Filosofia Circular

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Alteridade


 Algo a respeito do qual se pode falar em Levinas não diz respeito somente à dimensão da responsabilidade por outro ser humano – dimensão ética –, mas também à dimensão da “alteridade”. Alteridade é diferença e, nas relações, diz-se que é a capacidade de colocar-se no lugar do outro, ou, nas palavras de Frei Beto, é “ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. A nossa tendência é colonizar o outro, a partir do princípio de que eu sei e ensino para ele – ‘ele não sabe; eu sei melhor e sei mais do que ele’”. É sobre esse “colonizar o outro” que podemos pensar.
                Para muitas pessoas é realmente difícil a percepção de um outro modo de ser e de executar tarefas. Existe assim a tendência de absolutizar o modo pessoal de ser, pensando ser este o único e correto modo de encarar o mundo e lidar com as situações. Levinas afirma que “toda forma de totalidade é violência”, ou seja, toda vez que desejamos colonizar o outro por meio da imposição de regras e pensamentos que são nossos e maneiras de fazer as coisas estamos praticando uma atitude de violação com respeito a esse outro. E é costume nosso agirmos desse modo, quando, na verdade, podemos mostrar a esse outro uma nova perspectiva sobre a vida, uma maneira diferente de agir em relação a ela, por meio do carinho, do amor e até mesmo da presença atenta e ouvinte. Permitir que esse outro exponha o que pensa sobre a vida e deixar que ele aja à seu modo é realizar o respeito à sua dignidade, à sua alteridade, assim como temos a nossa. Ora, não foi assim que agiu Jesus? Ele foi alguém que esteve cercado da maior diversidade imaginável e das “alteridades” mais curiosas possíveis, a exemplo do impulsivo Pedro.
                Penso que tudo isso aqui escrito deva ser somente o impulso para pensarmos acerca da dimensão da alteridade, tão importante nas relações e com a qual temos tanta dificuldade. A reflexão sobre a alteridade deve permear casamentos, relações pais e filhos, relações de amizade e até mesmo relações de trabalho. O outro que nos cerca é alguém diferente de nós em tudo: em sensações com o mundo externo (tato, olfato, paladar, audição e visão), em sensibilidade, no modo de perceber as coisas, etc. e não um objeto ao qual podemos impor formas de pensar, de fazer coisas e de ver a vida. Podemos auxiliar na mudança de pessoas, mas somente se essas nos solicitarem e se percebermos nelas a abertura para tal e não porque nós tenhamos nos “enervado” com a alteridade das mesmas.
                A alteridade nos conduz a compreender a presença de Deus no outro a partir da mudança de nosso olhar para esse que é tão diverso do “eu”. Nesse sentido, e até conforme reafirma Emmanuel Levinas em seus escritos, o outro constitui epifania do divino, isto é, sua manifestação, sua imagem, e devemos respeitá-lo e enxergá-lo enquanto tal! Deus deve ser a imagem vista no rosto do outro, isso, de tal modo que olhando para ele sejamos conduzidos a servi-lo, compreendê-lo e suportá-lo em amor. Pensar o outro assim, nos conduz à dimensão ética, que é a da responsabilidade, do envolvimento para com esse outro.
Fonte: www.filosofianocaminho.blogspot.com.br

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