecto duma intuição que suporta o sistema em todas as suas partes, mas, desta vez, sistema em movimento. A Ética está em marcha; e o amor de Deus é Deus.

Mas devemos reatar o fio dialéctico. Os corpos, quimicamente considerados, tendem para uma espécie de individualidade por um amontoamento mecânico; e todavia o calor, força exterior, altera-os e dissolve-os; mesmo o cristal, que deixa ver uma espécie de reprodução da forma em si mesma, depende absolutamente das circunstâncias exteriores. A esta fluidez opõe-se a permanência própria do ser organizado, o qual age e reage conservando-se contra as forças as mais diversas, e em que a matéria passa sem que a forma mude. Esta duração do organismo não se faz sem dificuldade, e a actividade química retoma finalmente a vantagem na morte. Mas o espírito triunfa na reprodução; e o espírito humano triunfa ainda de outra maneira, na história, na arte, na religião, na filosofia. A parte desta Odisseia do espírito, segundo a bela expressão de Schelling, em que o espírito se salva a custo do naufrágio, é agora o nosso objecto. A planta é apenas ainda uma imagem quebrada do espírito. A forma conserva-se contra o assalto das forças cósmicas; mas a individualidade produz-se nela ainda como exterior a si mesma. O crescimento faz-se pela reprodução dum outro indivíduo; o embrião não é um membro; ele é semelhante à planta; donde outros modos de reprodução, enxerto, mergulhia, estaca, ao lado da reprodução pela semente, que é uma melhor imagem do desenvolvimento do espírito. A planta não faz mais, pois, do que sair de si mesma. A destruição do vegetal pelo animal que dela faz o seu alimento é assim o símbolo  do movimento dialéctico que nega a individualidade da planta a partir da relação exterior que nela reproduz sem cessar. O animal realiza pelo contrário a unidade para si, quer dizer indivisível, realmente sem partes. Disso só percebemos os sinais exteriores; de qualquer modo é bastante claro que as partes não têm existência independente. A mão cortada  recai no quimismo; a mão viva é portanto todo o organismo; ela só é o que é pelas outras partes.  O sentir, que é próprio do animal, supõe e exprime esta unidade indivisível; porque não é a parte que sente, mas é o todo que se sente a si mesmo em todas as partes. O espaço, quer dizer a relação exterior, não têm então aqui mais sentido; ele é superado. Dizer que o animal sente, quer dizer que ele se sente, e que nele sente toda a natureza. “O ver e o ouvir são apenas formas da minha transparência e da minha clareza para mim próprio.” No animal, portanto, existe a verdadeira unidade subjectiva, a alma simples, que está distribuída, sem ser dividida, pela exterioridade do corpo. Por isso, não se deve procurar em que parte do organismo se encontra a alma. “ Há de facto milhares de pontos em que a alma está presente, mas nem por isso ela está num ponto, numa parte do corpo, nem mesmo no corpo, porque a exterioridade do espaço (como diz Hegel: “o ser de fora”) já não é verdadeira para a alma. É este ponto da subjectividade que é preciso apreender e não perder de vista.” A alma está em todo o lado em que conhece, e o sentimento do seu próprio ser é também o conhecimento do universo. O animal tem portanto com o objecto uma outra relação além da relação prática; ele já contempla. "Assim a vida animal é absoluto idealismo.”

A alma é pois o universal, uma vez que o seu contrário ela é-o, e porque nada há no mundo que ela não seja. Mas ela não é primeiro  o universal senão em si, pelo sentir, não para si, como seria pelo pensamento. O em si designa a suficiência dum ser, o para si encerra uma reflexão; e o pensamento, como dizia Aristóteles, é o pensamento do pensamento. Aproximamo-nos da compreensão do que é sentir sem pensar considerando o exemplo do homem puramente sensível, que sente os seus desejos, mas não os julga, quer dizer não se compreende pelo pensamento como ser universal. Tal é a existência animal do homem. E vê-se que a dialéctica animal  não se acaba na animalidade. A exterioridade é nela negada em si, mas não é ainda negada para o sujeito. É assim que o homem ingénuo se crê exterior às coisas que  conhece; e no entanto ele domina já esta contradição, pois que sente o seu próprio todo em cada parte; somente não tem consciência desse poder.

O organismo animal reproduz-se; este carácter, considerado como exterior, é já bastante surpreendente. Todavia, é preciso compreendê-lo pela dialéctica. No sentir está contida uma oposição do eu e do mundo, por isto que sendo tudo num sentido, num outro sentido, sou apenas eu. Esta oposição não é pensada assim no animal; é somente sentida, e esta desproporção nele sentida é o desejo. Apenas o vivo sente a falta, e sente a falta porque  sente; quer dizer que só ele existe na natureza em quem a noção seja como unidade de si mesma e do seu contrário. Aqui o superior explica o inferior. “O termo que contém a contradição em si mesmo e que a pode sustentar, é o sujeito, e é isso que faz a sua infinidade.” São os seres superiores que têm o privilégio de sentir a dor. Privilégio, porque sentir a falta é possuir. “As naturezas elevadas vivem assim na contradição e é esse o seu privilégio.” Mas este desenvolvimento pertence à filosofia do espírito.

O animal move-se segundo o instinto, quer dizer ao mesmo tempo conforme a sua unidade própria e conforme o conjunto das forças naturais, sem pensar esta oposição, quer dizer sem saber nem querer. “As migrações dos animais, por exemplo dos peixes dum mar a outro, traduzem essa vida em comum com a natureza. Do mesmo modo, os povos da natureza sentem a marcha da natureza e as estações, enquanto o espírito faz da noite o dia.” O animal não é mais do que uma forma armada que, na sua acção exterior, de preensão e de assimilação, se afirma ela mesma e se reproduz. O instinto artístico, que por exemplo constrói os ninhos, é apenas a consequência do instinto plástico que conserva e faz crescer o corpo vivo. O animal, tendo tornado adequado a si o objecto exterior, reencontra-se a si mesmo nesse objecto e nele se compraz. Do mesmo modo pela voz se sente a si próprio no mundo. O canto dos pássaros é como que um gozo imediato de si, imediato, logo sem saber.

São apenas observações, e preparações. É preciso compreender de mais alto e mais profundamente o drama da reprodução e da morte. Que o individual seja ao mesmo tempo o universal, isso está contido no desejo, porque que o que falta não tem sentido a não ser em relação a um tipo verdadeiro. A noção, arquitecto sem consciência, supera o facto da existência individual; ela é já pensamento; mas não é ainda pensamento do pensamento. O homem instruído e cultivado aproxima-se do espírito real e concreto quando põe o género universal, o homem, como modelo de si mesmo. Mas isso supõe um longo desvio e o apoio do Espírito Objectivo, Arte, Sociedade, Religião. É o que vai expor a Filosofia do Espírito; mas é preciso antecipar se se quer compreender no animal o que Hegel chama de processo do género. É pelo género que se julgam os monstros; e todo o animal é um monstro de algum modo, porque nenhum animal realiza o género. Mas também todo o animal é governado pelo género, porque esta contradição ainda obscura entre o que é e o que deveria ser é o que o move, o leva a reproduzir-se, e finalmente o faz morrer. A doença, como a falta, é apenas a contradição entre a independência das partes e a unidade do todo. A relação dos sexos é só o efeito deste íntimo descontentamento de si, que sem fim engendra pela morte. Somente a vida animal não faz mais do que recomeçar-se a si mesma. “O fim da natureza é anular-se a si mesma, de quebrar o invólucro da existência imediata e sensível, de se queimar como a Fénix para renascer desta existência exterior.” Mas é preciso lançar os olhos para a frente, para os destinos do espírito, para compreender completamente o sentido da morte. A doença original do animal, mais sensível no homem, o gérmen mortal que ele traz no seu seio, é a desproporção que existe entre ele e o universo. Aos olhos daquele que sabe isso, a morte, que apaga a natureza, é menos negação do que afirmação. “Acima dessa morte da natureza, acima desse invólucro inanimado ergue-se uma natureza mais bela; acima ergue-se o espírito.”
 Fonte: www.alainnoporto.blogspot.com.br

quarta-feira, 6 de março de 2013

A filosofia do pessimismo



 O pessimismo pressupõe uma desesperança no futuro, uma previsão ruim daquilo que sobrevirá, ou, como encontrado nos melhores dicionários de nossa língua, "uma tendência para encarar as coisas pelo lado negativo". Mas o que dizer destas palavras: "A história nos mostra a vida dos povos, e nada encontra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas, entreatos, uma vez aqui e ali, e de igual maneira a vida do indivíduo é uma luta contínua, porém não somente metafórica, com a necessidade ou o tédio, mas também realmente com outros. Por toda parte ele encontra opositor, vive em constante luta e morre de armas em punho"? O que temos aí: extremo pessimismo ou puro realismo? Quem dentre nós poderá ser tão otimista ao ponto de negar a realidade que perpassa a história da humanidade e que pode ser encontrada, sem grandes dificuldades, em qualquer cena urbana ou privada, veiculada pelos meios da comunicação ou testemunhada na porta de nossas casas?
O nome Schopenhauer tornou-se quase sinônimo de "pessimismo" ao longo da história da filosofia. A tendência didática de rotular ou categorizar pensadores e correntes de pensamento estigmatizou um filósofo que teve como único e máximo pecado ser honesto para com sua filosofia, que concebe a vida, assim com todos os eventos da existência, como expressões diferentes da Vontade - uma força que apenas quer existir, se evidenciar num mundo que não passa de sua representação. Os quase dois séculos que nos separam de Arthur Schopenhauer, entretanto, talvez ainda não se constituam um obstáculo para uma defesa justa de suas ideias e para o vislumbramento de aspectos extremamente positivos de sua filosofia.
Zeitgeist Expressão alemã que significa, em tradução aproximada, "espírito da época". O termo é bastante utilizado por ensaístas, sociólogos, historiadores e críticos de arte para descrever a época em que uma determinada obra artística ou movimento intelectual foi produzido. A banda de rock americana The Smashing Pumpkins lançou em 2007 um álbum intitulado Zeitgeist.

A época em que Schopenhauer viveu, na Europa do final do século 18 e início do século 19, tem algumas características peculiares, que podem muito bem dizer do Zeitgeist
de então. Will Durant, em seu A história da filosofia, tenta encontrar razões para uma espécie de pessimismo comum àquele período. Diz ele: "Por que será que a primeira metade do século 19 levantou, como vozes da época, um grupo de poetas pessimistas - Byron na Inglaterra, De Musset na França, Heine na Alemanha, Leopardi na Itália [...] e, acima de tudo, um filósofo profundamente pessimista, Arthur Schopenhauer?", e acrescenta como resposta: "[...] Era bem difícil acreditar que um planeta tão lamentável quanto aquele que os homens viam em 1818 estivesse seguro nas mãos de um Deus inteligente e benevolente. Mefistófeles havia triunfado e todos os Faustos estavam desesperados". Durant também é loquaz ao dizer que "o pessimismo é o dia seguinte do otimismo".
  

















Todo homem, ilustre ou não, é fruto de seu tempo, e também vê o mundo à sua volta como a representação de si mesmo, assim como sentenciado por um antigo filósofo grego: "O homem é a medida de todas as coisas". Schopenhauer vê as coisas do seu tempo, mas, acima de tudo, abrange com seu olhar filosófico, quiçá com sua intuição (como talvez ele próprio preferisse dizer), o passado (constituído de suas incursões pelas escrituras hindus e budistas), o presente (imposto a ele frente a frente) e o futuro (projetado por sua invejável capacidade intelectual). Assim, sua filosofia traz, evidentemente, a sabedoria oriental, que inspira aqueles que buscam respostas para seu sofrimento nos ensinamentos religiosos; a compreensão do aqui-agora existencial, que une todos os povos e todos os indivíduos como uma única nação de aflitos; e a visão profética, que, relendo os eventos da vida, vaticina para todos, sem exceção, uma espécie de eterno retorno - um retorno ao nada existencial, como último consolo à existência sofrida.
Arthur Schopenhauer teve como pai, Heinrich Schopenhauer, um rico comerciante que, além de ser um homem rígido, era um marido rude, e que tem ainda contra si a forte suspeita de ter cometido suicídio atirando-se no canal de Hamburgo. A mãe, Johanna Troisener, era uma romântica, oprimida pelo marido, que só conheceu o bom da vida após a morte dele. Apesar do pai ter feito tudo para que o jovem Arthur se interessasse pelos negócios da família, não viveu o suficiente para decepcionar-se com o filho filósofo, enquanto a relação deste com a mãe foi uma das piores. Schopenhauer viveu grande parte de sua vida viajando pela Europa à custa do dinheiro herdado do pai. Foi um solitário, tinha um cachorro, ao qual deu o nome de Atman (termo hindu para alma), e pouquíssimos amigos. Para si mesmo, considerava sua vida como a ideal - a relação com os humanos não era nada fácil, portanto, preferia a solidão. No entanto, essa vida reclusa é rotulada por alguns autores como "uma vida infeliz", o que fornece um ótimo ingrediente para fomentar a denominação que darão a ele de "filósofo do pessimismo". Sua obraprima, O mundo como vontade e representação (1819), só conquistou leitores após sua morte, e Parerga e Paralipomena (1851) trouxe- lhe o tão desejado reconhecimento, mas ele não viveu o suficiente para usufruir dele, pois morreu nove anos depois, no dia 21 de setembro de 1860, solitário como viveu.
Fonte: www.filosofia.uol.com.br