Filosofia Circular

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Vida sem ser absurda


 
E se o Homem descobrisse o "elixir da eterna juventude" e deixasse de ser um "ser para a morte", a vida deixaria de ser absurda? Afinal, não é a presença da morte que conduz a reflexão filosófica à questão do sentido da vida?
A imortalidade seria como um "Domingo infinito", um "perpétuo hoje", um "presente que permanece presente" uma "estrada sem fim". A imortalidade anularia, assim, a natureza temporal do Homem. Dado que a Existência Humana é sempre uma projeção de nós mesmos no futuro: é a cada momento estar essencialmente "a caminho" do que fomos e tentamos ser, para o que seremos, o futuro toma precedência sobre o passado e o presente. Deste modo, a existência humana e o seu sentido pressupõem a morte como "balizadora" do que seremos e do que poderíamos ter sido.
O Homem Imortal estaria condenado ao tédio, ao inferno e à permanente indefinição.
Que outra coisa poderíamos imaginar como mais absurda e sem sentido do que isto?
Autor: Alex Cunha Paiva

Altruísmo versus Egoísmo

Devemos ser altruístas ou egoístas?
O altruísmo define-se como sendo uma preocupação desinteressada pelo bem-estar de outro, como um fim em si. É o oposto do egoísmo. Este consiste numa atitude prática de quem age voluntariamente reduzindo tudo a si.
Na perspectiva do senso comum considera-se o altruísmo como um valor positivo e o egoísmo como um valor negativo ou desvalor, em consonância com a ética cristã, para quem o altruísmo é frequentemente considerado pedra-de-toque (Amareis o vosso próximo como a vós mesmos).
Em rota de colisão com a perspectiva vugar, o altruísmo foi energicamente atacado por Nietzsche por implicar uma desvalorização ou supressão doentia do eu e, como consequência, por constituir obstáculo ao advento do Super-homem. Na mesma linha de pensamento, Ayn Rand argumenta que o egoísmo constitui o verdadeiro estandarte da moralidade sendo o altruísmo profundamente imoral. É, por isso, defensora do capitalismo como um sistema económico moralmente superior.
Enfim, por qual dos dois optar? Como devemos viver? 

Fonte: www.agora-m.blogs.sapo.pt



terça-feira, 21 de agosto de 2012

Corrupto: quem tem o coração rompido

 
 O verdadeiro corrupto


A indignação generalizada face à corrupção no Brasil e no mundo está dando lugar à resignação e ao descaso. Pois a impunidade é tão vulgarizada  que a maioria já descrê de qualquer solução.
Sobre este fato a teologia tem algo a dizer. Ela sustenta que a atual condição humana é dilacerada e decadente (infralapsárica se diz  no dialeto teológico),  consequência de um ato de corrupção. Segundo a narrativa bíblica, a serpente corrompeu a mulher; a mulher corrompeu o homem; e ambos nos deixaram um legado de corrupções sobre corrupções a ponto de Deus mesmo “ter-se arrependido de ter criado o ser humano na Terra” como nos lembra o texto do Gênesis (6,6). Somos filhos e filhas de uma corrupção originária.
Alegava-se, nos espaços cristãos, que todo mal se deriva dessa corrupção originária, chamada de pecado original. Mas essa expressão se tornou estranha aos ouvidos modernos. São poucos os que se reportam a ela.
Mesmo assim, ouso resgatá-la, pois contém uma verdade inegável, atestada pela reflexão filosófica de um Sartre e mesmo pelo rigorismo filosófico de Kant, segundo o qual “o ser humano é um lenho tão torto que dele não se podem tirar tábuas retas”.
Importa anotar que é um termo criado pela teologia. Não se encontra como tal na Bíblia. Foi Santo Agostinho em diálogo epistolar com São Jerônimo que o inventou. Com a expressão “pecado original” não pretendia falar do passado. O “original” não tinha a ver com as origens primevas da história humana. Com ela Santo Agostinho queria falar do presente: a atual situação do ser humano, em seu nível mais profundo é perversa e marcada por uma distorção que atinge as origens de sua existência (dai “original”). Fez a sua filologia da palavra “corrupto”: é ter um coração (cor) rompido (ruptus, de rompere).
Somos portadores, portanto, de uma rachadura interna que equivale a uma dilaceração do coração. Em palavras modernas: somos dia-bólicos e sim-bólicos, sapientes e dementes, capazes de amor e de ódio.
Esta é a atual condition humaine. Mas por curiosidade, perguntava Santo Agostinho: quando ela começou? Ele mesmo responde: desde que conhecemos o ser humano: desde as “origens” (daí o segundo sentido de “original”). Mas ele não confere importância a esta questão. O importante é saber que aqui e agora somos seres corruptos, corruptíveis e corruptores. E que cremos em alguém, o Cristo, que nos pode libertar desta situação.
Mas onde se manifesta mais visivelmente este estado de corrupção? Quem nos responde é o famoso e católico Lord Acton (l1843-1902): é nos portadores de poder. Enfaticamente afirma:”meu dogma é a geral maldade dos homens de poder; são os que mais se corrompem”. E fez uma afirmação sempre repetida:”o poder  tem a tendência a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente”. Por que, exatamente, o poder? Porque é um dos arquétipos mais poderosos e tentadores da psiqué humana; dá-nos o sentimento de onipotência e de sermos um pequeno “deus”. Por isso  Hobbes no seu Levitã (1651) nos confirma: “Assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder que cessa apenas com a morte; a razão disso reside no fato de que não se pode garantir o poder senão buscando ainda mais poder”.
Esse poder se materializa no dinheiro. Por isso as corrupções que estamos assistindo envolvem sempre dinheiro e mais dinheiro. Diz um dito de Ghana:”a boca ri mas o dinheiro ri melhor”. O corrupto crê nesta ilusão.
Até hoje não achamos cura para esta ferida interior. Só podemos  diminuir-lhe  a sangria. Creio que, no termo, vale o método  bíblico: desmascarar o corrupto, deixando-o nu diante de sua corrupção e a pura e simples expulsão do paraíso, quer dizer, tirar o corruptor e o corrompido da sociedade e metê-los na prisão.
Fonte: www.cristovam.org.br

sábado, 18 de agosto de 2012

A política na Grécia Antiga


 
 A organização política da Grécia era dada pelas condições geográficas e econômicas, pois ela era dividida em pequenas unidades econômicas, assim não foi capaz de criar grandes sistemas políticos. Para se proteger de ataques, constroem refúgios fortificados no topo das colinas, e o começo das cidades, que logo se tornam o centro da vida religiosa, social e política, morada dos reis e dos sacerdotes. O sistema de vida dessas comunidades é descrito por Homero (poeta grego séc. VIII ou VII a.C) na Ilíada e na Odisséia. “Esses poemas descrevem o passado, não o presente: eles se referem ao tempo em que a redistribuição dos ramos gregos estava ocorrendo por toda parte, e quando não poucas características do passado egeu eram observáveis na vida da aristocracia” 1 O que se observa é que, econômica, social e politicamente o elemento dominante comum a todas as cidades descritas por Homero é a aristocracia, corporificada nas famílias. Cada família é dividida em grupos – fatrias- de natureza militar e religiosa, abaixo vem à população, dividida segundo a ocupação, posição social e residência. Os membros dessa classe plebéia é que formam o Demos, há os que possuem terras, outros são locatários ou servos e cultivam a terra dos senhores, outros alugam seu trabalho, existem os artesãos que vivem nas cidades e há também os escravos produtos das guerras. Não se sabe como surgiu esse sistema social considera- se essas famílias governantes como descendentes de heróis, isso está mais relacionado com os mitos mais antigos sobre deuses e heróis. Apesar da origem divina, o rei não era um déspota, não se considerava um deus nem senhor dos seus súditos, era sim o líder o chefe do clã, da família que tinha descendência divina. Com o avanço das tribos guerreiras (Dórios, Eólios) houve uma migração e uma redistribuição do povo grego na Ásia Menor, no platô de Anatólia. “Uma das conseqüências das invasões dórias teria sido a destruição quase total da civilização micênica” 2 Quando os grupos vindos da Grécia conquistaram os reinos da Anatólia, a primeira providência foi a de estabelecer seu poder, definir as relações com os colonos. Eles pouparam os templos, essa política pode ser vista na cidade de Éfeso no famoso templo de Ártemis, com toda probabilidade os gregos e a aristocracia governante nas cidades conquistadas se uniram para criar uma só classe dominante, com a população local de lavradores e pastores trabalhando para eles. A prosperidade dos gregos da Ásia Menor afeta a sua vida social e política, ao lado da aristocracia surgem os mercadores, os proprietários das vinhas e das fabricas e isso leva a uma ruptura nas famílias. A vida do fazendeiro pobre expulso pelos grandes para as colinas e pântanos é descrita na poesia de Hesíodo, um camponês beócio. “Ele descreve a vida árdua num pequeno pedaço de terra sem nenhuma animação no presente, e com a constante preocupação pelo amanha e sem nenhuma esperança para o futuro.” 3As despesas da minoria, o luxo com que se cercavam a exploração das massas e o número maior de escravos não foi suportado e gerou uma luta desumana e cruel entre as classes. Durante os séculos que se seguiram a invasão dos Dórios, nasceu lentamente à civilização grega propriamente dita, não como um milagre, e sim pelos conhecimentos aprendidos e adaptados de outras civilizações era uma unidade cultural básica, mas apresentava variantes em relação ao elemento humano que a compunha, as regiões, as paisagens e as influências. O desenvolvimento político e social da Grécia acompanhou o crescimento econômico, a formação e estabelecimento das cidades-estado é a principal característica, mas esse processo não foi simultâneo ou idêntico em todo lugar. Durante muitos séculos algumas regiões mantiveram o sistema de governo do tipo clã e todas as peculiaridades do período homérico. Nas cidades-estado, a vida política é concentrada num único lugar a cidade, ela é considerada o centro religioso, econômico e político do distrito unido em torno dela, todos os habitantes desse território são cidadãos e, juntos organizam a vida política, econômica e social. Os estrangeiros, servos e escravos são os únicos excluídos da categoria de cidadão. Nessas cidades-estado, o poder político passa das mãos do rei do clã para um grupo de cidadãos, primeiro para as famílias importantes ligadas ao antigo rei, em seguida para os proprietários rurais e, finalmente para os cidadãos, o primeiro momento é chamado “aristocracia” e o ultimo “democracia. No inicio a cidade grega verá muito rapidamente a diminuição do poder dos reis e um controle reforçado dos nobres sobre o conjunto social e político, foi nos círculos aristocráticos e guerreiros que se pensaram os modelos políticos que serão utilizados pelas cidades, com a expansão progressiva do número de pessoas que deveriam fazer parte desse novo modelo político. Ao fim das monarquias o que se viu foi o monopólio dos nobres sobre os assuntos coletivos, com o controle da justiça e da religião, a base do poder dos nobres era o controle da terra, em sua maior parte a produção nos campos assegurava o ajuste das massas rurais. As lutas políticas se desenvolviam no interior destes grupos, cujo poder era garantido pela força da sua ideologia. No entanto certas forças vão levar à mudança, uma crise agrária ameaçava o Demos com a escravidão, este processo foi resolvido durante algum tempo com a colonização, a exigência de justiça serviu para que o povo ficasse mais consciente na luta por maiores direitos. As lutas nas classes aristocráticas já não se resolviam no interior da sua camada, o clima tenso obrigou os aristocratas a aceitar legisladores que colocassem ordem nos assuntos coletivos e trouxessem a paz, através de medidas que quase sempre contrariavam seus interesses, como o perdão das dividas. Governando entre as rachaduras internas e o descontentamento popular muitas vezes com o apoio dos ramos secundários das elites, nasce o tirano, personalidade nova que inaugura o poder pessoal, no lugar do antigo poder aristocrático, esse golpe de estado se faz contra a aristocracia e o seu exclusivismo em alguns casos parte da nobreza se entende com o tirano e até o apóia.
Ele busca no Demos apoio contra o monopólio aristocrático, quando o golpe é violento, ele exila as famílias nobres e faz a partilha das suas terras, no meio urbano pratica a política das grandes obras (fontes, templos, teatros), no social quebra os quadros que garantiam o controle dos nobres sobre o povo e por fim para limitar o papel desempenhado pelos nobres na justiça rural, cria os juízes itinerantes dos Demos. Como lhe faltam tradições e justificações religiosas, o tirano atrai para sua corte poetas e sábios de todo tipo que interferem no domínio cultural e religioso. No campo político ele pouco ou nada intervém, só toma o cuidado de preencher os cargos de magistrados com aqueles que são fiéis a sua pessoa. Por suas próprias medidas eles fazem desaparecer as causas que possibilitaram a sua ascensão ao poder e prepararam uma intervenção mais autônoma do Demos nos assuntos da Polis. Os gregos inventaram a política, o fato de a política ser central na vida do ser humano era algo tão claro para eles, que é isso o que os faz distinguir o homem dos deuses e dos animais. O homem é um animal político, está, portanto destinado a viver em sociedade segundo a célebre expressão de Aristóteles (filosofo grego 384-348 a.C). Na Grécia Antiga o que vai prevalecer na época clássica e a divisão entre os que têm, possuem o direito de participar e os que não têm e não possuem nenhum direito, quando os gregos pensam em política, eles pensam primeiro nos cidadãos, seus debates, instituições e lutas. A mobilização política não é um fim em si, age-se em certas condições, na medida das possibilidades do momento, a procura de algum resultado, o esforço necessário e o sucesso são avaliados em relação aos resultados esperados. Nós como historiadores, pelo estado de espírito e pelo tipo de ética que sustentou a política na Grécia Antiga, devemos compreender e tentar explicar a surpreendente estabilidade da democracia, devemos buscar a razão desse fascínio em relação à real importância que esta instituição despertou ao longo da história na antiguidade e nos tempos modernos.
 Fonte:www.ebah.com.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROSTOVTZEFF, M. História da Grécia, Zahar Editores: Rio de Janeiro, 1977.




















































































































































terça-feira, 7 de agosto de 2012

A necessidade do sagrado


 Racionais e, portanto, indagadores, os seres humanos são dotados de uma profunda necessidade, singular em toda a natureza conhecida, de acreditar em algo ou em alguma coisa que dê sentido à vida. Desde os tempos mais remotos, nossa espécie tem se mostrado ávida por conhecer a origem do universo e o sentido da própria existência. E se, por um lado, a ignorância de respostas para tais problemas é capaz de gerar angústias terríveis, por outro, o domínio do sagrado tem se mostrado eficaz na cura de tal sofrimento há milhares de anos.

É claro que, como se sabe, o termo “sagrado” não é absoluto. Ao contrário, a dimensão da sacralidade não se apresenta na mesma forma sob todos os olhares, em todas as épocas e lugares. Aquilo que é considerado sagrado por um cristão pode muito bem não o ser para um hinduísta. Por sua vez, o que este considera sagrado também pode não o ser para um umbandista. E assim por diante. O domínio do sagrado depende, portanto, de perspectivas passíveis de serem situadas no tempo e no espaço. Os próprios cristãos, por exemplo, podem muito bem divergir enormemente entre si com relação ao que deveria ser considerado divino ou ordinário, caso contrário não haveria tantas denominações diferentes no interior do cristianismo, como a protestante e a católica. De qualquer modo, apesar de diferenças em maior ou menor grau que possam ser identificadas entre as perspectivas religiosas, a razão de ser do sagrado muito provavelmente é comum a todos os crentes: responder nossas questões existenciais mais básicas e sanar o sofrimento que eles são capazes de gerar.

A busca pelo sentido da existência e pela explicação da origem do universo levou os seres humanos a criarem sistemas de referências imutáveis e atemporais, compostos por entes como os deuses, os anjos, os espíritos, os demônios, o céu e o inferno. Entretanto, nada disso pode ser conhecido por intermédio dos sentidos, a não ser que tais entidades se revelem aos seres humanos por meio de milagres ou experiências sobrenaturais. É por isso que a busca do sagrado tende a ser acompanhada pela necessidade de se torna-lo tangível, passivo de ser visto, tocado, ouvido, cheirado ou deglutido.

A sacralização de objetos, lugares e ações ordinários faz parte da natureza de grande parte das religiões. Objetos como amuletos e crucifixos, por exemplo, são formas materiais, mas supostamente dotados de atributos espirituais, como a capacidade de proporcionar milagres dos mais variados tipos. O mesmo vale para determinados lugares, como templos e regiões naturais sagradas. Serve, também, para inúmeros ritos, como as santas-ceias e as cerimônias xamãs.

Nos dias de hoje, é curioso imaginar que objetos fabricados por robôs em escala industrial possam ser, de algum modo, dotados de propriedades sagradas. Mas o são, pelo menos a partir do exato momento em que são tocadas pelas mãos do religioso, que, desse modo, reforça sua fé no sobrenatural e silencia sua angústia existencial.
Fonte:  http://clickeaprenda.uol.com.br