Filosofia Circular

segunda-feira, 13 de maio de 2013

NIETZSCHE E ZARATUSTRA





Nietzsche, no auge de sua solidão resolve escrever ironizando a religião, suas regras, seus dogmas, mas ele não somente critica o sistema religioso, como a crença, a própria fé com o argumento de que aquela infantiliza e torna o homem servil. Seu tom crítico e ácido afastou as pessoas de si, não havendo quem quisesse publicar seu livro que foi escrito durante o período de um ano. Em 1885 ele terminou os escritos e pagou do seu próprio bolso para publicar uma tiragem de quarenta livros. Os críticos insinuam que Nietzsche se viu solitário porque suas idéias eram adiante do seu tempo. Fico meditando se seria realmente esse o motivo. 

Ora, o grande objetivo de Nietzsche na maioria dos seus escritos era eliminar a ideia de Deus da humanidade. Matar Deus, assassinar Deus, segundo suas próprias palavras. Ironiza no seu livro palavras do sábio Salomão, sobre sabedoria, conhecimento, tudo ser em vão. De alguma maneira, ele nos convoca a derrubar todas as tábuas de regras antigas e um novo procedimento e maneira de pensar deve ser estabelecido. Chama Deus de verdugo, ciumento, misterioso, egoísta.

 Pergunto-me se Nietzsche tivesse usado da mesma sabedoria e harmonia que John Lennon, ex  Beatle,  com a música Imagine, com a melodia é belíssima, mas cuja letra sutilmente sugere a mesma coisa que o "louco e solitário” filósofo, se ele não teria sido mais ouvido, em sua época. De certo modo, Nietzsche seria  e é ouvido hoje ao se reportar à religião como um conjunto de homens que se arvoraram o direito de saber o que é bem e mal para o homem. (p.153) Para ele, só o criador, e veja bem, o criador com letra minúscula, o próprio homem, deveria criar o bem e o mal de todas as coisas. Por isso, Zaratustra ordena ao homem que derrube "as suas antigas cátedras, e onde quer que exista essa estranha presunção, mandei-os rir dos seus grandes mestres de virtude, dos seus santos, dos seus poetas e dos seus salvadores do mundo.” (p.153).

Nietzsche estaria inaugurando o Humanismo, onde o Homem é o centro de tudo quando apregoa o Super-Homem? O Homem sendo o criador de si mesmo, de suas regras, de seus valores? Sem a intermediação da religião? Nietzsche apregoa uma liberdade de pensamento. Contudo, que liberdade ele teria? Será que muito do que escreveu nesse livro não estava em delírio? Os teóricos, filósofos, e críticos literários  tentam em vão decifrar cada parágrafo de Assim Falou Zaratustra, ou os outros escritos. Alguns levaram dez dias somente para ser escritos. À primeira vista, os escritos parecem ser palavras jogadas ao ermo por uma mente perturbada e embaralhada. Quanta confusão, quanta revolta, quanta solidão, quanta tristeza, e pasmem, quanto julgamento de valores.

Entendo que ele viveu em uma época onde a religião oprimia, pergunto-me se hoje não vivemos o mesmo tipo de religião... No livro Piedade Pervertida, (2006) Ricardo Gouvêa denuncia o fundamentalismo que rotula de hereges presos que não pensem dentro dos seus dogmas e sistema. Talvez uma espécie de Nietzsche crédulo em Deus. As revoltas do filósofo encontram eco no sistema de sua época. Contudo, não se sabe se ele realmente não tolerava a idéia de Deus porque a religião vigente passava uma idéia deformada desse Deus? Ou ele realmente se revoltara contra Deus, ponto final. Nietzsche contradiz alguns princípios tidos cristãos, tais como bondade, generosidade, humildade, compaixão, e em certo sentido ele na pessoa de Zaratustra apregoa o contrário. Odiar mesmo os inimigos (soa bom), ser forte mesmo, revidar, não perdoar. Interessante, os que se denominam cristãos não já fazem isso mesmo? Leem que devem amar, perdoar, ter compaixão, mas fazem o contrário? Cito Ricardo Gouvêa: 

"Os fundamentalistas, no entanto, são capazes de perseguir, ostracizar, difamar e "fritar" as pessoas em nome de sua suposta pureza doutrinária que nada mais é que uma forma de idolatria. Coam um mosquito e engolem um camelo. " (p.45)

Quando Gouvêa (2006) denuncia o sistema dogmático, legalista das igrejas, não estaria ele também, de uma maneira mais racional e dócil corroborando com Zaratustra? 

"O legalismo pentecostal em que o evangelho da graça soçobra num emaranhado de regras de conduta. Legalismo que tem levado os membros das igrejas pentecostais aos manicômios e os pastores pentecostais ao suicídio. O legalismo, esse cartesianismo da piedade, que pensa poder construir um povo genuinamente cristão por meio de imposições e controle dos costumes. (...) O sensorialismo, muitos pentecostais que se desviaram da genuína intimidade com Deus que se dá por meio da união mística com Cristo, da percepção da transcendência e da imanência divinas e do engajamento na missão de Deus no mundo, e partiram para a busca louca de experiências sensórias que lhes dêem garantias da presença e da ação de Deus. O sensorialismo, essa mula-sem-cabeça da espiritualidade cristã contemporânea, tem como graves conseqüências o abrir as portas para o mais descarado charlatanismo, o levar muitas comunidades ao caos das manifestações sobrenaturais, e finalmente à ridicularização da ação miraculosa de Deus entre os homens, transformando tantas igrejas em tendas de milagres similares às dos cultos africanos, fazendo um pasquim dos grandes milagres de Deus na História tornando-os tão comuns e naturais como um show de televisão que se repete a cada semana, tornando os milagres de Jesus comuns e naturais, vulgares como um comentário passageiro numa conversa fortuita.” (p.57)

Denúncias, denúncias, denúncias. Fala-se sempre em última análise, e resumindo: precisamos amar. O que significa amar no nosso linguajar moderno?

Segundo Gouvêa:

 "amor significa solidariedadesolidariedadeininterrupta." (p.58)

A isso, Nietzsche se opõe, mas será que a oposição dele à ajuda ao próximo e à  compaixão não seria um sarcasmo? Por saber que realmente o sujeito religioso prega algo que nem sabe e nem consegue praticar?

Deixo a vocês os questionamentos e a busca pelas respostas...

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