Filosofia Circular

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A mundanidade de cada um




1. – O homem é um ser intramundano, isto é, determinado a existir no mundo e, nele integrado.
O Universo em sua totalidade inclui todos os seres caracterizados pela mundanidade. A mundanidade de um ser significa que êste ser é atualmente limitado pela materialidade, temporalidade e espacialidade.
Existindo seres substancialmente imateriais, não sujeitos as ações do tempo e do espaço, estes seriam distintos e independentes do Universo.
O imaterial; quando limitado pelo tempo, pelo espaço e de certo modo ligado ao material, é integrado no mundo. O ser do homem, sendo espírito-corporal, está integrado no mundo, não apenas pelo seu elemento material; mas, em sua totalidade, em corpo e alma.
O “meu Universo” é constituído por todos os seres que comigo se relacionam, em particular pelos seres por mim consciencializados.
Minha interpretação do mundo exterior, não ultrapassa os limites de “meu Universo consciente”. Não nego a possibilidade de ser influenciado e de influenciar seres por mim ignorados; não posso incluí-los em meus raciocínios, simplesmente, porque para mim permanecem desconhecidos.
Sendo meu objetivo inicial, o estudo da essência do homem, através do meu autoconhecimento, não considerarei os seres exteriores em si, mas em suas relações com o meu “eu” e, por extensão em suas relações com o “eu” de cada homem.
A vida é uma luta constante, na qual se objetiva a conquista e a afirmação do próprio ser, através da superação de seus condicionamentos e de suas debilidades.
Nesta luta, o mundo é inimigo e aliado; nêle encontram-se obstáculos que obstruem o caminho: é ele que nos fornece as armas para a ultrapassagem destes obstáculos.
O ar que respiramos e que renova nosso sangue, a água que nos sacia, os alimentos que nos sustentam, o calor que nos aquece, a sombra que nos refresca, o teto que nos protege, as roupas que nos vestem; enfim tudo, o que é indispensável para nossa existência, nôs vem do exterior. Nossa dependência do mundo é uma dependência vital.

2. – Nesta relação de dependência do eu para com o mundo, quando utilizamos um objeto para um determinado fim, este objeto pode ser uma utilidade ou um instrumento.
O objeto é útil ou utilizável, quando atual ou potencialmente capaz de satisfazer, diretamente, uma necessidade.
A idéia de instrumentalidade inclui a de utilidade, acrescentando a característica de intermediário. O instrumento é utilizável como intermediário entre o sujeito e outro objeto. Na refeição, o alimento permanece utilidade; o talher, sendo útil, é também instrumento.
O instrumento pode ser utilizado, não apenas como simples intermediário, mas também, para transformar objetos utilizáveis em úteis. O instrumento é utilizado pelo homem em suas atividades e em seu trabalho.
O instrumento não é necessariamente exterior ao corpo; os braços, por exemplo, podem exercer a função instrumental.

3. – Esta consideração sobre a instrumentalidade de um objeto, leva-me a considerar o trabalho.
O trabalho é transformador e criador.
Transformador porque supõe a preexistência da matéria e, não pode acrescentar matéria a matéria.
Criador porque ao transformar a matéria, cria novos objetos; a matéria permanece, as formas são novas. A matéria de uma árvore é a mesma depois de transformada em mesa; a forma da mesa é criação do trabalho.
O trabalho acrescenta à matéria novo significado. Esta significação é algo de espiritual transmitido à matéria pelo homem; é uma criação do homem, que se agrega ao objeto. Um vaso de cerâmica, não se confunde com a argila de que é feito, porque contém no seu interior um pouco do homem: o seu trabalho.
O trabalho humano não cria a matéria, transforma-a; para transformá-la necessita produzir algo não-material. O produto do trabalho é espiritual.
A pesquisa da verdade, a realização do belo e o discernimento do bem supõem o trabalho.
Através do trabalho e, sòmente através dele, o mundo é transformado. Esta transformação é, em si própria, criação. O trabalho acrescenta à natureza, a contribuição do homem.
O trabalho é um diálogo silencioso entre o homem e a natureza. Neste diálogo, não só o objeto é enriquecido, mas também o próprio sujeito é transformado em seu interior. Ao executar determinado trabalho, o homem transmite algo de si ao objeto; seu conhecimento dos seres exteriores aumenta, algo é assimilado pelo seu ser.
Nesta mútua influência entre o homem e o mundo, realizada através do trabalho, o homem é o agente. É sua atividade que transforma os objetos, é ainda em conseqüência de sua atividade, que é transformado.

4. – Em suas relações com o mundo, entretanto, o homem não é apenas agente, mas também paciente. Não só utiliza as coisas do mundo, é por elas condicionado.
Desde seu nascimento sua vida transcorre delimitada a determinados lugares. Capaz de locomoção, no decorrer da existência, alarga constantemente os limites de seu “habitat”, transferindo sua moradia.
Cada lugar possui determinadas peculiaridades, que o torna distinto dos demais. O clima, a paisagem, a alimentação, etc., variam de região à região.
Estas particularidades próprias a cada lugar, não permanecem exteriores; exercem profundas influências no homem. Por mais distante que esteja, no espaço e no tempo, do lugar em que passou sua infância e juventude, traz consigo sua marca.
Acostumado a determinadas circunstâncias ambientais, ao mudar de residência sente-se desambientado. Permanecendo nesta nova região por determinado período de tempo, adquire novas necessidades, adapta-se às novas situações. A influência do antigo ambiente, contudo, permanece.
Atuando em seu organismo, influenciando seus costumes e preferências, as condições ambientais condicionam sua vontade e seu intelecto.
Sendo um ser intramundano é incapaz de agir independentemente do mundo. As intuições das realidades espirituais, o mais abstrato dos pensamentos ou o mais profundo dos sentimentos, sòmente são possíveis, supondo um contato, atual ou anterior, com o mundo.

5. – O conhecimento do mundo pelo homem alarga-se constantemente através das pesquisas científicas, que lhe permitem desvendar os segredos da natureza.
O homem penetra os segredos do átomo e maravilha-se com a imensidade sideral; descobre as propriedades dos minerais e dos vegetais; estuda a vida desde a mais rudimentar até a mais complexa. A observação estética revela-lhe as belezas do Universo; o olhar religioso mostra-lhe o sagrado. Todas estas observações levam o homem a descobrir e interpretar as relações existentes entre os diversos seres intramundanos e a elaborar as suas leis.
Conhecendo melhor seu Universo, o homem por sua atividade e por seu trabalho, nele interfere para melhor aproveitar suas riquezas e, desenvolver suas potencialidades.
Esta interferência humana, nem sempre produz resultados positivos, a Ecologia nos mostra que muitas vezes a natureza é afetada de modo indevido, pela ganância e imprevidência humana: em conseqüência os resultados para o meio ambiente são desastrosos.
Felizmente, o homem começa a despertar para a necessidade de explorar as riquezas da natureza, respeitando suas leis, para que esta seja preservada e não destruída.
A procura de meios que nos levem a uma exploração sustentável da natureza, respeitando o meio ambiente; o combate a poluição e a busca de produtos não poluentes e biodegradáveis; e, sobretudo, a conscientização de que o homem é responsável pela preservação da natureza, para garantir a subsistência da própria humanidade, faz renascer a esperança de um futuro mais humano. 

SOCIABILIDADE

1. – O homem está, intimamente, relacionado a seres que lhe são semelhantes. Todo o seu existir é um existir com os homens.
A dependência, mútua, entre o eu e os outros, enraíza-se na própria natureza humana. O homem é essencialmente ser-social.
A sociedade, constituída pelos indivíduos que a compõe, apenas existe, enquanto realizada e, em função destes mesmos indivíduos. Em-si é ser de razão; não pode existir independentemente dos homens.
Realizada por homens seres livres e conscientes, a sociedade não é uma entidade estática, mas dinâmica. A ação do homem modifica continuamente o ambiente social.
Pela inteligência e vontade, o homem pode agir na sociedade, modificando seu aspecto e criando novas situações. Agente e paciente, contribui para o desenvolvimento da sociedade; é por ela condicionado em seu desenvolvimento.
É vivendo em sociedade que é educado e forma o seu caráter. É no contato cotidiano com seus semelhantes, que recebe os elementos necessários para desenvolver-se.

2. – A sociedade é constituída por um complexo de ambientes que coexistem entre si, tendo cada um características e finalidades próprias.
Na primeira infância, a sociedade, para o homem, reduze-se ao ambiente familiar.
É vaga a recordação dos cinco ou seis anos de idade, fatos ocorridos anteriormente, estão sepultados no esquecimento. O testemunho de pessoas mais velhas e o raciocínio baseado sôbre a semelhança essencial dos seres humanos, permitem-lhe conhecer algo de seus primeiros anos de vida. Embora, os fatos ocorridos nesse período, tenham sido inconsciencializados, exerceram e exercem influência no desenrolar de sua existência.
O iniciar da existência, o ingresso no mundo, o primeiro contato com a sociedade, realiza-se no seio da família. É aí que se adquire os primeiros conhecimentos, justamente aqueles que servem de base para os demais. No lar, encontra-se pela primeira vez em presença do outro, do qual depende e, com o qual deve conviver. No lar, aprende a Amar.
É no lar, que aprende a língua da qual se serve para expressar seus pensamentos. É grande a importância da língua materna para o homem e, para o seu pensar, pois diferentes línguas condicionam diferentes modos de pensar.
A influência da vida familiar, embora com diferente intensidade, nunca deixa de estar presente na vida do homem, pois foi da família que recebeu todo o alicerce para o construir de sua própria personalidade.

3. – A escola centraliza as atividades do homem durante sua infância e adolescência, quando não invade também sua idade adulta. Na escola o homem passa grande parte de sua vida, nela adquire novos conhecimentos, que lhe são transmitidos pelos mestres.
O papel da escola na vida do homem, não se limita ao aprendizado intelectual. Nela não se adquire sabedoria, como se adquirem objetos num estabelecimento comercial. É triste e degradante quando se dá importância exagerada, quase exclusiva mesmo, ao aspecto financeiro e empresarial de um estabelecimento de ensino.
O homem integra-se na escola, a vida escolar, passa a ser parte de sua vida. A escola propicia-lhe aprofundamento intelectual e alargamento social. As atividades estudantis são eminentemente sociais, levam o homem ao encontro do homem.
O primeiro professor muito representa para o aluno e, sua influência, consciente ou inconscientemente, o acompanha em seu existir. Os discípulos recebem dos mestres elementos que se integram ao seu caráter. Uma palavra ou uma atitude de determinado professor pode exercer preponderante influência na vida dos alunos.
A escola, além do mestre, o jovem está em contato diário com seus colegas. O companheiro de estudo é companheiro de diversões, com ele trocam-se idéias, discutem-se os mais diversos assuntos, seus gostos e interesses são semelhantes. Sem perceberem uns e outros se influenciam, mutuamente, com o companheiro aprende xadrez, com ele o outro começa a interessar-se por cinema. Virtudes e vícios iniciam-se na escola; nela muitas vezes são iniciadas grandes amizades.
Mestres, alunos, diretores e funcionários constituem o ambiente escolar, a ele transmitem seu pensar e seu agir. As influências mutuas são transmitidas através do meio. Quando se entra num colégio, recebe-se o impacto do ambiente; mestres e discípulos dotados de iniciativa, podem transformá-lo Novas idéias são transmitidas, novas preocupações são incorporadas ao pensar de cada indivíduo, fatos até então ignorados são descobertos, etc.
Na escola, tudo propicia ao homem novas situações e novos contatos.
Durante os primeiros anos como estudante, o homem limita-se a assistir as aulas e a contatos superficiais com seus companheiros. Mais tarde, porém, favorecido por diversos fatores, começa a viver intensamente o meio, sob todos os aspectos. Esta vivência será tanto maior e mais intensa, quanto maior e mais intensa for a capacidade de engajamento e de iniciativa de cada um. Assim, começa a viver problemas que antes apenas interessava-lhe teoricamente. Sua visão social alarga-se e, penetrando mais profundamente no conhecimento do ambiente estudantil, começa a compreender melhor mesmo o que lhe é exterior. Aprende-se muito mais com as atividades extracurriculares do que na assistência às aulas.

4. – A escola é caracteristicamente transitória, nela o homem prepara-se para a vida; em suas atividades escolares, visa alcançar formação para realizar-se em outros setores da sociedade. Ao contrário, o trabalho é estável e definitivo; a transitoriedade no trabalho é acidental, sua característica principal é a estabilidade.
No exercício de sua profissão, encontra-se o homem frente a novos condicionamentos. Aqui o importante não é a formação; é a execução de tarefas para as quais está apto; é o conseguir recurso para a subsistência própria e a de seus dependentes.
No trabalho o homem ocupa sua posição na sociedade e, executa sua definitiva missão como ser-social.
Trabalhando em diferentes profissões, encontra-se em diferentes ambientes. A maneira de pensar, os problemas vitais, as preocupações e as distrações são diversas.
O contato com os companheiros e o ambiente de trabalho, deixam suas marcas no indivíduo. Assim diferenciam-se industriário, agricultor, comerciário, bancário, patrão, empregado, médico, advogado, engenheiro e professor, etc. Em reuniões civis, na prática de esporte, etc., não é difícil distinguir a presença do militar, do político, do religioso, mesmo quando estes procuram permanecerem iguais aos outros, usando trajes comuns e procurando agir como qualquer outro agiria.
O indivíduo inclina-se mais para certas profissões. Trabalhando concorde com sua vocação, seu trabalho é suave e mistura-se com seu próprio sangue; trabalhando contra sua vocação, o trabalho é árduo e permanece artificial, executa-o, mas não o assimila, nunca lhe será natural; mesmo que se esforce e se prepare, com afinco, para bem executá-lo.
Do fato de se trabalhar de acordo ou não com a própria vocação, depende muitas vezes o sucesso do trabalho. É preciso estar o homem no seu exato lugar, trabalhar conforme sua vocação e, em ambientes que lhe sejam favoráveis; caso contrario, não produzirá o que pode: será dominado pelo pessimismo.
Muitas e muitas vezes, devido a fatores sociais e econômicos, principalmente, a necessidade da subsistência e a falta de oferta de trabalho em determinadas profissões, o homem é compelido a trabalhar no que não está devidamente preparado ou que não corresponde aos seus desejos e inclinações. Nestes casos, o homem é capaz de superar-se e, até tornar-se um profissional bem sucedido, mas nunca deixará de sentir a angústia de estar trabalhando por necessidade ou por ambição; sua realização pessoal estará comprometida.

5. – Não se pode exaltar suficientemente, o papel da religião na vida do homem. Aqui não se trata de afirmar a veracidade ou não desta ou daquela religião, nem de examinarmos as diferentes doutrinas e práticas religiosas, apenas constatarmos a importância do ambiente religioso no realizar-se do homem.
Através da religião, o homem deixa as considerações referentes ao dia a dia, das coisas que passam e que fatalmente irão se acabar; para considerar, o que, por ter maior consistência, irá permanecer: pelo menos em sua compreensão da realidade.
É através da religião, seja qual for, que o homem constrói e consolida sua crença numa dimensão transcendente. Intermediária, entre Deus e os homens, a religião através de ritos, dogmas e leis morais, apresenta aos crentes normas que lhe nortearão a vida.
A sua influência na vida humana é realizada negativa e positivamente. Negativamente, enquanto estabelece uma série de preceitos, proibindo determinadas ações e obrigando outras; positivamente, enquanto responde aos diversos anseios humanos, apresentando aos homens uma doutrina própria.
Diversas são as igrejas, igualmente, diversos são as leis morais e os preceitos doutrinários. Politeístas e monoteístas; muçulmanos, judeus, hinduístas, budistas e cristãos; católicos, ortodoxos e evangélicos; espíritas e umbandistas, cada credo apresenta diferentes soluções aos problemas sobrenaturais. Diverso é o modo de pensar desta ou daquela religião. Dentro de uma mesma igreja, os crentes desempenhando diferentes funções ou pertencendo a diferentes fraternidades ou comunidades, apresentam divergências entre si, ainda que permanecendo concordes no que é essencial a seu credo.
Papel preponderante na vida religiosa é exercido pelo ministro ou sacerdote, separado do comum dos fiéis, é encarregado em orientá-los e dirigi-los. Um pastor dotado de forte personalidade arrasta os fiéis e exerce profunda influência em suas vidas. Entre os leigos, também existem aqueles que assumem o papel de líderes religiosos.
A religião une os homens em seus pensamentos, aspirações e atividades. Homens separados entre si, por diferentes condições culturais, econômicas ou sociais, ou ainda pertencendo a diferentes raças ou nações, unem-se pelo ideal religioso.
A religião é dinâmica, em sua marcha invade todos os lugares, não respeita as camadas sociais. Conquista os homens, reforma a sociedade, cria novas realidades. A adesão a uma determinada igreja, pode levar o homem a atitudes extremas, chegando mesmo, movido pela fé, a abandonar a própria família e os amigos, a sacrificar-se constantemente, para o estabelecimento de sua religião. Por outro lado, movido pelo fanatismo religioso, causar tragédias e até mesmo guerras em nome de um falso ideal religioso.
Normalmente o fiel, sem chegar a tais extremos, informa toda a sua vida pela fé. A influência da religião atinge mesmo aqueles que, se dizem irreligiosos. A religião ministrada na infância, muitas vezes, manifesta-se no adulto, após muitos anos de afastamento.
Existindo na sociedade onde a ação dos fiéis é notória, o homem, consciente ou inconscientemente, é condicionado pelo fator religioso.

6. – A família, a escola, o trabalho e a religião propiciam ao homem condições para sua realização pessoal; mas, trazem responsabilidades e obrigações, que devem ser cumpridas e, em conseqüência, desgastes tanto físicos como psíquicos. Para combater as enfermidades, devidas ao excesso de trabalho, e o descontrole emocional, o homem necessita de lazer.
Na busca do lazer, dois erros devem ser evitados: privilegiar as atividades do lazer, como sendo as mais importantes, como fazem muitos que vivem apenas para o prazer; ou, considerar estas atividades como inúteis, pura perda de tempo.
São diversos os tipos de atividade que propiciam lazer, entre as quais:
a) Viagens e passeios: que propiciam descanso e descoberta de novos ambientes, trazendo ao homem aventura e ampliando seu horizonte.
b) Atividades esportivas: trazendo a emoção, o espírito de equipe e o superar seus limites na busca da vitória sôbre o adversário ou sôbre si mesmo.
c) Atividades artístico-culturais: levando o homem a usufruir o prazer estético, que eleva sua alma e enobrece seus sentimentos.
d) Atividades sociais: tais como; bailes, quermesses, bodas, aniversários que propiciam o encontro com o próximo, aumentando seu relacionamento social.
Estas e outras atividades, escolhidas conforme o gosto e a inclinação de cada um são necessárias para que se consiga uma personalidade equilibrada e saudável.
As influências dos ambientes de lazer sobre o homem é maior do que muitos imaginam. A escolha de determinados lazeres contribui para a formação de sua personalidade; nota-se facilmente as diferenças entre o pescador e o esportista, entre o apreciador da arte erudita e, o frequentador de shows populares, etc. Em cada ambiente, o homem encontra-se com outros homens, que fizeram a mesma escolha, o que propícia, aos mesmos, um mútuo influenciar.
O homem que diversifica seus lazeres, frequentando diversos ambientes, têm oportunidade de se enriquecer mais, devido aos diferentes contatos, do que aquele que se limita apenas a um único ambiente, para seu lazer.

7. – Vivendo nas metrópoles ou nos vilarejos; nas cidades, no campo ou na floresta; nas estâncias, nas praias ou nas montanhas; nos condomínios de luxo ou nas favelas, o homem encontra-se em diferentes ambientes sociais; onde deve atuar. As diferenças de tradição, de cultura, de economia, etc., são fatores que se integram em sua constituição psicológica.
A percepção da influencia do ambiente político-social no homem é mais evidente, quando consideramos as divergências de mentalidade existentes entre os habitantes de diversas regiões e de diversas nações.
No complexo político-social do mundo contemporâneo, no qual as distâncias encurtam-se, a macro-economia torna-se cada vez mais exigente e impositiva e, os meios de comunicação aperfeiçoam-se incessantemente, propiciando mútuo condicionamento; as criações do espírito humano continuam a comprovar a existência indestrutível de profundas qualidades características a cada nacionalidade, que distinguem as diversas culturas e as diversas nações.
O progresso da técnica e da civilização, não eliminaram as notas características de cada povo, preservadas principalmente na tradição e no folclore. Não apenas as nações hegemônicas, mas todo e qualquer país, mesmo os menores e mais esquecidos tem muito a contribuir para o enriquecimento da civilização e da humanidade. Desconhecer ou desprezar o contributo, dos mais pobres e dos mais primitivos é ofender a dignidade do próprio homem.
Dentro de uma mesma nação, encontramos grandes diferenças entre suas diferentes regiões e, mesmo entre diversas localidades, muitas vezes, localizadas próximas umas das outras. No Brasil, por exemplo, o modo de ser e as tradições do nordestino, do carioca e do gaúcho apresentam diferenças, facilmente reconhecidas, mesmo por aqueles que nos visitam pela primeira vez.

8. – Muitos outros ambientes sociais, que influenciam o existir humano, mereceriam ser analisados, pelo menos breve e sucintamente, como fizemos com os estudados acima, mas sendo esta tarefa muito grande e não necessária para nossos objetivos, não o faremos. Gostaria, no entanto, ao terminar este tópico sobre a sociabilidade, de tecer breves considerações sobre êste ambiente cada vez mais presente na nossa existência: o ambiente virtual.
A mídia, principalmente a televisão, tem revolucionado a comunicação e, o que parecia impossível a poucos anos, hoje tornou-se corriqueiro. Tomar conhecimento, em tempo real, do que acontece do outro lado do mundo é tão comum que nos é difícil acreditar que, apenas há alguns anos isso não acontecia.
A influencia da TV e dos outros meios de comunicação é tão grande que nos perguntamos se é ela benéfica ou destrutiva de nossos valores? O novo homem, antes formado pela família, pela escola e pela religião, é formado pela mídia?
Não. A mídia não forma, a mídia informa e deforma. Como inesgotável fonte de informação ajuda ao homem, aumentando seu conhecimento e dando-lhe condições de enriquecer o seu próprio eu. Mas a mídia deforma quando o homem recebe as informações sem o devido espírito crítico, para escolher entre a verdade e o erro, entre o que lhe é benéfico e enriquecedor e o que não o é.
Mas, sobre o que eu queria falar não é sobre a mídia, esta, embora muito importante, ainda é pouco frente a este mundo virtual que nos propícia a Internet. O mundo virtual é uma realidade em outra dimensão, onde tudo pode tornar-se realidade, realidade virtual é claro. A lógica do computador começa a transformar profundamente as estruturas da própria mente do usuário.
A influência do computador e da internet no pensar e no agir, principalmente em relação aos jovens, é considerável. Está nascendo um novo tipo de homem, o homem virtual.
Torna-se necessário um aprofundamento no estudo da influência do universo virtual no homem. Espero que alguém empreenda este estudo, mas de toda maneira, não se pode considerar mais o homem sem nos referirmos a esta dimensão.
A possibilidade de comunicação praticamente instantânea, propiciando relacionamentos pessoais com pessoas de outros paises e de outras culturas, livre de qualquer barreira da censura; as informações que são acumuladas nas memórias dos computadores e que podemos acessar quando e como quisermos; a capacidade de invadir os computadores alheios, como fazem os Hackers, chegando a penetrar na intimidade das pessoas e a destruir importantes informações e arquivos; a impressionante e inesgotável capacidade criativa, principalmente nos jogos e na computação gráfica. Tudo isso nos leva a indagar até onde o homem poderá chegar em sua capacidade criativa e, porque não, também destrutiva utilizando as ferramentas que nos fornecem a computação e a realidade virtual?
Pela Internet, não recebemos apenas informações dos fatos e acontecimentos selecionados pelo interesse da mídia e que dão Ibope, não tomamos conhecimentos apenas das opiniões dos líderes políticos, empresários, ídolos do esporte e da televisão, etc., mas, podemos conhecer as opiniões de pessoas comuns e tomar conhecimentos de fatos e acontecimentos, que embora importantes, não são veiculados pela mídia. As salas de bate-papo, muitas vezes mal utilizadas, podem ser ocasiões para aumentar nosso conhecimento e estabelecermos relações de amizade, independente da vontade dos poderosos, que querem direcionar até mesmo os nossos mais íntimos desejos.
Os mais diversos sites nos colocam frente a uma diversidade, quase incontável de assuntos; desde frivolidades até sites voltados para ciência, política, arte e religião. A nossa erudição se alarga, com assuntos dos quais, nunca antes nos haviam interessado, graças ao modo e a criatividade com que os mesmos são abordados. Todos, mas principalmente os jovens, são atraídos pela Internet e, suas consultas e trabalhos propiciam enorme desenvolvimento no processo educacional, completando o que a escola não consegue transmitir.
Propiciará o ambiente virtual, ainda maior possibilidade para os poderosos governarem política, econômica, cultural, social e religiosamente; impositiva e ditatorialmente, sem respeitar os direitos dos mais fracos e excluídos? Ou será o grito de libertação do homem, que pode levar a anarquia ou a sua plena realização?
Somente o tempo nos trará as respostas.
Fonte: http://reflexoessobreaessenciadohomem.blogspot.com.br/p/mundanidade-sociabilidade-historicidade.html

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Teimosia

Todos nós criamos mecanismos de defesa psicológicos e o excesso deles é indicação, quase sempre, de que algo vai errado. Freud nos ensinou que esses mecanismos de defesa se manifestam pela negação, repressão/recalque, racionalização, projeção, regressão, sublimação, deslocamento, introjeção e formação reativa.Em especial tem dois momentos de nossas vidas que esses mecanismos afloram: quando estamos sofrendo por amor (morte da alma) e quando estamos com medo ou sofrendo por dor (morte do corpo). Nestes dois momentos nos tornamos teimosos e tentamos enganar a nós mesmos usando os vários mecanismos de defesas acima citados. Cada um deles merece um texto a parte e o farei.
Freud, o pai da psicanálise, chamava de negação esse mecanismo de defesa psíquico do ser humano em não querer aceitar sua nova realidade de vida. Neste sentido, podemos afirmar que uma pessoa está sendo teimosa quando resiste, recusa-se em saber a verdade dos fatos, preferindo cultivar a ilusão. É evidente que, por conta de sua inflexibilidade, irá colher o fruto da dor e do sofrimento, seja da alma ou do corpo.
Porque essa teimosia? Porque os teimosos costumam dizer que na realidade são persistentes? Será mesmo?
Qual é a diferença entre teimosia e a persistência?
Persistente é quando somos perseverantes, determinados, firmes e constantes em nossos propósitos sem mudar ou variar de intenção.
Teimoso quando somos obstinados, insistentes, birrentos, empacados, não desistimos, teimando exageradamente apesar das evidências dos fatos provarem que estamos no caminho errado.
persistência – que nos torna mais perto de alcançarmos o objetivo – tem muito mais a ver com o método de trabalho, com a força da vontade, com a busca de caminhos alternativos.
Sabemos que os grandes inventores, músicos, romancistas, pintores, foram persistentes nas suas convicções, porém muitos só foram reconhecidos e consagrados após sua morte. Thomas Edison, o grande inventor, tinha o desejo ardente de iluminar o mundo. Muitos o rotularam de louco, lunático. Para ele inventar a lâmpada tentou inúmeras vezes, e, apesar do insucesso contínuo, não desistiu. Foi teimoso ou perseverante? Perseverante, mas muitos na época o achavam teimoso.
Existe uma linha tênue, muito fina para sabermos distinguir a teimosia da perseverança. Em outras palavras, quando é que deixamos de ser perseverantes e começamos a ser teimosos?  No meu entender, a diferença está no resultado.
A teimosia, que nos torna cego e surdo, é persistir nos mesmos erros, é repetir, sem parar, a mesma coisa, com os mesmos erros em algo que não funciona, com as mesmas pessoas até dar certo, que não o (a) deixa feliz. É resistir à verdade e cultivar a ilusão. É continuar a fazer algo que o (a) infelicita e que produz dor e sofrimento. Penso que persistir em erros não trás nada de bom, só é perda de tempo (na melhor das hipóteses).
Acredito que todo mundo tenha seu grau de teimosia… Quantas vezes já não ouviu “Eu não sou teimoso, teimoso é quem teima comigo”, ou, “Eu sou um pouco teimosa, mas não ao ponto de atrapalhar a minha vida ou meus relacionamentos”. Meras desculpas para encobrir nossa teimosia em aceitar a realidade, uma negação enfim.
Cada um gosta das coisas ao seu modo, mas não precisamos ser extremistas e virar um teimoso por isso. Muitas vezes é válido aceitar o ponto de vista do outro, ver as coisas por outro ângulo…
E pior que teimar é teimar errado! Neste ponto entra também o Orgulho… orgulho para não aceitar mudanças, para não aceitar opinião… orgulho para não dar o braço a torcer. Penso que isso se torna uma bola de neve e quando nos damos conta, está gigante e incontrolável… complicado… um nó difícil de desatar mesmo tendo consciência de tudo.
Aqui a pergunta: O porquê de sua infelicidade? Fácil de responder: Existe aí uma teimosia de sua parte que se recusa em mudar, em se desapegar de uma ilusão. É Hora de Mudar.
Fonte: http:www.horademudar.com.br

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Humanidade x Racismo



O racismo é a forma mais baixa e mais cruelmente primiti­va de coletivismo. É a noção de atribuir significado moral, social ou político à linhagem genética de um homem ? é a noção de que os traços caracterizadores e intelectuais de um homem são pro­duzidos e transmitidos por sua química corporal interna. O que quer dizer, na prática, que um homem deve ser julgado, não por sua índole ou ações, mas pelas índoles e ações de um coletivo de antepassados.
O racismo afirma que o conteúdo da mente de um homem (não seu aparato cognitivo, mas seu conteúdo) é herdado; que as convicções, caráter e valores de um homem são determinados an­tes de seu nascimento, por fatores físicos além de seu controle. Esta é a versão do homem das cavernas da doutrina das ideias ina­tas ? ou do conhecimento herdado ?, a qual tem sido completa­mente contestada pela filosofia e pela ciência. O racismo é uma doutrina de, por e para brutamontes. E uma versão de quintal ou de fazenda de gado do coletivismo, apropriada à mentalidade que diferencia várias raças de animais, mas não animais e homens. 
Como toda forma de determinismo, o racismo invalida o atri­buto especifico que distingue o homem de todas as outras espécies vivas: sua faculdade racional. O racismo nega dois aspectos da vi­da do homem: razão e escolha, ou inteligência e moralidade, subs­tituindo-os por predestinação química. 
A família respeitável que sustenta parentes imprestáveis ou os crimes destes a fim de "proteger o nome da família" (como se a estatura moral de um homem pudesse ser prejudicada pelos atos de outro) ? o vagabundo que se gaba de que seu bisavô foi um construtor de impérios, ou a solteirona do interior que se ga­ba de que seu tio materno era um senador estadual e de que seu primo em terceiro grau deu um concerto no Carnegie Hall (como se as realizações de um homem pudessem remover a mediocrida­de de outro) ? os pais que procuram árvores genealógicas a fim de avaliar seus futuros netos ? a celebridade que inicia sua auto­biografia com um detalhado relatório de sua história familiar ? todos estes são exemplos de racismo, as manifestações atávicas de uma doutrina cuja total expressão é a guerra tribal de selva­gens pré-históricos, o massacre em massa da Alemanha Nazista, as atrocidades das chamadas "nações emergentes" atuais. 
A teoria que sustenta "o sangue bom" ou "o sangue mau" como um critério moral-intelectual somente pode levar a derrama­mento de sangue, na prática. A força bruta é o único canal de ação aberto aos homens que consideram a si mesmos agregados descuidados de substâncias químicas. 
Os racistas modernos tentam provar a superioridade ou a infe­rioridade de uma suposta raça através das realizações históricas de alguns de seus membros. O espetáculo histórico frequente de um grande inovador que, em sua existência, é zombado, denuncia­do, bloqueado, perseguido por seus compatriotas e que, então, poucos anos após morrer, é posto num santuário de um monumen­to nacional e saudado como uma prova da grandeza da raça ale­mã (ou francesa ou italiana ou cambojana) ? é tão revoltante quanto um espetáculo de expropriação coletivista, perpetrado. pe­los racistas, quanto qualquer expropriação de riqueza material per­petrada pelos comunistas. 
Assim como não há uma mente coletiva ou racial, também não existe realização coletiva ou racial, Há apenas mentes indivi­duais e realizações individuais ? e uma cultura não é um produto anônimo de massas indiferenciadas, mas o total de realiza­ções intelectuais de homens individualmente considerados. 
Mesmo se fosse provado ? o que não é o caso ? que a incidência de homens de poder mental potencialmente superior é maior entre os membros de certas raças do que de outras, isto ainda não nos diria nada sobre nenhum suposto indivíduo, e seria irrelevante para o seu julgamento. Uni gênio é um gênio, independentemen­te do número de retardados mentais que pertençam à mesma ra­ça ? e um retardado mental é um retardado mental, independen­temente do número de gênios que têm a mesma origem racial. É difícil dizer qual é a injustiça mais ultrajante: a reivindicação dos racistas sulistas de que um gênio negro deve ser tratado como infe­rior, porque sua raça "produziu" alguns brutamontes ? ou a rei­vindicação de um brutamontes alemão ao status de superior por­que sua raça "produziu" Goethe, Schiller e Brahms. 
Essas não são duas reivindicações diferentes, é claro, mas duas aplicações da mesma premissa básica. A questão de alguém alegar superioridade ou inferioridade de suposta raça é irrelevan­te: o racismo possui apenas uma raiz psicológica: o senso do racis­ta de sua própria inferioridade.
Como toda forma de coletivismo, o racismo é uma procura pelo não-obtido. E uma procura pelo conhecimento automático ? por uma avaliação automática das índoles dos homens que des­viam a responsabilidade de exercitar o julgamento racional ou mo­ral ? e, acima de tudo, uma procura por uma auto-estima auto­mática (ou pseudo-auto-estima). 
Atribuir as virtudes de alguém a sua origem racial é confessar que não se possui conhecimento do processo pelo qual elas são ad­quiridas e, mais frequentemente, que se fracassou em adquiri-las. A esmagadora maioria dos racistas é constituída de homens que não obtiveram nenhum senso de identidade pessoal, que não po­dem reivindicar nenhuma realização ou distinção individual e que buscam a ilusão de uma "auto-estima tribal", alegando a inferiori­dade de alguma outra tribo. Observe a intensa histeria dos racistas sulistas; observe também que o racismo é muito mais predominan­te entre a escória branca pobre do que entre os seus experientes in­telectuais. 
Historicamente, o racismo sempre aumentou ou decaiu com o aumento ou queda do coletivismo. Este sustenta que o indivíduo não tem direitos, que sua vida e trabalho pertencem ao grupo (à "sociedade", à tribo, ao Estado, à nação), e que o grupo pode sa­crificá-lo ao seus próprios caprichos e interesses. A única maneira de implementar uma doutrina deste tipo é através dá força bruta ? e o estatismo sempre foi o corolário político do coletivismo. 
Estado absoluto é simplesmente uma forma institucionaliza­da de uru regime de gangues, independentemente de qual gangue em particular mantenha o poder, E ? já que não há justificativa racional para esta regra, já que nada foi ou pode ser oferecido ? a mística do racismo é um elemento crucial para toda variante do Estado absoluto. O relacionamento é recíproco: o estatismo vem das guerras tribais pré-históricas, da noção de que os homens de uma tribo são presa natural para os de outra ? e estabelece suas próprias subcategorias internas de racismo, um sistema de castas determinadas pelo nascimento de um homem, assim como os títulos de nobreza ou a servidão, herdados. 
racismo da Alemanha Nazista ? onde os homens têm de preencher questionários sobre seus ancestrais, a fim de provar sua descendência Ariana ? tem seu complemento na Rússia Soviéti­ca, onde os homens têm de preencher questionários similares pa­ra mostrar que seus ancestrais não possuíam nenhuma proprieda­de e, assim, provar sua descendência proletária. A ideologia sovié­tica repousa na noção de que os homens podem ser geneticamen­te condicionados ao comunismo ? isto é, que algumas gerações condicionadas pela ditadura transmitirão a ideologia comunista aos seus descendentes, os quais serão comunistas ao nascer. A per­seguição das minorias raciais na Rússia Soviética, de acordo com a descendência racial e capricho de qualquer comissário de plantão, é uma questão de registro; o antissemitismo é particularmente pre­dominante ? mas agora as perseguições oficiais são chamadas de "depurações políticas". 
Há apenas um antídoto para o racismo: a filosofia do indivi­dualismo e seu corolário político-econômico, capitalismo laissez-faire. 
O individualismo considera o homem ? todos os homens ? como uma entidade soberana, independente, que possui um direi­to inalienável a sua própria vida, direito este derivado de sua natu­reza de ser racional. Ele sustenta que uma sociedade civilizada, ou qualquer forma de associação, cooperação ou coexistência pací­fica entre os homens, pode ser atingida somente com base no reco­nhecimento dos direitos individuais ? e que um grupo, como tal, não possui direitos, a não ser os direitos individuais de seus mem­bros. 
Não são os ancestrais ou os parentes ou os genes ou a química corporal de um homem que contam num mercado livre, mas apenas um atributo humano: habilidade produtiva. E por sua pró­pria habilidade e ambição individual que o capitalismo julga um homem e o recompensa correspondentemente.
Nenhum sistema político pode estabelecer a racionalidade uni­versal pela lei (ou força). Mas o capitalismo é o único sistema que funciona de maneira a recompensar a racionalidade e penalizar to­das as formas de irracionalidade, incluindo o racismo. 
Um sistema capitalista totalmente livre ainda não existiu em lugar nenhum. O que tem grande significado, porém, é a correla­ção de racismo e controle político, na economia semilivre do sécu­lo XIX, As perseguições raciais e/ou religiosas das minorias man­tiveram-se em proporção inversa ao grau de liberdade de um país. O racismo foi mais forte nas economias mais controladas, como na Rússia e Alemanha ? e mais fraco na Inglaterra, o país mais livre da Europa, na época. 
Foi o capitalismo que proporcionou à humanidade dar seus primeiros passos em direção à liberdade e a uma maneira racional de vida. Foi o capitalismo que atravessou as barreiras raciais e na­cionais, por meio do comércio livre. Foi o capitalismo que aboliu a servidão e a escravidão em todos os países civilizados do mun­do. Foi o Norte capitalista que destruiu a escravidão do Sul agrá­rio-feudal dos Estados Unidos. 
Essa foi a tendência da humanidade pelo breve período de alguns cento e cinquenta anos. Seus resultados e conquistas espeta­culares não precisam de reafirmações, aqui.
O aumento do coletivismo reverteu essa tendência. 
Quando Os homens começaram a ser doutrinados, mais uma vez, com as noções de que um indivíduo não possui direitos, de que a supremacia, a autoridade morai e o poder ilimitado perten­cem ao grupo, e de que o homem não possui significância fora de seu grupo ? a conseqüência inevitável foi começar a gravitar na direção de um grupo ou outro, em autoproteção, perplexidade ou terror subconsciente. O coletivo mais simples para se engajar, aquele de mais fácil identificação ? particularmente para pessoas de inteligência limitada ?, a forma menos exigente de "pertencer" e de "camaradagem", é: raça. 
Foi deste modo que os teóricos do coletivismo, os defensores do "humanitarismo" de um Estado absoluto "benevolente", leva­ram ao renascimento e novo e virulento crescimento do racismo no século XX. 
Nessa grande era do capitalismo, os Estados Unidos foram o país mais livre sobre a Terra ? e a melhor refutação das teorias racistas. Homens de todas as raças vieram para cá, alguns de paí­ses obscuros, culturalmente sem distinção, e executaram façanhas de habilidade produtiva que teriam ficado natimortas em suas pá­trias dominadas pelo controle. Homens de grupos raciais que esti­veram massacrando-se uns aos outros por séculos, aprenderam a viver juntos em harmonia e cooperação pacífica, A América foi chamada de "o cadinho", por boas razões. Mas poucas pessoas perceberam que a América não fundiu os homens na conformida­de cinzenta de um coletivo: ela os uniu por meio da proteção dos direitos à individualidade. 
As maiores vítimas deste preconceito racial, que certamente existiu na América, foram os negros. Tratou-se de problema origi­nado e perpetrado pelo Sul não-capitalista, ainda que não confina­do às fronteiras. A perseguição dos negros no Sul foi e é verdadei­ramente vergonhosa. Mas, no resto do país, visto que os homens eram livres, até mesmo este problema foi vagarosamente cedendo sob a pressão do esclarecimento e dos próprios interesses econômi­cos dos brancos. 
Hoje, este problema está se agravando ? assim como todas as outras formas de racismo. A América tornou-se consciente, no que se refere a raças, de uma maneira remanescente dos piores dias dos países mais atrasados da Europa do século XIX. A cau­sa foi a mesma: o crescimento do coletivismo e do estatismo. 
Apesar do clamor por igualdade racial, propagada pelos "libe­rais" há poucas décadas atrás, o Bureau de Censo relatou recente­mente que "o status econômico [do negro] em relação ao branco não melhorou por aproximadamente vinte anos". Vem-se igualan­do nos anos mais livres de nossa "economia mista"; deteriorou com a expansão progressiva dos "liberais" do Serviço Social. 
O crescimento do racismo numa "economia mista" marcha com o crescimento do controle governamental. Uma "economia mista" desintegra um país, a ponto de levá-lo a uma guerra civil institucionalizada, de grupos de pressão, todos lutando por favores legislativos e privilégios especiais às custas um do outro. 
A existência destes grupos de pressão e de seus lobbies políti­cos é atualmente reconhecida de maneira aberta e cínica. O pretex­to de qualquer filosofia política, princípios, ideais ou objetivos de longo prazo, está desaparecendo rapidamente de nosso cenário ­e deve-se admitir que este país está agora navegando sem direção, à mercê de um jogo de poder cego de curto prazo, disputado por várias gangues estatistas, todas com intenção de conseguir apoio de um figurão do Poder Legislativo para tirar qualquer vantagem especial imediata. 
Na ausência de uma filosofia política coerente, todo o grupo econômico vem agindo como seu próprio destruidor, liquidando seu futuro por algum privilégio momentâneo. A política dos ho­mens de negócios foi, por algum tempo, a mais suicida, a este res­peito. Foi, porém, ultrapassada pela política corrente dos líderes negros. 
Enquanto os líderes negros estavam lutando contra a discrimi­nação imposta pelo governo ? direito, justiça e moralidade esta­vam de seu lado. Mas não lutam mais por isso. As confusões e as contradições que circundam a questão do racismo, atingiram agora um clímax inominável. 
E hora de esclarecer os princípios envolvidos. 
A política dos estados sulistas em relação aos negros era e é uma contradição vergonhosa dos princípios básicos deste país, Dis­criminação racial, imposta e impingida pela lei, é uma infração tão ruidosamente indesculpável dos direitos individuais, que os es­tatutos racistas do Sul deveriam ter sido declarados inconstitucio­nais há muito tempo. 
A alegação dos racistas sulistas dos "direitos dos estados" é, em termos, uma contradição: não pode haver algo como "direi­tos" de alguns homens de violar os de outros. O conceito constitu­cional de "direitos dos estados" pertence à divisão do poder entre as autoridades nacional e locais e serve para proteger os estados do governo federal; não concede ao estadual um poder arbitrário e ilimitado sobre seus cidadãos, ou o privilégio de anular os direitos individuais destes. 
Foi verdade que o governo federal usou a questão racial pa­ra estender seu próprio poder e estabelecer um precedente de abu­so sobre os direitos legítimos dos estados, de uma maneira incons­titucional e desnecessária, Mas isto simplesmente significa que am­bos os governos estão errados; não é desculpa para a política dos racistas do Sul. 
Uma das piores contradições, neste contexto, é a posição de muitos ? chamados ? "conservadores" (não confinados exclusi­vamente ao Sul;) que afirmam ser defensores da liberdade, do ca­pitalismo, dos direitos de propriedade, da Constituição, ainda que ao mesmo tempo defendam o racismo. Eles não parecem possuir interesse suficiente nos princípios para perceber que estão puxan­do o tapete sob seus próprios pés. Os homens que negam os direi­tos individuais não podem afirmar, defender ou sustentar direitos, quaisquer que sejam. São estes supostos campeões do capitalismo que estão ajudando a desacreditá-lo e a destruí-lo. 
Os "liberais" são culpados pela mesma contradição, mas de forma diferente. Defendem o sacrifício de todos os direitos indivi­duais a uma norma de maioria ilimitada ? ainda que posem co­mo defensores dos direitos das minorias. Mas a menor minoria da Terra é o indivíduo. Os que negam os direitos individuais não podem conclamar-se defensores de minorias. 
Este acúmulo de contradições, pragmatismo míope, desprezo cínico por princípios, irracionalidade ultrajante, alcançou agora seu clímax, nas novas exigências dos lideres negros. 
Ao invés de lutar contra a discriminação racial, estão exigin­do que ela seja legalizada e imposta. Ao invés de lutar contra o racismo, estão exigindo o estabelecimento de cotas raciais. Ao in­vés de lutar pelo "daltonismo" nas questões econômicas e sociais, estão proclamando que ele é nocivo, e que se deve tornar a "cor" uma consideração fundamental. Ao invés de lutar pôr direitos iguais, estão exigindo privilégios especiais de raça. 
Estão exigindo que cotas raciais sejam estabelecidas com res­peito a empregos, e que estes sejam distribuídos em bases raciais, proporcionalmente à porcentagem de uma suposta raça na popula­ção local. Por exemplo, já que os negros constituem 25 por cento da população da cidade de Nova Iorque, eles exigem 25 por cen­to dos empregos em determinado estabelecimento. 
As cotas raciais têm sido um dos piores males do regime racis­ta. Elas existiam nas universidades da Rússia czarista, na população das principais cidades da Rússia, etc, Urna das acusações con­tra os racistas neste país é que algumas escolas praticam um siste­ma secreto de cotas raciais. Foi considerada uma vitória para a justiça o fato dos questionários para empregos pararem de pergun­tar sobre a raça e a religião dos candidatos. 
Atualmente, não é um opressor, mas um grupo minoritário oprimido, que está exigindo o estabelecimento de cotas raciais. (!) 
Esta exigência específica foi demais, até mesmo para os "libe­rais", Muitos deles a denunciaram ? apropriadamente ? com chocada indignação. 
Escreveu o The New York Times (23 de julho de 1963): "Os manifestantes estão seguindo um princípio verdadeiramente vicio­so ao fazerem o 'jogo dos números'. Uma exigência de que 25 por cento (ou qualquer outra porcentagem) de empregos sejam da­dos aos negros (ou a qualquer outro grupo) é errada por uma ra­zão básica: requer um 'sistema de cotas', que é em si mesmo dis­criminador... Este jornal lutou por muito tempo contra uma cota religiosa com relação aos juízes; nós igualmente nos opomos à co­ta racial com respeito a empregos, dos mais nobres aos mais hu­mildes." 
Como se o racismo óbvio desta exigência não fosse o suficien­te, alguns líderes negros foram ainda mais longe. Whitney M. Young Jr., diretor executivo da Liga Urbana Nacional, fez a seguin­te declaração (N. Y. Times, 1° de agosto): "A liderança branca deve ser honesta o suficiente para afirmar que, através de toda a nossa história, existiu uma classe privilegiada, especial, de cida­dãos, que recebeu tratamento preferencial. Esta classe foi a bran­ca. Agora, estamos dizendo: se dois homens, um negro e um bran­co, são igualmente qualificados para um emprego, contrate o negro." 
Considere as implicações desta declaração. Não exige simples­mente privilégios especiais com pretextos raciais ? exige que os homens brancos sejam penalizados pelos pecados de seus ances­trais. Exige que um trabalhador branco seja recusado num empre­go porque seu avô pode ter feito discriminação racial. Mas talvez seu avô não tenha feito. Ou talvez seu avô não tenha nem mes­mo morado neste país. Já que estas questões não são consideradas, significa que este trabalhador branco deve ser cobrado por uma culpa racial coletiva, a culpa consistindo simplesmente na cor de sua pele. 
Mas esse é o principio do pior racista do Sul, que cobra de todos os negros a culpa racial coletiva de qualquer crime cometi­do por um indivíduo negro, e que trata a todos como inferiores, pelo motivo de que seus ancestrais eram selvagens. 
O único comentário que se pode fazer sobre exigências deste tipo é: "Com que direito? ? por qual código? ? por qual critério?" 
Essa política absurdamente nociva está destruindo a base mo­ral da luta dos negros. O caso destes repousa no princípio dos di­reitos individuais. Se exigem a violação dos direitos dos outros, negam e confiscam os seus próprios. Então a mesma resposta apli­ca-se a eles, assim como aos racistas do Sul: não pode haver algo como "direito" de alguns homens de violarem os dos outros. 
Contudo, toda a política dos líderes negros está, agora, mo­vendo-se nesta direção. Por exemplo, a exigência por cotas raciais nas escolas, com o propósito de que centenas de crianças, brancas e negras, sejam forçadas a ir à escola em bairros distantes ? com o propósito de "equilíbrio racial". Isto é, novamente, puro racis­mo. Como oponentes desta exigência salientaram, designar crian­ças para determinadas escolas por motivo de raça é igualmente no­civo, se feito com propósito de segregação ou integração. E a me­ra ideia de usar crianças como fantoches num jogo político deve ultrajar seus pais, de qualquer raça, credo ou cor. 
O projeto de lei de "direitos civis", atualmente sob a conside­ração do Congresso, é outro exemplo de uma infração gritante aos direitos individuais. E correto proibir toda discriminação nas instalações e nos estabelecimentos governamentais: este não possui direito de discriminar qualquer cidadão. E, pelo mesmo princípio, não possui direito de discriminar alguns cidadãos, à custa de ou­tros. Não possui o direito de violar o direito à propriedade priva­da, proibindo a discriminação em estabelecimentos pertencentes à iniciativa privada. 
Nenhum homem, negro ou branco, possui qualquer direito à propriedade de outro. Os direitos de um homem não são violados pela recusa de um cidadão a tratar com ele. O racismo é uma dou­trina nociva, irracional e moralmente desprezível ? mas doutrinas não podem ser proibidas ou prescritas por lei. Assim como precisa­mos proteger a liberdade de discurso de um comunista, apesar de suas doutrinas serem nocivas, temos de proteger o direito de um racista ao uso e emprego de sua própria propriedade. O racismo privado não é uma questão legal, mas moral ? e pode ser comba­tido apenas por meios privados, corno boicote econômico ou ostracismo social. 
É desnecessário dizer que, se este projeto de lei dos "direi­tos civis" for aprovado, será a pior transgressão aos direitos de propriedade no registro lamentável da história americana a respei­to deste assunto. 
É uma demonstração irônica da insanidade filosófica e da ten­dência consequentemente suicida de nossa era, o fato dos homens que precisam mais urgentemente da proteção dos direitos indivi­duais ? os negros ? estarem agora na vanguarda da destruição destes direitos. 
Urna palavra de advertência: não se tornem vítimas dos mesmos racistas, sucumbindo ao racismo; não sustentem, contra todos os negros, a irracionalidade vergonhosa de alguns de seus lideres. Nenhum grupo possui qualquer liderança intelectual adequa­da ou qualquer representação conveniente, na atualidade. 
Para concluir, devo citar o editorial assombroso de 4 de agos­to do The N, 1', Times ? assombroso porque ideias desta natureza não são típicas de nossa época: "Porém a pergunta não deve ser se um grupo identificável em cor, características ou cultura possui seus direitos como grupo. Não, a pergunta é se qualquer indivíduo americano, independentemente de cor, características ou cultura, é privado de seus direitos como americano. Se o indivíduo possui todos os direitos e privilégios pertencentes a ele sob a lei e a Constituição, não precisamos nos preocupar com grupos e massas ? estes, de fato, não existem, exceto como figuras de linguagem."
Fonte:http://www.libertarianismo.org/joomla/index.php/academia/objetivismonovo/1012-racismo