Algo a respeito do qual se pode falar em Levinas não diz respeito
somente à dimensão da responsabilidade por outro ser humano – dimensão
ética –, mas também à dimensão da “alteridade”. Alteridade é diferença
e, nas relações, diz-se que é a capacidade de colocar-se no lugar do
outro, ou, nas palavras de Frei Beto, é “ser capaz de apreender o outro
na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua
diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e
sociais, mais conflitos ocorrem. A nossa tendência é colonizar o outro, a
partir do princípio de que eu sei e ensino para ele – ‘ele não sabe; eu
sei melhor e sei mais do que ele’”. É sobre esse “colonizar o outro”
que podemos pensar.
Para muitas pessoas é realmente difícil a percepção de um outro modo de
ser e de executar tarefas. Existe assim a tendência de absolutizar o
modo pessoal de ser, pensando ser este o único e correto modo de encarar
o mundo e lidar com as situações. Levinas afirma que “toda forma de
totalidade é violência”, ou seja, toda vez que desejamos colonizar o
outro por meio da imposição de regras e pensamentos que são nossos e
maneiras de fazer as coisas estamos praticando uma atitude de violação
com respeito a esse outro. E é costume nosso agirmos desse modo, quando,
na verdade, podemos mostrar a esse outro uma nova perspectiva sobre a
vida, uma maneira diferente de agir em relação a ela, por meio do
carinho, do amor e até mesmo da presença atenta e ouvinte. Permitir que
esse outro exponha o que pensa sobre a vida e deixar que ele aja à seu
modo é realizar o respeito à sua dignidade, à sua alteridade, assim como
temos a nossa. Ora, não foi assim que agiu Jesus?
Ele foi alguém que esteve cercado da maior diversidade imaginável e das
“alteridades” mais curiosas possíveis, a exemplo do impulsivo Pedro.
Penso que tudo isso aqui escrito deva ser somente o impulso para
pensarmos acerca da dimensão da alteridade, tão importante nas relações e
com a qual temos tanta dificuldade. A reflexão sobre a alteridade deve
permear casamentos, relações pais e filhos, relações de amizade e até
mesmo relações de trabalho. O outro que nos cerca é alguém diferente de
nós em tudo: em sensações com o mundo externo (tato, olfato, paladar,
audição e visão), em sensibilidade, no modo de perceber as coisas, etc. e
não um objeto ao qual podemos impor formas de pensar, de fazer
coisas e de ver a vida. Podemos auxiliar na mudança de pessoas, mas
somente se essas nos solicitarem e se percebermos nelas a abertura para
tal e não porque nós tenhamos nos “enervado” com a alteridade das
mesmas.
A alteridade nos conduz a compreender a presença de Deus no outro a
partir da mudança de nosso olhar para esse que é tão diverso do “eu”.
Nesse sentido, e até conforme reafirma Emmanuel Levinas em seus
escritos, o outro constitui epifania do divino, isto é, sua
manifestação, sua imagem, e devemos respeitá-lo e enxergá-lo enquanto
tal! Deus deve ser a imagem vista no rosto do outro, isso, de tal modo
que olhando para ele sejamos conduzidos a servi-lo, compreendê-lo e
suportá-lo em amor. Pensar o outro assim, nos conduz à dimensão ética,
que é a da responsabilidade, do envolvimento para com esse outro.
Fonte: www.filosofianocaminho.blogspot.com.br
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