Racionais e, portanto, indagadores, os seres humanos são dotados de
uma profunda necessidade, singular em toda a natureza conhecida, de
acreditar em algo ou em alguma coisa que dê sentido à vida. Desde os tempos mais remotos, nossa espécie tem se mostrado ávida por conhecer a origem do universo
e o sentido da própria existência. E se, por um lado, a ignorância de
respostas para tais problemas é capaz de gerar angústias terríveis, por
outro, o domínio do sagrado tem se mostrado eficaz na cura de tal
sofrimento há milhares de anos.
É claro que, como se sabe, o termo “sagrado” não é absoluto. Ao
contrário, a dimensão da sacralidade não se apresenta na mesma forma sob
todos os olhares, em todas as épocas e lugares. Aquilo que é
considerado sagrado por um cristão pode muito bem não o ser para um
hinduísta. Por sua vez, o que este considera sagrado também pode não o
ser para um umbandista. E assim por diante. O domínio do sagrado
depende, portanto, de perspectivas passíveis de serem situadas no tempo e
no espaço. Os próprios cristãos, por exemplo, podem muito bem divergir
enormemente entre si com relação ao que deveria ser considerado divino
ou ordinário, caso contrário não haveria tantas denominações diferentes
no interior do cristianismo, como a protestante e a católica. De
qualquer modo, apesar de diferenças em maior ou menor grau que possam
ser identificadas entre as perspectivas religiosas, a razão de ser do
sagrado muito provavelmente é comum a todos os crentes: responder nossas
questões existenciais mais básicas e sanar o sofrimento que eles são
capazes de gerar.
A busca pelo sentido da existência e pela explicação da origem do
universo levou os seres humanos a criarem sistemas de referências
imutáveis e atemporais, compostos por entes como os deuses, os anjos, os
espíritos, os demônios, o céu e o inferno. Entretanto, nada disso pode
ser conhecido por intermédio dos sentidos,
a não ser que tais entidades se revelem aos seres humanos por meio de
milagres ou experiências sobrenaturais. É por isso que a busca do
sagrado tende a ser acompanhada pela necessidade de se torna-lo
tangível, passivo de ser visto, tocado, ouvido, cheirado ou deglutido.
A sacralização de objetos, lugares e ações ordinários faz parte da
natureza de grande parte das religiões. Objetos como amuletos e
crucifixos, por exemplo, são formas materiais, mas supostamente dotados
de atributos espirituais, como a capacidade de proporcionar milagres dos
mais variados tipos. O mesmo vale para determinados lugares, como
templos e regiões naturais sagradas. Serve, também, para inúmeros ritos,
como as santas-ceias e as cerimônias xamãs.
Nos dias de hoje, é curioso imaginar que objetos fabricados por robôs
em escala industrial possam ser, de algum modo, dotados de propriedades
sagradas. Mas o são, pelo menos a partir do exato momento em que são
tocadas pelas mãos do religioso, que, desse modo, reforça sua fé no
sobrenatural e silencia sua angústia existencial.
Fonte: http://clickeaprenda.uol.com.br
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